Capítulo 36

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A pilha de bolas que eu tinha encontrado cobria a grama alta perto dos meus pés. Eram muitas. Levei meia hora, mas reuni umas vinte, pelo menos.
Segurei uma delas e me preparei para o arremesso contra o Camaro. A
lembrança de ter sentado dentro daquele carro com Lauren invadiu minha mente, e eu quase derrubei a bola. Depois outra lembrança se impôs à primeira, o que Megan dissera naquele mesmo dia: "Usou o truque do 'pula comigo dentro do carro'?" Ela tinha feito isso com outra garota. Lucy, provavelmente.

Levei o braço para trás e arremessei a bola com toda a força. Ela acertou
a porta com um barulho alto e rolou pela grama. O amassado na lataria
enferrujada era quase imperceptível e só alimentava minha necessidade de
fazer um estrago. Um estrago de verdade. Peguei outra bola e arremessei. E outra.
Logo não era só a Lauren que eu tentava acertar, mas Taylor e meus pais, meu irmão e até eu mesma. Abaixei para pegar outra bola e só encontrei terra. Já havia jogado todas.
Meu coração batia depressa e meu rosto estava molhado de suor e
algumas lágrimas, talvez.
Eu estava começando a recolher as bolas quando ouvi alguém atrás de
mim:

- Quer jogar algumas na pessoa em quem está pensando, ou o carro
é suficiente?
Eu me virei. Lauren estava com os braços abertos, como se realmente
me desse autorização para usá-la como alvo. Era tentador.
Meus ombros subiram e desceram algumas vezes. Depois da semana que
tive, só queria me enroscar nela e esquecer tudo o que tinha acontecido.
Mas eu não podia.
Fiquei ali olhando para Lauren, tentando decidir se ela estava
representando um papel agora. O da garota calma e humilde. Era uma
encenação? Porque ela não parecia estar mal como Megan dissera que estava.
Joguei a bola que tinha nas mãos. Não com muita força, e nem a acertei, mas foi por pouco.

Ela arregalou os olhos.
- Ah, então você não estava realmente se oferecendo para ser o alvo?
Ela riu.
- Achei que você não fosse aceitar a oferta.
Peguei outra bola e a joguei para cima uma vez, depois a soltei no chão.
Ela pegou uma bola perto dos pés e se aproximou de mim, então parou do
meu lado, de frente para o carro. Levantou o braço, e eu agarrei sua mão com a bola.
- Não. Não faça isso. Você adora aquele carro.

Meu esforço resultou em alguns amassadinhos, mas eu sabia que ela
podia fazer um estrago sério.
Lauren relaxou o braço e deixou a bola cair no chão. Minha mão
segurou a dela por dois segundos antes de eu me dar conta e soltá-la, e dei um passo para trás a fim de pôr alguma distância entre nós.
- Tenho dificuldade para confiar nas pessoas - Lauren falou, de cabeça baixa.
- Depois do Ryan e da Lucy, imagino que tenha.
- Estraguei tudo.
- Eu sei.
- Quer que eu vá embora?
- Ainda não sei o que eu quero.
Ela levantou as sobrancelhas e ficou quieta. Como se, pela primeira vez
desde que brigamos, acreditasse que ainda havia esperança para nós.
- Qual é o fator decisivo?

Tentei não sorrir ao lembrar que já tínhamos tido essa conversa antes,
na festa de Lucy.
Mas daquela vez falávamos sobre eu retornar ou não a ligação de Ariana. E sobre ela voltar a namorar Lucy ou não.
- Este momento, eu acho.
Ela assentiu devagar.
- Eu poderia recitar uma lista de motivos para você ir embora.
- Ah, é?
- O primeiro é que eu te chamei de mentirosa, e eu também estava
mentindo.
- É um bom motivo.
- Sim. O segundo é que eu tenho dedo podre para escolher amigos.
- Já percebi.
- E ainda não sei bem o que isso diz sobre mim.
Eu queria tranquilizá-la, mas ainda não havia decidido nada, e confortá-la só a faria pensar o contrário.
- E eu gosto muito de você.

Por que essa declaração fazia o meu coração disparar?
Ela fechou e abriu a mão.
- Isso me assusta, porque a dificuldade para confiar, aparentemente, também se estende a mim mesma em relação ao que sinto, e isso só pode significar que eu vou te machucar. De novo. E eu não quero ver você chorar. Isso destroça o meu coração. Sou uma idiota. Desculpa.
Fechei os olhos para não ter que olhar para ela daquele jeito, tão vulnerável. Ela relacionava motivos para eu não gostar dela. Não havia razões para eu me jogar em seus braços como queria fazer.

- Antes de te conhecer - comecei falando bem devagar -, eu tinha
um plano. Sabia o que eu queria. E achava que me conhecia. Sabia como
seria cada semana dos próximos quatro anos da minha vida. Mas agora não tenho mais a companheira de quarto que devia ter, nem a namorada, nem o plano. Acabou. Não sei mais o que eu quero.
- Não sabe o que quer? - A voz dela era rouca.

Abri os olhos esperando encontrar aquele olhar quente que ela havia
aperfeiçoado no baile de formatura, mas não foi o que vi. O olhar de
Lauren era suave, franco. Não era uma encenação. Balancei a cabeça.
- Não, eu sei o que quero. Quero ir para a faculdade, com ou sem a
companheira de quarto que sempre pensei que teria.
Ela assentiu.
- E vou usar minha bolsa para estudar ciência política, e espero um dia poder fazer alguma diferença no mundo.
Ela sorriu.
Dei um passo na direção dela e, quando Lauren não recuou, dei outro.
Pus as mãos sobre os seus ombros.
- E eu quero...
Ela soltou o ar e todo o seu corpo relaxou.
- Não faça isso, a menos que seja de verdade - ela disse, repetindo
palavras que eu havia usado antes.
Eu sorri.

- É de verdade. - Segurei seu rosto entre as mãos e me levantei na ponta dos pés.
Antes de nossas bocas se encontrarem, ela falou:
- Tenho a impressão de que nunca houve tanta expectativa antes de um beijo. E que você vai ficar desapontada, independente do que eu fizer.
Eu ri.
- Quer brincar de Vinte Perguntas?
- Nessa situação? Como seria?
- Posso tentar adivinhar suas preferências.
- Minhas preferências em um beijo?
Assenti, com o rosto bem perto do dela.
- Minha preferência é simples: você.
- Isso não foi uma resposta do tipo sim ou não. Você acabou de quebrar a re...

Ela me interrompeu, colando a boca à minha. Seus lábios eram tão quentes que meu corpo todo derreteu contra o dela. Lauren me enlaçou pela cintura e me puxou mais para perto. Minhas mãos encontraram seus cabelos, dessa vez sem ter de procurar desculpas para tocá-los, ciente de que eu podia fazer isso sempre que quisesse.
Um arrepio me fez estremecer, e ela sorriu.
- Não se decepcionou?
Eu não respondi. Só continuei beijando.

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