Livres (Em Revisão)

Capítulo 35

ELA

Estava tão cansada, que nem mesmo as centenas de perguntas que estão na minha cabeça, foram suficientes para me manter acordada ontem à noite. O dia que se inicia hoje é estranho, mas sei por que ele está assim. É impossível não se lembrar de como eram as manhãs aqui, a bagunça que eu e meus companheiros fazíamos no alojamento. Raspamos as sobrancelhas do Ferreira duas vezes, ele ficou possesso com isso e nos perseguiu pelo alojamento inteiro com uma tesoura para cortar os nossos cabelos. De repente me pego sorrindo de tudo isso, além das roupas deles em seus baús, a única coisa que me restou deles, foram às extraordinárias lembranças, que só morrendo para me esquecer delas. Minha unidade lutou bravamente ao meu lado, me apoiaram quando ninguém me apoiou e seguiram-me sem nunca questionar. Além de pedir perdão, perdão e mais perdão, a única coisa que gostaria de dizer para eles é obrigada amigos.

Pensei na conversa que eu tive ontem com o comande Lee e conclui que ele está totalmente certo. Eu preciso começar por dentro, me infiltrando no meio deles, no entanto tenho que manter afastada do comandante para que assim o novo presidente possa confiar cegamente em mim. Tenho que mostrar para ele que sou de confiança, que ele pode contar comigo para tudo, mas como eu vou fazer isso? Por enquanto não faço idéia, contudo eu tenho que começar imediatamente a executar essa investigação, quanto mais tempo passar, mais difícil vai ser descobrir toda a verdade.

A mochila de Pedro está em cima da cama, o que ainda me leva para a conversa de ontem. Todas as provas apontam unicamente para ele, sempre indicando que ele, e somente ele é o culpado. Dentro dessa mochila eu tenho a chance de descobrir de uma vez por todas se o comandante Lee e todo o resto estão certos sobre ele. Contudo pela primeira vez, eu estou com medo de descobrir a verdade, tenho medo que abrindo essa mochila eu confirme o que todos dizem. Estou tão confusa, tudo realmente indica que ele é o culpado, mas por mais que queira eu não consigo acreditar nisso. Continuo dando a ele, o benefício da dúvida, afinal de contas quem sou eu para julga-lo culpado ou não?

Sem pensar direito, pego a mochila, abro ela e jogo tudo que estava dentro na cama. Lanterna, garrafas de agua, mudas de roupas. Embaixo de tudo isso, uma pequena e velha foto amassada se destaca. Na imagem uma jovem e familiar mulher sorri timidamente, ao que tudo indica quem tirou a foto pegou ela de surpresa. Não estou entendendo, ele disse que aqui havia uma prova que iria inocenta-lo, mas nada disso faz sentindo para mim. Fico horas olhando para aquela imagem tentando entender alguma coisa, talvez por isso eu devesse esperar até que ele voltasse para me explicar o que havia acontecido, no entanto também penso que ele podia estar mentindo quando falava da tal prova. A cada momento fica mais difícil de entender tudo, de acreditar em algo, de saber quem está falando a verdade ou quem está mentindo. De repente algo me ocorre, essa mulher na foto, não é estranha para mim. Ao lado da minha cama, na gaveta da mesa, procuro uma coisa que pode finamente me dar uma ligação, ou pelo menos uma explicação, então encontro. É uma foto da presidente Maria.

Comparo as duas imagens e finalmente concluo, sem dúvidas é ela nas imagens. Ainda assim, não há nada que ligue essa foto com o fato de ele se dizer inocente. Viro a foto que encontrei na mochila dele e atrás algo está escrito:

"Você não vai entender muitas coisas na sua vida, mas acredite isso não acontece só com você. A vida é assim para todos. A única coisa que eu quero que você saiba é que eu te amo muito e nunca eu deixarei de te amar."

Se não estava fazendo sentido antes, agora mesmo é que não está, mas de uma coisa eu tenho certeza. Ele tem uma ligação com ela, e não é uma ligação do tipo assassino e vítima, é algo, além disso. Tenho que busca-lo, somente ele para explicar, o que tudo isso quer dizer. Mesmo não entendendo muita coisa, agora eu já tenho quase certeza de ele não é o culpado.