POV FERNANDA
Caminhei, praticamente correndo, de volta para as barracas, esperando que pudesse entrar em uma delas e fingir que morri.
Sabia que era uma péssima ideia persistir nesse fim de semana. Poderia ter fingido alguma doença que nos fizesse ficar próximo aos hospitais de Houston. Poderia fingir uma gripe, uma infecção. Até clamídia. Mas não, eu vou fazer a vontade de minhas irmãs e acabo em situações constrangedoras. Se fosse as gêmeas, eu diria que elas fizeram de propósito, para se vingar do castigo, mas quem foi até Marcus foi minha gêmea maligna, que me queria ver com um homem - mesmo que por uma noite, não se importando com as consequências.
"Tudo o que você precisa é de uma noite quente. Seu humor vai melhorar rapidinho." Ela diz.
"Rodada" Eu respondo. Você acha que ela se ofende? Ela ri da minha cara e diz: "Graças a Deus".
O fato de ter um fim de semana completo sem nenhum tipo de opção de fuga e sete pessoas super dispostas a ajudarem Marcus a me seduzir — Brian já incluso — me indicava que isso não ia funcionar. Aproximei-me de Brian, que agora tinha minha mãe ao seu lado - provavelmente contando sobre o loiro, e dei uma tapa em seu braço. Ele me olhou com cara de indignado.
— Quem mandou você ir se apresentando? — questionei, fechando a cara.
— A educação diz "olá". Amellie, você não ensinou modos a essa menina?
— Não entendi o porquê do drama. — mamãe respondeu. — O cara não é só um colega de trabalho? — minha mãe, mestrada em resolver conflitos.
— E por ser colega de trabalho que eu não o quero aqui! Vai que ele pensa que tem algum tipo de intimidade.
— Bem que ele gostaria. — Brian ri, virando as costas.
— Brian! — rosnei.
— Ah, vamos lá Fernanda. — ele disse, voltando-se para mim. — Você nem é tão ranzinza assim! Seu humor mudou no momento em que o cara pisou aqui. Algum interesse tem!
— Eu vou ter que concordar, princesa. — minha mãe passou a mão no meu cabelo. — Você sente alguma coisa pelo rapaz?
— Não dá pra conversar com vocês! Aposto que se fosse um maníaco, vocês diriam a mesma coisa! — fui em direção.. Não sei que direção. Sai andando meio sem rumo tentando arrumar meus pensamentos.
Depois de andar alguns minutos e por meus pensamentos em ordem, quer dizer tentar — pois sempre vinham em minha mente aqueles olhos azuis penetrantes, sentei na areia para descansar. Sempre fui fria para esses assuntos sentimentais, vi o que mamãe sofreu com aquele crápula, depois ela conheceu Brian e ele mostrou o amor não só a ela, mas também para nós. Mesmo dessa maneira é difícil sair da minha zona de conforto e me jogar em algo.
Como se fosse hoje me lembro daquele dia. Era noite, minha mãe estava no quarto o esperando, mas não foi pra lá que ele se dirigiu. Ainda consigo sentir as mãos sujas dele em mim. "Boneca de porcelana" foi assim que ele me nomeou. Eu era uma pequena bonequinha, uma criança pálida, aguardando o pior, ou até mesmo a morte. Acredito que só não concretizou o ato porque minha mãe chegou antes, depois disso, todas as noites nós ficávamos trancadas no armário. E foi assim por anos e anos.
Tenho consciência de que Marcus não é assim, só temo que minhas cicatrizes sejam profundas demais e eu acabe machucando-o no meu processo de cura. Ele já passou por um relacionamento falido, não precisa de outro.
Olho para o meu lado e vejo uma garotinha com cabelos louros, olhos azuis e um maiô de unicórnio com um baldinho, me olhando com certa curiosidade. Estava tão compenetrada ali, sentada olhando para o nada, que nem senti quando ela sentou do meu lado.
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Série Irmãs DiCastilho - Ressurgindo
Romance#13 em ROMANCE - 10/11. Fernanda DiCastilho é a mais velha de sete irmãs. Após presenciar todo o sofrimento da mãe no casamento com seu pai e sua história de abusos, ela desacreditou em tudo que pudesse trazer a remota lembrança de um relacionament...