Namorada De Aluguel

Capítulo 7

- Megan ? - perguntei.
Ela sorriu com frieza, se virou para a frente e pegou um lápis na mochila.
- Não é justo - eu disse. - Você estava muito diferente no baile.

Apontei para sua roupa, que era preta em camadas de preto, e para o
rosto, tão maquiado quanto o da vovó em noite de bingo.
- Era um experimento social. Você falhou. - Megan fez uma pausa. - Ou não, porque provou que tínhamos razão. Tanto faz.
- E você ficou furiosa comigo por eu não ter te reconhecido, sendo que
fez tudo para não ser reconhecida.
- Se essa fosse sua pior mancada, eu teria sorte.
Eu tinha feito alguma coisa para ela? Alguma coisa pior?
A sra. Rios pigarreou.
- Meninas, silêncio. Estamos em prova.

A manhã tinha começado mal. A dublê de Ariana podia ter me dito
que a irmã costumava se vestir de roqueira. Eu teria me lembrado dela. Ela era nova no colégio, tinha chegado poucos meses atrás, no meio do ano.
Até onde eu lembrava, não havíamos trocado mais que duas palavras, por
isso eu não conseguia imaginar como podia tê-la ofendido.

Fiz a prova inteira distraída, quase sem pensar nas perguntas, muito
menos respondendo de maneira inteligente. Fiz o melhor que pude,
depois fiquei olhando para Megan até o fim da aula, esperando a
oportunidade para falar com ela.

Quando o sinal tocou, peguei minha
mochila tão depressa quanto ela pegou a dela e a segui para fora da sala.
- O que é?- Megan rosnou quando chegamos ao corredor.
Eu queria perguntar o nome da irmã dela, mas não podia admitir que
ela não tinha me contado.
- Preciso do telefone da sua irmã.
- Por quê?
- Quero mandar uma mensagem agradecendo.
Claro. Uma mensagem agradecendo. Alguma coisa como: "Querida Ariana postiça, obrigada por mentir por mim e enganar minhas amigas fingindo ser minha namorada. Agora você pode me contar por que decidiu ir ao baile comigo? Por que quis me ajudar? Por que me olhou daquele jeito superintenso enquanto dançava comigo, como se visse em mim alguma coisa que eu nem sabia que existia? Assim eu posso tirar você da cabeça. Obrigada".

- Se ela quisesse que você soubesse o número, ela mesmo teria dado. Megan pareceu sentir prazer com a declaração.
- Teria, mas ela foi embora de repente depois daquela coisa da briga de mentira.
Ela gemeu como se lembrasse novamente como eu a havia usado.
- Se eu te der o meu número, você passa para ela?
- Se eu me jogar da escada, você me deixa em paz?
Estávamos do lado de fora do prédio, no alto da escada. Uma garota
com o mesmo estilo dela estava parada lá embaixo, olhando para nós. Ela não esperou pela resposta, que, tecnicamente, poderia ser sim ou não, e desceu para encontrá-la.

- Oi, Camila - a garota falou quando as alcancei, ao pé da escada.
Surpresa, percebi que era ela quem estava no baile com Megan.
- Oi. Desculpa, não sei o seu nome.
Ela deu de ombros.
- Só fizemos quatro matérias na mesma turma nos últimos três anos.
Por que você saberia?

Fiquei vermelha. Era verdade? Olhei para ela de novo com mais atenção.
Honestamente, ela não me parecia familiar, exceto pelo encontro no baile.
Estudávamos em uma escola pública; as turmas eram grandes.
- Cuidado - disse Megan -, suas amigas populares podem ver você com a gente.

Levantei a cabeça e vi Dinah e Ally vindo na minha direção.
Provavelmente elas não a reconheceriam, mas Megan estava certa: se a vissem e percebessem que era a mesma menina do baile de formatura, isso estragaria
tudo. Mudei de direção e me afastei dos dois.
- Covarde - Megan falou quando eu estava a uns dez passos de distância.
Eu tropecei de leve, mas não parei.
- Você conhece aquelas duas?- Ally perguntou quando me aproximei dela e de Dinah.
- São da minha turma de política. Tivemos prova surpresa. Quem dá
uma prova surpresa na segunda-feira depois do baile de formatura? Nossa
professora é o satanás, já decidi.

Elas não pareceram notar que eu havia evitado a pergunta mudando de assunto.
- Sim, eu vi a sua postagem. As pessoas estão retuitando loucamente.
- Camila! - um garoto me chamou ao passar por nós. - Obrigado pelo
aviso. Você é minha heroína.
Ally riu.
Dinah puxou meu braço para recuperar minha atenção.
- Você e a Taylor brigaram de novo?
Outra pergunta que eu preferia evitar.
- Ela está me atormentando por causa da Ariana há dois meses, e
ainda não desistiu.
- Mas todas nós a conhecemos. Qual é o problema agora?

Minha língua parecia ter o dobro do tamanho adequado para a boca.
Agora era a hora de contar a verdade, explicar o que Taylor poderia descobrir e confessar como eu me sentia idiota por ter mentido. Assim ela não teria mais nada contra mim.
Ally segurou minha mão.
- Tenta ser legal com ela. A Taylor tem passado por tanta coisa...
- Eu sei, é que... - Então meu celular tocou, e instintivamente olhei para a tela. Dinah devia estar olhando por cima do meu ombro, porque disse:
- Não se atreva a ligar para ela.
Meus olhos ainda estavam arregalados de espanto. Era uma mensagem da Ariana.
"Estive pensando na noite do baile... Me liga quando chegar em casa."

Eu estava em casa, olhando para o celular sem ligar para a Ariana. O que
eu disse ao Daniel era verdade: não gosto de repetições. Mas a Dinah
também estava certa: era sempre eu quem terminava os relacionamentos. O rompimento com Ariana foi repentino, e eu não estava preparada. Talvez tenha sido prematuro. Minha mente tentava me lembrar de que ela havia me deixado no meio do estacionamento do baile de formatura. Eu não queria voltar. Mas não faria mal nenhum telefonar para ela, encerrar melhor o assunto. Se eu contasse o que senti quando fui deixada por ela, talvez me sentisse melhor. Talvez me ajudasse a superar mais depressa, porque eu ainda sentia uma porcaria de nó na garganta cada vez que pensava nela.

Eu precisava ligar. Já havia digitado todos os números, só faltava apertar
a tecla para iniciar a ligação. O que me impedia? Nada.
Apertei a tecla. Meu coração disparou quando ouvi chamar do outro
lado. Eu ia fazer o que planejava. Ia terminar tudo de vez. Então por que
fiquei aliviada quando ouvi a mensagem da caixa postal?

- Oi - ela dizia na gravação. - Não posso atender. Mas tenho seu
nome e o número no identificador de chamadas, então, a menos que eu
não queira falar com você, ligo de volta.

Eu ri. Ariana era engraçada. Tive a sensação de que não ouvia a voz
dela havia uma eternidade, embora tivéssemos conversado apenas dois dias atrás. Desliguei sem deixar recado, depois joguei o celular na cama e o deixei lá enquanto dedicava as horas seguintes à lição de casa.
Quando voltei para o quarto, meu telefone tinha várias notificações,
mensagens da Dinah e uma chamada perdida da Ariana. Respondi às
mensagens, mas eu tinha tomado uma decisão importante com relação a
Ariana.

Era melhor esperar para falar com ela. Eu precisava de tempo para
me acalmar. Não queria que minhas emoções contassem uma história
diferente da que eu tinha na cabeça. Enquanto isso, eu precisava ver a
dublê de Ariana mais uma vez. Ela precisava me dar uma simples resposta: por que havia topado? E queria que ela respondesse longe da noite do baile, em circunstâncias normais. Usando a camiseta de nerd e com o cabelo despenteado. Depois disso, eu encerraria a história com as duas Ariana's e poderia seguir com a minha vida.
Esse era o plano, e eu estava disposta a segui-lo. Comecei abrindo o
armário e pegando os anuários do colégio na última prateleira.