ELE
Hoje de manhã cedo, Eduardo me pediu que eu o acompanhasse em mais uma tediosa reunião. Aceitei ir somente para manter a aparecia de que ainda quero cooperar com ele, mas confesso que já não sinto a mínima vontade de estar ao seu lado. Sei que ele me usa somente para atrair o apoio dos admiradores do pai.
Sempre que ele chega perto de mim um medo sobe pela minha espinha, e sinto que a qualquer momento ele vai descobrir e mandar me matar pela conspiração que estou tramando. Não sei quando me tornei tão bom em mentir, mas acho que ele continua acreditando mesmo que estou do seu lado, ou deve ser somente pelo fato de que ele precisa da mim, por isso ele talvez não esteja enxergando a verdade.
De certa forma, mesmo que por um bom motivo me sinto completamente culpado por essa situação. Ter que fingir a todo o momento que tudo está bem, enquanto vidas inocentes são sacrificadas é demais para mim. Não vejo a hora de colocar todo esse plano em pratica e acabar com tudo isso de uma vez. Se eu colocar um fim na ditadura, a democracia poderá retornar finalmente.
- Recebemos uma informação do setor de inteligência. Eduardo diz enquanto estamos a caminho da reunião. - Parece que a presidente deles... A sua mãe foi assassinada também.
Meu peito se aperta e uma angustia se forma dentro de mim. Não digo nada, apenas continuo olhando pela janela do carro.
- Estava tentando encontrar um melhor momento para te falar isso. Ele continua. - Sinto muito!
Posso imaginar muito bem o quanto ele sente.
Todas aquelas coisas que ele me disse sobre ela não fizeram nenhum sentindo naquele momento, mas agora eu consigo ver tudo com mais clareza. Consigo ver que o pai realmente, também era mais uma das muitas vitimas dessa guerra. Acho que nunca vou saber ou compreender porque a minha mãe fez tudo aquilo, e isso nem me surpreende mais. Acho que estou começando a me acostumar com as maneiras que a vida encontra para me atropelar.
- Ela nunca foi a minha mãe de verdade. Digo. - Foi somente uma mulher que me trouxe ao mundo. Um homem chamado Francisco Gama, foi o meu pai e a minha mãe de verdade.
Ele assente e começa a sorrir.
- Isso mesmo. Ele concorda. - Seu pai fez muitos sacrifícios. Que bom que agora você está reconhecendo isso. Nunca é tarde demais para se redimir.
Mesmo com ele concordando comigo, não disse essas coisas somente para convencê-lo que estou ao se lado. Eu realmente acredito em todas essas palavras que acabei de dizer. Meu pai sempre foi o meu herói, apesar de que eu nunca o tenha reconhecido como tal. Ela foi apenas uma mulher que fez parte da minha, e me abandonou em nome da sua guerra.
Agora que ele não está mais aqui, e eu devo honra-lo, devo lutar por ele e concluir tudo o que ele não pode. Eu nunca quis me tornar alguém como o meu pai, mas agora tudo que eu quero é orgulha-lo. Eu sei que jamais poderei ser como ele, mas prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para terminar o seu trabalho, eu juro pai.
Antes de chegarmos ao nosso destino, Eduardo me passa todas as instruções de como devo agir diante dos militares. Ou seja, não ser nada além de um fantoche que concorda e faz somente o que ele deseja. Espero continuar sendo esse ator perfeito que estou sendo, pois não sei quanto tempo mais vou aguentar essa situação.
- O que vai acontecer aqui, não é bem uma reunião. Ele diz antes de entrarmos.
Mesmo não entendo o que ele disse, imediatamente começo a sentir medo. Esse sentimento que além da culpa, constantemente me acompanha.
- Como... Assim? Pergunto sem entender.
- Digamos... Que isso seja... Um pequeno show. Ele diz naturalmente. - Uma espécie de aviso, aos desavisados que insistem em nos enfrentar.
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Livres (Em Revisão)
ActionE se a ditadura no Brasil tivesse continuado? O que teria acontecido? Em 2098, a democracia é terminantemente proibida, repudiada e não mais exercida. Qualquer um que for pego exercendo os ideais democráticos é punido com a morte, porem a democ...