Capítulo 16

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Paramos em frente à casa dela. Lauren desligou o motor e saiu do carro antes que eu pudesse detê-la. Quando parou do meu lado e abriu a porta, eu disse:
Desculpa. Eu devia ter avisado que precisava de carona para casa.
— Ah. — Ela olhou para os dois lados da rua, como se esperasse ver um
carro parado em algum lugar. — Minha irmã foi te buscar?
— Sim.
— Ela é cheia de estratégias.
— Sim, ela é. — Continuei sentada no carro, esperando que ela fechasse
a porta e voltasse para o banco do motorista.

Mas Lauren continuou onde estava. E apontou para a casa.
Você precisa ir embora agora? A minha irmã vai querer um relatório.
Acho que você pode contar tudo melhor que eu.
O relógio do painel marcava dez horas. Eu ainda tinha duas horas até o meu horário de voltar para casa.
Tudo bem. Claro.

Andamos até a porta da frente, e Lauren a abriu e entrou. Sentada no
sofá da sala, Megan desligou a TV imediatamente e olhou para nós.
E aí?
Lauren me abraçou.
Você vai gostar de saber que a noite foi de muitos joguinhos e muito
ciúme. Não sei bem quem jogou mais e quem sentiu mais ciúme, mas a Camila fez tudo o que você a fez jurar que faria.
Megan olhou para mim.
Tudo bem. Agora eu quero saber exatamente o que aconteceu. Nada
dessa bobagem vaga.

Nesse momento uma mulher entrou meio agitada na sala. O cabelo
formava um coque frouxo preso por um lápis e várias mechas haviam
escapado do arranjo, dando a impressão de que ela havia enfrentado uma ventania.
Lauren, eu sabia que tinha escutado sua voz. Preciso do seu rosto.
— Mãe, estou com uma amiga. — Ela apontou na minha direção.
A mulher sorriu para mim.
Não sei em que isso muda as coisas. Pode trazê-la.
Megan se levantou e foi atrás da mãe, que já saía da sala sem esperar por
uma resposta.
Não adianta discutir — disse Lauren. — Ela sempre vence. — E me
levou pelo corredor até uma sala grande com porta dupla e assoalho de
madeira.

Dentro dela havia toneladas de pinturas, algumas concluídas e
penduradas, outras pela metade, e também havia telas em branco. Uma
delas repousava sobre um cavalete, e no chão embaixo dele havia uma
folha grande coberta de manchas de tinta, como se alguém tivesse
abandonado a pintura no meio. Todas nós entramos na sala.
Mãe, esta é a Camila.
— Ai, desculpa, que falta de educação. — Ela estendeu a mão para mim. — Eu sou a Clara. Peço desculpas por roubar essa garota, mas preciso desse rosto lindo. Ah, me fala se este rosto não inspira criatividade.

Lauren e Megan reviraram os olhos.
Ela diz isso sempre que traz a gente aqui, e depois cria coisas como
aquela. — Lauren indicou uma pintura que era meio inseto, meio zebra, um rosto que se abria para revelar uma flor desabrochando. — Eu não inspirei aquilo.
Inspirou sim — a mãe afirmou.
Ela se sente sozinha aqui — comentou Megan.
As minhas filhas debocham de mim, mas são as minhas musas. — Ela me estudou. — Acho que você também pode ser uma musa. A sua estrutura óssea é incrível.
Não acredite nisso — Megan interferiu. — O que ela está dizendo é que quer pintar ossos, ossos de dinossauro, provavelmente, ou coisa parecida, enquanto olha para você.

Clara não parecia ofendida com a provocação. Só deu risada e começou
a pintar, enquanto Lauren ficava sentada no banco diante dela. Pelo jeito como a analisava, ela parecia usá-la como modelo, mas eu via a tela, e aquilo não era Lauren, definitivamente.
Megan olhou para mim.
Desembucha. Quero saber tudo o que aconteceu hoje.
Olhei para a mãe delas sem saber se queria admitir a mentira na frente
dela.
Minha mãe já sabe — Megan falou. — Apesar de não concordar, ela
entende por que o nosso cérebro imaturo pode achar que isso é necessário.

Não foi isso que eu disse, Megan. Falei que a vingança é produto de
emoções mal direcionadas, mas eu tenho algumas emoções com relação a Lucy também.
— Você não disse mal direcionadas — Megan argumentou, em voz alta. —
Lembro nitidamente de você falando “imaturas”.
— Talvez eu tenha dito “pouco desenvolvidas”.
— É a mesma coisa — Megan e Lauren falaram ao mesmo tempo.

Clara deu uma pincelada larga de azul-marinho na tela, bem embaixo
dos olhos roxos e tortos que já tinha pintado.
O que eu quero dizer é que a vingança nunca é a resposta.
— Sei, sei. — Megan abanou a mão para a mãe e olhou para mim. — Conta logo sobre a vingança.
Olhei para Clara e tentei descobrir se estava aborrecida com a discussão.
Ela não parecia brava.
Bom, a Lucy estava lá com o Ryan.
— Eu sabia! — Megan gritou. — Eles ainda estão juntos, não estão?
Eu assenti.
Mas você estava certa. Ela também queria a Lauren.
— Não queria — Lauren interferiu.
Então por que o abraço? Por que sentar tão perto e tocar sua perna?
— Ela tocou sua perna? — A expressão de Megan endureceu.
Tocou? — Lauren perguntou.
Ah, por favor — disse Megan. — Você sabe que sim. Não se faça de
inocente, Lauren. E você deve ter gostado.

Ela a encarou com uma expressão neutra, indecifrável.
Quero saber se vocês deram o troco — Megan falou, olhando para mim.
Ficamos de mãos dadas, trocamos abraços, dançamos…
— E a Camila pulou em cima de mim— Lauren contou.
Eu arfei, chocada, e Clara me encarou.
Eu não… Bom, mais ou menos. Foi um acidente. Eu não queria te
derrubar.
— Espero que ela tenha visto — Megan falou, sorrindo.
Viu.
Ela girou uma vez com os braços abertos, depois me segurou pelos
ombros e me sacudiu.
Você é incrível. A vingança é incrível.
Clara pigarreou.
Porque eu tenho uma mentalidade muito, muito imatura — Megan
acrescentou.
Amanhã todos nós vamos ser pessoas melhores — disse Clara, e era quase a mesma coisa que Lauren dissera mais cedo. Olhei para ela, e
Lauren assentiu uma vez.
Pessoas melhores. O jeito como elas falavam me fazia querer tentar.

Namorada De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora