Capítulo 39

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ELA

Pode não parece difícil escolher, mas cada escolha que fazemos sempre requer muitos cuidados. Claro que em meio a uma guerra é difícil fazer qualquer escolha. As consequências de uma decisão errada são as piores possíveis. Os castigos normalmente são impiedosos e sem perdão. Então como fazer a escolha certa? Como escolher o que é melhor para todos? Como escolher, sem que mais tarde alguém tenha que pagar pelos seus erros?

Já faz sete anos que eles se foram, e desde então continuo lutando, mas nunca em nenhuma das batalhas que eu enfrentei tive plena certeza se o que eu estava fazendo realmente era o certo. Tenho consciência de que tudo que eu fiz, bom ou ruim, não foi somente por mim, mas sim por todos esses que não podem lutar nessa guerra.

- Então, você aceita ser a minha conselheira pessoal? Ele me questiona.

Não sei muito bem o que ele pretende me promovendo a conselheira pessoal dele, mas esse cargo me dá plenos poderes. Vou poder sempre estar ao seu lado e saber de tudo que vem acontecendo. E vou ter a oportunidade mais que perfeita para começar as minhas investigações sobre tudo o que aconteceu, sobre o que o Oliveira me disse e principalmente sobre o que ainda pode acontecer.

- Não sei... Titubeio. - Porque eu?

Ele parece não entender a minha pergunta e franze a testa. A duvida está nos seus olhos.

- Porque está mais que claro para mim, que você é a mais indicada para tal. Ele responde simplesmente. - Eu estava em duvida, mas depois dessa reunião... Tive certeza da minha decisão. Então, você aceita?

É claro que devo aceitar, mas começo a ficar confusa. Por um lado seria ótimo ser a nova conselheira de confiança dele, entretanto lembro que isso me afastaria ainda mais desse resgate de Pedro. Começo a perceber que mais uma vez vou ter que decidir. Se eu escolher ser a conselheira, vou ter que esquecer de vez esse resgate e ficar aqui. E se eu não aceitar, terei que dizer adeus a tudo isso aqui, ao comandante Lee, a investigação e ao ultimo pedido de Oliveira. E novamente não sei o que fazer.

- Eu... Dou um longo suspiro. - Preciso pensar.
Minha resposta parece decepciona-lo.

- Tudo bem. Ele assente visivelmente decepcionado. - Depois dessa missão, quero a sua resposta. Infelizmente não podemos perder tempo, temos que construir uma liderança unida e popular, para que assim que o sudeste e o centro-oeste forem nossos, as pessoas estejam confiantes na nossa liderança.

Ouvindo-o falar dessa maneira, me pergunto quando ele se tornou esse perito em politica? Em Belém ele acusava o exercito democrático de ser cheio de burocracias, mas agora o vejo agindo politicamente da mesma maneira, sempre procurando um artificio politico para que possamos vencer e nos manter no poder. Isso me assusta profundamente.

- Eu entendo. Digo. - Mas ainda estou no comando da missão, não é?

Ele muda rapidamente a sua expressão decepcionada e se anima.

- Sim claro! Ele diz. - É completamente sua. Ficou bastante claro nessa reunião o quanto você é capacitada para isso.

Sorrio um pouco sem graça.

- Obrigada. Agradeço.

Ele novamente muda a sua expressão.

- Quero relatórios periódicos do andamento da missão. Ele diz mais serio. - Já pensou em como pretende executa-la?

É obvio que ainda não pensei em nada e nem faço a mínima ideia de como vou fazer para invadirmos o sudeste e o centro-oeste.

- Acho que ainda é muito cedo. Digo tentando escapar da sua pergunta. - Preciso avaliar muitas coisas ainda antes de traçar qualquer plano, mas não se preocupe garanto que vamos obter sucesso.

Ele sorri agora e assente.

- Tudo bem. Confio plenamente em você. Ele diz.

Ótimo! Primeira parte do plano concluída com êxito. Ele confia em mim e isso já é um passo a mais na direção da busca pela verdade. Tudo está correndo como esperado, o comandante Lee vai ficar animado com essa noticia.

Saio da sala de reunião mais do que confiante, realmente acredito que dessa vez quase tudo possa dar certo. No entanto em relação ao resgate de Pedro as incertezas são constantes na minha cabeça. Antes eu me agarrava ao fato de ele ter salvado a minha vida, por isso eu devia salva-lo também, mas agora mais nada faz sentido para mim. Tudo que eu sei é que eu preciso fazer isso, não só por ele, mas por mim, porque eu quero isso.

