Em Revisão - Pausado

48 15 45
                                    

Maria. Esse era o nome dela. Eu posso não lembrar do seu rosto, ou dos pequenos e curtos momentos que tivemos juntos, mas o seu nome ainda permanece na minha cabeça. Acho que isso eu jamais poderia esquecer, não porque ela permanece nas minhas memorias, mas sim porque a carrego comigo no meu coração.

Finalmente chegamos à base militar do exército democrático. Tiro da mochila o chapéu e coloco na cabeça. Aqui tenho muito mais chances de ser reconhecido e preciso tomar o dobro de cuidado, contudo acho que o meu disfarce tem funcionando bem até agora.

Pegamos uma trilha em meio à vegetação um pouco densa. Quando os soldados e José simplesmente seguem para um paredão de rocha e simplesmente entram nele o atravessando. Cristiane segue fazendo o mesmo e some no paredão. Fico parado sem entender nada, até que ela volta e me lança um olhar de duvida. Crio coragem e vou na direção dela, ela me estende a mão e eu a seguro. Quando atravesso a camuflagem sinto como se um fraca corrente de ar frio percorresse todo o meu corpo. Do outro lado consigo finalmente ver o hangar onde as aeronaves que sobrevoaram sobre nós entraram. Próximo ao hangar enterrada nas rochas uma pequena porta de metal, se esconde em meio à vegetação.

Quando nos aproximamos da porta, o que deveria ser uma árvore lança um feixe de luz vermelha na nossa direção. O medo é tanto a essa altura, que tomo um susto e me jogo no chão. Só percebo o ridículo que estou passando, quando todos já gargalharam infinitamente do meu ato.

- O que foi? Pensei que fosse alguma droga de arma. - falo me limpando após levantar.

Cristiane gargalha incessantemente. José também está rindo e se põe em frente à luz.

- General José Gabriel de Oliveira. Líder desta unidade de visita e um dos lideres do exército liberal. - ele diz olhando diretamente para a origem do feixe de luz.

A luz pisca algumas vezes e logo a luz vermelha muda para a cor verde. A porta começa a ranger se abrindo. Seguimos direto por um corredor longo e estreito. Setas amarelas nas paredes indicam o caminho que devemos seguir e a única coisa que nos acompanha no caminho, são os grossos cabos de energia no teto.

- Fica tranquilo, não precisa mais ter medo aqui. - ela diz tocando meu ombro.

- E quem disse que estou com medo? - brinco.

- É serio. Estamos protegidos. - ela diz.

E isso deveria me tranquilizar mesmo? Entendo que o exército democrático luta muito para conseguir alcançar alguma paz, mas enquanto aqui eles têm essa segurança, as pessoas que estão lá fora jamais vão estar seguras. Isso não quer dizer que eles são o lado errado dessa guerra, mas também não estão totalmente corretos.

Finalmente estamos próximos do final do corredor, onde dois soldados guardam as portas. Imagino se nós fossemos atacados e precisássemos fugir rápido? Acho que eu morreria no meio do caminho e nem chegaria perto do fim desse corredor. Só espero que atrás daquela outra porta, não tenha outro corredor infinito.

- Por favor, o dedo indicador. - um dos soldados diz para José.

- Isso é mesmo necessário soldado? - ele pergunta levantando as sobrancelhas.

O soldado nem responde, mas continua com a mão estendida, esperando. José entrega sua mão direita ao soldado, que a pega sem nenhuma delicadeza. Espeta a ponta do dedo indicador e espreme uma gota de sangue. A luz azulada emitida pelo pequeno aparelho branco analisa a gota de sangue e logo uma voz eletrônica que vem do leitor diz:

- DEMOCRÁTICO!

Meu coração para e um frio sobe pela espinha. Isso é um leitor sanguíneo? Droga! Eles vão descobrir que eu não tenho a democracia no sangue, que eu não sou um democrático. E consequentemente Cristiane vai saber que eu nunca fugir de São Paulo. Não pelos motivos que contei para ela. O que eu faço agora?

Livres (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora