Prólogo

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*16 ANOS ATRÁS*

Eram dez horas da noite quando ele chegou cambaleando em casa. Minhas pernas começaram a tremer porque sabia o que iria acontecer, era sempre a mesma coisa. Agressões e abusos, depois ele dormia como se nada tivesse acontecido, me deixando quebrada por dentro e por fora. Corri até minhas meninas, cinco lindas garotinhas, e escondi as pequenas encolhidas no guarda roupas do quarto de hóspedes, pedi para que não fizessem barulho, minhas gêmeas eram as mais velhas e sabiam o que fazer: Trancar a porta e ficar quietinhas, não importasse o que escutassem lá fora.

Não era essa a vida que sonhava quando vim para os Estados Unidos. Eu era apenas uma menina de dezesseis anos que sonhava em ter uma vida melhor da que levava no Brasil, e por ironia fugi da violência em casa para cair na mesma situação a um mar de distância, sozinha e sem ter a quem recorrer.

Cheguei ao Texas por puro milagre, já que não conhecia nem a língua desse país. Por sorte, ou azar, consegui um trabalho de faxineira na casa grande de uma rica fazenda, foi assim que conheci Austin. Um homem inteligente, estudado e que era tão atencioso comigo que acabei me entregando. O que não sabia era que ele só queria me levar para a cama.

Resultado disso: Acabei grávida.

Dona Ana, mãe do Austin, o obrigou a se casar comigo quando soube, ela mal sabia o monstro que o filho era e a vida a que estava me condenando.

Minhas lembranças foram interrompidas com os gritos do meu marido subindo as escadas de casa.

— Onde está sua vadia? — o barulho de garrafa caindo me fez encolher o corpo contra a parede do quarto. Não adiantava me esconder, ele me encontrava ou pior iria atrás das meninas. — Já falei que tem que me esperar nua sua vadia! Não era o que queria? Dar-me o golpe da barriga? — falou me segurando pelos cabelos fazendo com que olhasse para ele. O cheiro de bebida era forte e me fazia enjoar. — Agora aguenta as consequências!

Ele me jogou contra a cama, tentei rolar para o lado e fugir para fora do quarto, mas não consegui. Ele alcançou meus cabelos e puxou, me derrubando no chão para poder começar a seção de pancadas. Era sempre a mesma coisa: Batia-me e procurava por sexo, quando se sentia satisfeito saia de cima de mim e ia até a cama. Eu quase imaginava que ele se alimentava da minha dor.

— Eu sei o que você quer, é o que todas as vadias querem não é? — falou assim que terminou com a surra, ele iria me estuprar novamente e não podia fazer nada caída no chão como estava.

— Solta a minha mamãe, seu monstro! — gritou uma vozinha da porta, fazendo meu coração disparar. Eu as mandei ficar no quarto!

— Parece que tenho mais uma vadia pra cuidar hoje! — Austin falou com um sorriso de lado que deixava claro suas intenções. Não podia deixar que ele machucasse minha garotinha desse jeito.

— Corre Fernanda! — mandei desesperada. Ela me olhou com olhos arregalados de medo e correu o corredor a fora. Ouvi a porta bater e respirei aliviada.

— Então está virando minhas filhas contra mim? — perguntou com a voz baixa e um tom repleto de desprezo.

Ele não se importava realmente só queria uma desculpa pra me machucar mais. Os chutes voltaram a dor do impacto de seus pés em meu corpo acabou me levando a escuridão. Não sei a que horas ele parou de me bater, mas quando acordei ele já dormia na cama enquanto eu ainda estava no chão ao seu lado.

Não suportava mais essa dor, todo dia era mesma coisa, ele chegando bêbado e nos atacando, como se tivéssemos culpa de algo. Há algum tempo venho pensando em uma saída e apesar do medo que sinto, não por mim, mas sim pelas minhas meninas, espero que funcione e que nos livremos dele.

Série Irmãs DiCastilho - RessurgindoOnde histórias criam vida. Descubra agora