Capítulo 6

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Ally e Taylor se juntaram a nós ao lado do nosso carro.
Camila — Ally falou. — Estamos num impasse. Quero ouvir sua
opinião.
Tudo bem. — Pendurei a mochila no ombro e bati a porta.
Qual prédio você acha que é mais alto, o Holiday Inn ou o Convention Center?
Hum... o quê?
— Os garotos estão falando sobre fazer rapel em um deles. Hipoteticamente, é claro.
— Qual Holiday Inn? O da orla ou o do centro da cidade?
— O da orla.
— O Convention Center. Sem dúvida. Mas o da orla é mais fácil para
quem quer fazer rapel sem ser visto.
— Viu? — Ally perguntou, olhando para Taylor.
Você fala como se a Camila fosse especialista em altura de prédios.

Ótimo. Achei que a discussão fosse com os garotos. Não percebi que iria
contrariar a Taylor. Era como se ela sempre estivesse do lado oposto ao meu, mesmo que eu nem soubesse.

Mas posso estar enganada — acrescentei. — Nunca medi.
E comecei a andar em direção à porta do edifício. Elas me seguiram.
Vou procurar no Google — Taylor decidiu.
Ela vivia usando o Google para provar que estava certa. O problema era
que, quando estava errada, ficava toda irritadinha, como se nós
houvéssemos mudado as respostas do Google só para contrariá-la.

Taylor pegou o celular.
Ah, eu queria aproveitar para postar no Facebook da Ariana o que
penso sobre o que ela fez com você. Como é mesmo o sobrenome dela?

Pronto. Era esse o jogo. Fiquei surpresa por ela ter esperado tanto
tempo.
Ela não tem Facebook. Ninguém mais usa isso. — Era mentira, mas eu
nunca revelaria a ela o perfil da Ariana .
— Instagram? Twitter? Você já me mostrou as páginas, mas eu não
lembro o nome de usuário — ela insistiu.
A gente terminou, Taylor. Não quero que ela pense que ainda estou
na dela.
— Mas sou eu quem vai mandar a mensagem. — Ela estava
empunhando o celular, pronta para digitar, como se eu fosse dar as
informações sobre as redes sociais da Ariana ali mesmo, a caminho da sala
de aula. Eu não sabia ao certo se ela esperava encontrar alguma coisa para  me incriminar, ou se sabia que ela não era quem eu havia dito que era. — Você viu a foto que eu postei do baile? Já tem quarenta curtidas.
— É, eu vi.

Mesmo assim ela me entregou o celular, e olhei o grupo de sete pessoas em torno da mesa no baile. A cabeça da minha suposta namorada estava quase completamente escondida atrás da minha, e eu me dei conta de que preferia que não estivesse. Segurei um suspiro frustrado por pensar nisso e
devolvi o celular.
Estive pensando... — Taylor começou.
O que nunca é bom, pensei.
É tão estranho a Ariana conhecer alguém do nosso colégio. Ela não
só te conhecia como estava enrolada com ela e namorando você. Quais são
as chances de isso acontecer?

Droga. A história tinha furos. Furos enormes. Todo mundo pareceu
analisar o comentário, porque ficaram todas me encarando, esperando uma explicação. Uma mentira inofensiva. Era só isso que eu tinha em mente na noite do baile. Uma pequena mudança na ordem dos eventos. E agora ali estava eu, ainda mentindo. Senti que estava construindo uma teia, e tive
medo de ser a única a ficar presa nela.
— Ela morou aqui antes de me conhecer. Antes de ir estudar fora. Ela deve conhecer a garota dessa época.
— Quem é a garota? — Dinah perguntou.
Acho que a gente devia ir
falar com ela. Mandar ficar longe da Ariana.
— Eu não conheço. Talvez nem estude aqui. Pode ter ido ao baile com
uma amiga.