A todo o momento planos e mais planos, estratégias e mais estratégias surgem, mas nenhuma ainda é realmente uma saída para esse dilema. Tudo está cada vez mais claro, não dá para serem as duas coisas. Somente uma das missões vai poder realmente acontecer.

Entro no meu alojamento na esperança de que essa amarga solidão me ajude a tomar uma decisão coerente, mas quando entro alguém está fuçando algo em cima da minha cama. Lembro-me que deixei a mochila de Pedro lá.

- Ei... Chamo. - O que você está fazendo?

Ela vira-se. Seus olhos emanam ódio e as sardas em seu rosto, junto com os cabelos ruivos parecem pegar fogo.

- Onde você encontrou isso? Pergunta segurando a mochila.

Olho atônita. Ela parece realmente reconhecer a mochila dele, mas como? É obvio, ela o conhece, ela faz parte da unidade rebelde liberal que veio acompanhando o Pedro, até ele supostamente assassinar a presidente.

- Não te interessa. Esbravejo. - Ela é minha.

- Não. Ela não é sua. Ela diz. - Eu sei muito bem a quem isso pertence.

Começo a me aproximar dela.

- Não faço ideia do que você está imaginando. Digo mais próxima dela. - Mas ela é minha agora.

Ela balança a cabeça negativamente enquanto ainda segura a mochila.

- Está enganada. Ela diz sem me olhar. - Ela não é sua. É minha agora.

Ela se vira e vai andando levando a mochila em sua mão. Corro até ela e seguro em uma alça da mochila, mas sem perder tempo ela me acerta com uma cotovelada no rosto. O golpe é forte suficiente, pois me desequilibro e minha visão chega a escurecer. Recupero meu equilíbrio, sinto algo descer pelo meu nariz e constato que é sangue. Sigo na sua direção e lanço socos seguidos, mas ela é hábil, se desvia de todos facilmente. Surpreendo-a com um chute rápido no seu peito, a fazendo cair para trás. Pego de volta a mochila que está caída ao seu lado e quando me viro, ela pula em minhas costas. Tento me livrar, mas ela tranca o meu pescoço com uma chave de braço e começa a me enforcar. Começo a perder o ar e está ficando cada vez mais difícil respirar. Em mais uma investida, uso a parede a meu favor e me jogo de costas com o máximo de força que eu consigo. Seus braços cedem um pouco e a oportunidade perfeita surge, devolvo aquela cotovelada em seu rosto.

Da mesma forma como aconteceu comigo, o sangue começa a escorrer do seu nariz. Ela se põe de pé e corre em minha direção. Jogo a mochila em cima da cama e me preparo. Nos atracamos bruscamente e caímos no chão. Rolamos enquanto uma tenta socar a outra. Sento em cima do seu tronco e acerto dois socos no seu rosto. O sangue se espalha em meus punhos e pelo seu rosto. Ela lança socos na minha costela e aproveita a minha distração para virar o jogo. Agora estou por baixo enquanto ela tenta me enforcar novamente. Tento alcança-la enquanto isso, mas é inútil. Suas mãos pressionam fortemente o meu pescoço e começo a lentamente perder a consciência, não tenho mais forças para lutar contra ela.

Inesperadamente, antes que eu apague, ela simplesmente para e se joga no chão ao meu lado também exausta. Respiro profundamente e desesperadamente para recuperar o ar. Essa idiota quase me matou e tudo por causa de uma mochila? Mas eu também reconheço que partir para a briga somente por causa dessa bendita mochila. De alguma maneira é como se ela tivesse tirando de mim o ultimo pedaço restante de Pedro. E eu não podia permitir isso.

- Eu só... Quero encontra-lo. Ela diz buscando o ar. - Tenho que... Descobrir a verdade.

Olho surpresa para ela, sem entender nada. Seus olhos que antes eram de raiva e ódio, agora mostram suplica e estão cheios de agua. Como se ela me pedisse desesperadamente que eu a ajude. Uma ideia brilhante me ocorre. Ela está buscando as mesmas coisas que eu, então porque não me unir a ela. Acho que acabei de encontrar a aliada perfeita para essa missão.

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