- Qual a localização do ponto de transferência dos prisioneiros? - o homem negro pergunta impaciente.
- Eles vão ser transferidos da antiga estação das docas, mas ainda não sabemos se vai ser por via aérea ou fluvial. - respondo.
Vamos seguir caminhando até o alvo da missão, não podemos usar nenhum veículo para não chamar muita atenção. Enquanto caminhamos peço algumas dicas sobre as armas que eles nos emprestaram. Elas são um pouco mais antigas que as nossas armas, na verdade elas são quase jurássicas se comparadas com as nossas. E como o pulso eletromagnético queimou os circuitos de funcionamento das nossas, tivemos que pegar umas emprestadas.
- Relaxa! É basicamente o mesmo esquema das suas armas. - ele explica.
Giro a arma em minhas mãos, analisando ela de cabo a rabo. Ele me deu uma metralhadora e duas pistolas.
- Só tem que tomar cuidado porque elas travam de vez em quando. - ele diz com um sorriso cínico.
Olho para ele, sem entender porque ele disse isso de maneira tão calma?
- Você está falando sério? - questiono.
- Estou. - ele responde despreocupado.
- Muito obrigada! Estou me sentindo bem melhor agora. - digo.
- É só de vez em quando. - ele diz e segue para a frente da multidão.
Continuamos seguindo para a prisão e enquanto caminho reparo no homem negro que caminha a minha frente. Ele parece como muito homens que conheço: é duro, imponente e nada disposto a desistir, mas algo nele chama ainda mais a minha atenção. A maneira como ele lidera essas pessoas, muitos são apenas jovens que ainda nem completaram seus vinte anos. O general Lee uma vez me disse: que o que faz um bom líder, são os soldados que acompanham ele. E olhando para esses garotos e garotas, homens e mulheres vejo como são empenhados e como ainda não perderam as suas esperanças. E apesar do nítido cansaço que estão sentindo estão dispostos para mais uma batalha, sem questionar, se recusar ou duvidar. Eles apenas continuam lutando.
- Porque seus lideres não querem uma aliança com o exercito democrático? Estamos lutando pela causa, não é? - pergunto me aproximando do homem.
O homem caminha segurando uma arma em suas mãos e só agora noto que o braço esquerdo dele está sangrando.
- Podemos até lutar pela mesma causa, mas quem garante que quando tudo isso terminar, nós ainda não vamos continuar sendo escravos? - ele responde.
- De quem? Dos democráticos? - pergunto novamente sem entender.
Ele ri e balança a cabeça negativamente.
- Não exatamente. Falo do sistema. - ele diz.
No primeiro momento não consigo compreender completamente o que ele disse, mas logo o entendo. Em meio a tudo isso que estão passando e pelo que já passaram, é difícil acreditar na propaganda do exército democrático, na verdade é difícil acreditar em qualquer propaganda. Por isso eu os entendo. Eles confiam somente em si mesmos, mas acho que eu e esse homem compartilhamos a mesma visão de ambas as partes conflitantes. Não existe lado certo ou errado, apenas lados que querem ganhar. Lados que fazem de tudo, menos ouvir o povo e lutar por ele.
- Você não concorda? - ele pergunta novamente.
Nem sei o que responder, mas na verdade por mais que ninguém seja confiável, ainda assim precisamos escolher um lado. Não importa se ele seja certo ou errado, precisamos lutar pelo o que acreditamos e é exatamente isso que estou fazendo aqui, lutando pelo que acredito.
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Livres (Em Revisão)
AkcjaE se a ditadura no Brasil tivesse continuado? O que teria acontecido? Em 2098, a democracia é terminantemente proibida, repudiada e não mais exercida. Qualquer um que for pego exercendo os ideais democráticos é punido com a morte, porem a democ...