Capítulo 31

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Preparem-se psicologicamente (pediram-me para avisar).

1 mês depois

André

Mais um risco nesta rocha que nos tem sido útil para contar há quantos dias estamos presos nesta ilha, longe de tudo e longe de onde devíamos estar. Longe das nossas famílias, longe de quem nos ama e de quem amamos. Já passaram cinco meses e todos devem pensar que morremos e que os nossos corpos descansam algures no fundo do Oceano Atlântico. Mas não. Não descansam, nem vão descansar até arranjar-mos maneira de sair desta situação. Provavelmente pensam que nos perderam para sempre para a morte mas eles não sabem que quem os perdeu fomos nós. A dor da morte é terrível, mas ultrapassável. Afinal, eles pensam que acabou, que a nossa história vai ficar marcada por um trágico acidente que provavelmente emocionou o mundo. Eles podem seguir em frente, podem ultrapassar a perda porque julgam que é real. Mesmo magoando, não há volta a dar, nem nada que possam fazer para nos recuperar e imagino que custe imenso. Mas e nós? Nós sabemos que estamos vivos, que estamos a respirar e que estamos a sofrer. Sabemos que sofremos e que eles sofrem e talvez essa seja a pior dor. Saber que quem amamos sofre por nos amar é o que custa. Saber que as nossas famílias perderam todas as esperanças de voltar a ter-nos é definitivamente o que mais destrói. Sabem aquela máxima do "Não sei o que doi mais: ter o coração partido ou partir um coração"? É isso que sinto. A Matilde, o Afonso e toda a minha família têm provavelmente o coração em pedacinhos que nada pode voltar a unir e eu estou aqui. Sei o que se passa, sei que lhes parti o coração, mas também sei que não vou poder abraçá-los e dizer que vai ficar tudo bem, que eu vou estar lá para os proteger. E isso destrói-me. O avião avariou, sim, mas conseguimos aterrar nesta ilha, mas para eles, fomos engolidos pelo mar e pelo que ele tem de mais profundo.

-Então, puto? Ânimo. Nós vamos sair daqui- diz Cristiano sentando-se à minha beira na fina areia que tem sido a nossa casa, mas não o nosso lar.

-Como é que consegues ser tão positivo, Cris? Como é que podes ter tanta certeza?

-Simplesmente tenho. As coisas más não podem durar para sempre e nós vamos safar-nos, André. Acredita em mim- diz convicto tantando convencer-me ou talvez convencer-se a si próprio.

-Eu estou aqui a morrer todos os dias por saber que a minha noiva provavelmente já teve o nosso filho e que eu não estive lá para a apoiar e para ver o meu próprio filho a nascer. Provavelmente ela está lá a sofrer, a cuidar de um bebé sozinha, quando eu devia estar lá para tratar de ambos. Eu nem o nome dele sei. Como é que queres que eu acredite que vamos voltar para eles?

-Tens que acreditar por eles e por ti. Achas que também é fácil para mim? Eu deixei os meus quatro filhos em terra e acredito que os vou voltar a ver. Todos nós deixámos lá uma parte de nós. Filhos, mulheres, namoradas, pais e mesmo assim não desistimos. Vamos lá, André. Tu és um lutador, não vais desistir agora. Cabeça levantada e vamos à luta. Todos juntos. Tu vais voltar para a tua noiva, para o teu filho, para a tua família. Vamos todos. Isto é apenas a vida a dar-nos mais uma prova de que amar não e fácil, mas vale a pena. Vamos sair mais fortes desta ilha do que quando entrámos naquele avião. Apenas acredita- diz e abraça-me fortemente, dando-me todas as certezas de que vou voltar ao que o meu coração reconhece ser o seu lar. De repente ouve-se o som de um helicóptero o que nos faz largar-nos e começar a gritar e a chamar o piloto que não nos vê, até que o nosso capitão pega na pistola que manda sinalizadores, indicando que estamos aqui, a lutar para sair desta ilha e voltar para os braços do amor.

Matilde

Mais um mês se passou sem o André. Mais um mês sem ver a luz dos meus dias. Tenho que admitir que o nascimento do meu filho me faz ser a mulher mais grata deste mundo. Ser mãe do pequeno André tem-me feito tão bem como só o pai dele conseguia.Todas as vezes que olho para a cara do grande amor da minha vida, consigo ver todas as feições do único homem que verdadeiramente amei durante a minha existência e isso faz-me bem. Faz-me perceber que não perdi o André e que ele vive dentro do meu filho e dentro do meu coração. Não podia amar mais o pequeno André. Ele salvou-me e deu-me um novo ânimo, uma nova esperança. Esperança num futuro risonho e cheio de amor, que assim como jurei ao meu noivo, juro ao meu filho, independentemente de tudo o que nos apareça pela frente. Durante este mês  o Afonso tem sido como um pai para o André e não lhe podia ser mais grata. Eu sei que ele também está a sofrer com a morte do André, porém acho que ele é mais capaz de esconder os seus sentimentos. Ele sempre foi assim e acho que agora ficou pior. Por falar nele, acho que o meu querido cunhado decidiu fazer panquecas para o nosso lanche. Só espero que não me queime a cozinha.
Estou a trocar a fralda ao André quando ouço a campaínha a tocar. Mas quem será a esta hora?
-Vai abrir Afonso. Agora não posso- grito do quarto de forma a ele me ouvir.
-Já vou- diz e ouço a porta a abrir e um silêncio insurdecedor instala-se por toda a casa.
-Quem é?- grito mais uma vez mas não obtenho resposta. Decido acabar de vestir o André e pego nele, caminhando, então na direção da porta. Quando lá chego sinto que todo o ar dos meus pulmões desaparece. Não consigo perceber se estou a alucinar ou se o que vejo é real. Como é que é possível? Parece que o mundo nos está a dar um milhão de opurtunidades.
-André?- lágrimas começam a correr pelo meu rosto e tanto André como Afonso dirigem o olhar para mim.
-Matilde, meu amor- diz o amor da minha vida vindo até mim e abraçando-me juntamente com o André, beijando-me de seguida. As saudades que eu tinha dos lábios e dos braços  dele. As saudades que eu já tinha dele.
-És mesmo tu? Estás mesmo aqui?- pergunto incrédula passando a minha mão por toda a sua cara.
-Estou, Matilde. Estou e desta vez nada nos vai separar- diz dando-me um enorme sorriso que automaticamente me faz sorrir- É ele, não é?- pergunta apontando para o nosso filho e eu faço que sim com a cabeça- Como é que ele se chama?
-André- digo sorrindo e chorando ao mesmo tempo, fruto do misto de emoções que estou a sentir, fazendo André chorar também.
-Olá, pequenino. Sou eu o teu papá- diz brincando com o pequeno André que lhe sorri automaticamente- Eu tive tantas saudades vossas, meus amores.
-Nós também tivemos imensas saudades tuas. Pensei que nunca mais te ía ver.
-Não se livram de mim assim tão facilmente- diz por fim abraçando-me a mim, ao Afonso e ao pequeno André.

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Olá. Não me matem, mas tinha que vos fazer sofrer um bocadinho antes do grande final. O próximo capítulo é o último. Muito, muito obrigada por todas as leituras, votos e comentários, não sabem o quanto isso significa para mim. Muito obrigada.

Memories- André Silva (2ª temporada de Oops...I love you)Onde histórias criam vida. Descubra agora