Eu estava cada vez mais nervosa, com o coração disparado.
Não gostava de mentir. Para minha sorte, Daniel Carlson se aproximou e
passou um braço sobre meus ombros. Fiquei feliz com a interrupção. Sabia
que ele mudaria de assunto para discutir coisas do conselho estudantil, questões em que trabalhávamos havia semanas. Bom, pensei que fosse esse
o motivo para ele estar ali. Era exclusivamente sobre isso que falávamos.
Então, agora que você está solteira...
Talvez ele não mudasse de assunto.
Não costumo repetir, Daniel.
Ele riu.
Azar o seu.
— É, eu estou sangrando por dentro.
— Sei. Mudança de emergência na pauta. O sistema de som do ginásio
não está funcionando. O sr. Green não sabe se vai conseguir consertar até
sexta-feira.
— Tudo bem, a gente fala sobre isso na reunião de hoje.
— Como vice-presidente, achei que fosse importante vir informá-la
imediatamente, já que sou apenas um servo aos pés da sua autoridade.
Bati com o quadril no dele.
— Já entendi. A gente se vê depois da aula.
— Estou dispensado, chefe?
Eu sorri.
Cai fora.

Ele se afastou correndo e foi se juntar a outro grupo de garotas na
nossa frente. Dinah e Ally haviam ficado alguns passos para trás,
discutindo a lição de cálculo, mas Taylor continuava ao meu lado.
— Achei que ela tivesse dito que não conhecia bem a cidade. Ela
perguntou se tinha algum lugar com jogos eletrônicos — Taylor comentou.
Pisquei, confusa.
Quê?
— A Ariana. Você disse que ela já morou aqui, mas ela falou que não
conhecia bem a cidade.

Minha paciência se esgotou. Eu não suportava mais. Eu tentava ser
simpática havia meses, porque temia que, sendo sincera, elas escolhessem a Taylor. Mas agora eu tinha que correr o risco, porque estava cansada de
sentir como se tivesse que me defender toda vez que me reunia com as minhas melhores amigas. Então, com o tom mais firme e baixo possível, falei:

Cansei disso. Você conheceu a Ariana. É óbvio que ela existe. Se
continuar com esse joguinho, eu e minhas amigas vamos nos afastar e você vai dançar.
Minhas mãos estavam tremendo, e eu as enfiei nos bolsos para Taylor
não perceber como me incomodava ter que falar desse jeito. Eu presumia
que o que havia dito a Ariana postiça na noite do baile fosse verdade:
que ela me considerava a líder do grupo. Nesse caso, a atitude firme podia funcionar.

Ela estreitou um pouco os olhos e inclinou a cabeça para o lado, como
uma leoa avaliando a próxima refeição.
Não sei do que você está falando — respondeu, embora os olhos
dissessem: “Aceito o desafio”.
Melhor assim. Foi só minha imaginação, então.
E andei depressa para o prédio C, me afastando do grupo.
Vejo vocês na hora do almoço.

As três se despediram ao mesmo tempo, e eu entrei no edifício
enquanto elas seguiam para o que ficava ao lado. Colei as costas à parede, respirei fundo contando de um a dez até parar de tremer, depois segui para a sala de aula.
Sentei no meu lugar, e a garota na minha frente, alguém que costumava
sentar do outro lado da sala, se virou para trás para passar o questionário
que a sra. Rios já estava distribuindo.

Obrigada — falei, irritada com a sra. Rios por ter escolhido a
segunda-feira depois do baile para dar uma provinha surpresa. Peguei o
celular e digitei um tuíte rápido:
Repassem: Prova surpresa de política.
Isso deveria me render alguns pontos com meus seguidores. E eu me
senti melhor por fazer algo legal depois do que tinha acabado de dizer a Taylor. Suspirei e guardei o telefone.
Dia ruim? — perguntou a garota à minha frente.
Olhei para aqueles olhos marcados com muito delineador preto, como
sempre, e não disfarcei a surpresa. Era a irmã da Ariana postiça.

Namorada De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora