POV MARCUS
Apreciei o vinho, o deixando passar suavemente pela minha garganta, enquanto a deixava processar minhas palavras. Não foi uma coisa programada, mas sem dúvidas condizia com a verdade.
Eu a amava. Não havia dúvidas sobre isso.
Conhecermos um ao outro viria com o tempo. Convivência diária de casal viria também — se Deus abençoasse. Mas eu já poderia afirmar isso. Morei e casei com uma mulher, dividimos uma vida, segredos e uma filha, e eu não sentia nada por ela se comparado ao que sentia pela mulher a minha frente. Minha vontade era de me expressar mais claramente, mas se fizesse assistiria sua fuga, então a farei de maneira mais sutil.
Ela se impedia de sentir, eu via isso.
Durante esses meses, assisti seu interesse por mim crescer — e eu não dizia isso para me promover, mas sim por ser crescido o suficiente para detectar esse tipo de reação. Mas por alguma razão mantinha um pé atrás. Os dois, na verdade.
Quando pedi para me mudar para sua sala, logo após o seu antigo companheiro ser demitido, nosso chefe me achou louco de querer lidar com ela, mas a aquela altura já não havia mais volta. Você pode imaginar como eu me encontro agora. Ela é bela de maneira que não posso descrever. Suas palmas tão pequenas para uma pessoa tão forte, tão... mandona!
Não sabia o que a anula de viver, o que a fazia se sabotar internamente, nem muito menos quem era o homem que a quebrou. Queria muito saber, não por curiosidade, mas para poder ajudá-la. O amor que sentia por essa mulher era algo que me impulsionava para além do meu orgulho bobo de homem ferido, era um amor puro e simples o mesmo que rezava para que ela sentisse e que esse sentimento avassalador pudesse a salvar da tristeza que vejo no fundo de seus olhos.
A maneira em que ela fingia não ter percebido a "indireta" me fez ter alguma esperança em nós. Ela não fugiu ou me dispensou apenas permaneceu no mesmo lugar, bebericando o vinho um pouco tensa. Esperava que isso significasse que ela está lutando por nós mas sei que as coisas nunca serão tão fáceis assim. Afinal, o que é na vida?
— Então, — ela iniciou — devo presumir que seu pai serviu esse vinho a sua mãe? — perguntou.
— Sim — sorri. — Essa é uma história engraçada na verdade. Meu pai é italiano, bem nacionalista e minha mãe é americana. Como uma boa família tradicional, meu pai deveria ter se casado com uma italiana, para evitar a mistura de sangues. — expliquei. — Não por fatos de preconceito, mas é que são muito ligados a terra, e tudo que envolva família, coisa que geralmente não é atribuído aos americanos. Então, um belo dia, chega uma mulher na loja em que meu pai trabalhava como vendedor de vinhos, e pediu-lhe uma indicação para dar de presente ao namorado. Meu pai lhe serviu uma taça desse vinho e já estava apaixonado.
— E essa mulher era sua mãe.
— Sim, era minha mãe. Ele conquistou seu coração e ela se apaixonou também. Meu pai largou tudo na Itália e veio com ela para a América, contra todos os fatos e pessoas. Casaram-se e eles moram aqui a mais de trinta anos. — levei vinho a boca, dando-lhe sabor a minha história. — Montou uma oficina de conserto de carros, um talento esquecido, e com esse dinheiro que eu fui criado. Não importava o que ele estivesse fazendo, contanto que estivesse com ela.
O meu casamento fracassado com Aretha era um motivo para me afastar de tudo para me fechar em uma concha com Ayla e nos manter longe de decepções. Foi isso que fiz no começo. Mas a história dos meus pais é a motivação de tentar novamente.
— E como eles estão hoje? — ela perguntou, saboreando o vinho na mesma intensidade que eu.
— Muito bem, na verdade. Parece que se conheceram ontem, é mesmo amor, talvez mais maduro. — respondo.
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Série Irmãs DiCastilho - Ressurgindo
Romance#13 em ROMANCE - 10/11. Fernanda DiCastilho é a mais velha de sete irmãs. Após presenciar todo o sofrimento da mãe no casamento com seu pai e sua história de abusos, ela desacreditou em tudo que pudesse trazer a remota lembrança de um relacionament...