Capítulo 2

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- Preciso que busque as baby gêmeas pra mim - disse a Amanda assim que ela atendeu.

Eu sempre tive pressentimentos. Geralmente quando eu iria ter um dia ruim, já acordava com uma estranha sensação de mau humor. Naquela manhã não foi diferente.

Tirando os olhares gozados que recebi de Marcus o dia inteiro, como se tivesse ganhado mais uma cabeça, estava indo tudo bem até meu computador resolver quebrar. Levou duas horas inteiras para o técnico chegar ao escritório e mais uma para ele afirmar que "não havia nada a ser feito". Precisariam apagar todo o HD de memória, me fazendo perder todo o trabalho do dia. Graças a Deus mantenho meu HD externo atualizado. Tentei adiantar o máximo possível do meu trabalho assim que outro notebook me foi disponibilizado. Olho para o calendário.

07 de setembro. Era aniversário de Brian.

Peguei minhas coisas o mais rápido possível, me lembrando do porquê o jantar na casa da minha mãe é tão importante. E adivinha o que acontece?

Meu carro não liga.

Eu acredito que esse é um daqueles dias em que você odeia até o ar sem motivo até descobrir porque. Eis o porque. Meu carro foi pra manutenção alguns dias atrás por problemas na fiação do motor. Não confiei muito no mecânico que consegui mas era tudo o que meu seguro cobria, então..

- Gêmea você sabe que eu saio mais tarde que você, certo?

- Saia mais cedo, aprenda a voar! Alguém precisa pegar as baby gêmeas e levar pra casa de mamãe. Hoje é o jantar de aniversário do Brian.

- E porque esse alguém não pode ser você? - ela geme.

- Meu carro quebrou.

- De novo?

- Não, Amanda. Ele estava quebrado o tempo todo e especialmente hoje ele funcionou com o poder da minha mente! - ironizei, perdendo a paciência.

- Já entendi. Pegar as gêmeas e estar apresentável às 19h.

Ela desligou e eu suspirei, voltando a ligar para o seguro e cair na lista de espera. Esbravejei alto, chutando o pneu do carro. Ai, essa doeu.

- Acredito que vai precisar do seu pé se o carro tiver mesmo quebrado. - Marcus riu atrás de mim

Ótimo. Mais isso.

- Olha, se você não vai ajudar, não atrapalha!

- Só se você pedir "por favor". - ele disse, vindo até a mim.

- O que? - exclamei nervosa.

- Peça "por favor". - ele repetiu.

Rosnei e virei de costas, persistindo na ligação. Ouço barulhos dele se movendo, provavelmente em direção ao carro, e solto um pequeno suspiro aliviado, tentando me concentrar na ligação. Já é quase noite, o que significa que eu estou muito atrasada. Somente quando escuto o barulho do capô do carro levantar que eu me viro.

Marcus deixou sua bolsa no chão e levantou as mangas da blusa social azul. Ele olhava como se realmente entendesse alguma coisa, mexendo em um canto ou em outro, desisto da ligação. Fiquei ali paradinha, fingindo que não existia, que ainda insistia na ligação. Vai que ele desiste de ajudar.

A verdade é que nós nos conhecemos acerca de um ano, quando fomos colocados pra cuidar de um cliente em comum. Depois disso - e do sucesso do acerto, casualmente fomos colocados para trabalhar juntos. O suficiente para ele se mudar pra minha sala, trocando de lugar com meu antigo e silencioso colega de trabalho. E mesmo assim, considerando a absurda quantidade de tempo que passamos juntos, não sabemos mais que trivialidades sobre o outro. E se tudo que eu conheci nele, mesmo sendo pouco, já me fazia dar dois passos para trás pela vontade de dar cinco pra frente, pode-se entender o porquê do meu comportamento.

Série Irmãs DiCastilho - RessurgindoOnde histórias criam vida. Descubra agora