XXXIV

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"Como poderei me despedir de alguém tão querido,

se nem ao menos sei me despedir?"

Desde de que engravidará, Felicity nunca teve aquele instinto materno que tanto falavam, ela amava seu filho mais do que tudo no mundo, mas ainda faltava alguma coisa, como um momento em que ela abrisse os olhos e finalmente percebesse, e este momento havia chegado mais rápido do que ela imaginava.

Tommy estava sentado no chão perto do córtex perdido em seus próprios pensamentos, ela se aproximou cuidadosamente, se sentou ao seu lado e apertou sua mão com carinho.

—Você não está bem. - ela falou.

—Está tão na cara assim? – ele indagou deitando a cabeça sobre o ombro dela.

—Ah Tommy, você é igual ao Oliver, até suas expressões são iguais e eu o conheço com a palma da minha mão. – sussurrou, um rastro de um sorriso passou pelo rosto dele, mas desapareceu tão rápido quanto chegou, Felicity suspirou.

—Eu não devia ter levado ela a aquela festa, é tudo culpa minha.

—Não, não é. Não temos controle sobre nada, muito menos sobre a vida, todos nós erramos, mas isso não é motivo para seu sentir culpado. - ela assegurou, tentando eliminar qualquer dúvida que ainda pairava sobre a cabeça do garoto. - Emma ficará bem, ela é forte.

—É, ela é. Me lembro de uma vez em que fomos para a casa de campo da vovó Donna, Ally havia convidado ela, as duas sempre foram muito unidas, inseparáveis. Havia uma casa abandonada no meio da mata e eu apostei com Robbie que ele não iria até lá, ele sempre foi meio medroso nesses casos e Emma sempre foi sua defensora, ela tomou suas dores e entrou na casa. - ele riu. - Ela foi corajosa, sempre foi.

—Emma é tão forte quanto os pais. Ela ficará bem.

Eles ficaram em silêncio. Todos temos demônios interiores, todos temos nossos próprios medos, a sensação de perder alguém que amamos, o medo do quase acontecer. Em nossas cabeças pensamos em tudo, mas focamos no E se...

E se ela não tivesse ido? E se eu não a tivesse forçado? E se eu tivesse descoberto antes? E se eu não tivesse me aproximado? E se eu não tivesse deixado-a ir? E se tudo fosse diferente? E se eu tivesse voltado antes? E se...? E se mesmo que tentássemos corrigir tudo, a dor seria menor? A saudade diminuiria? A falta daquela pessoa seria mesma?

Todos estavam quebrados, de uma maneira ou de outra. Mas a pior parte de tudo era não saber como seu consertar.

~***~

—Eu vou morrer. - Emma falou com sua voz fraca, a dra. Legend maneou a cabeça em negação.

—Não diga isso.

—Eu estou morrendo. - ela repetiu. - Meu corpo está morrendo. Ele não aguentará.

—Estou fazendo tudo o possível, você ficará bem Emma.

—Não tenho tanta certeza, preciso que você me faça um favor. - pediu a mulher se aproximou. - Não sei quanto tempo aguentarei, mas sei que meus pais me acharam em algum momento, e quando fizerem isso, diga-os que eu os amo muito, muito.

A doutora fechou os olhos se afastando.

—É você quem vai falar isso, vou tira-la daqui nem que seja a última coisa que eu faça.

~***~

Camille socou a mesa fazendo barulho, Cisco levantou a cabeça e encarou a filha.

Em rota de colisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora