Capítulo 8

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Minhas amigas e eu costumávamos sair do campus para almoçar, por isso
não foi difícil ficar para trás com a desculpa de fazer uma prova
substitutiva. Também não foi difícil descobrir onde Megan e a namorada
estavam reunidas com alguns amigos, ao lado dos banheiros químicos
vazios, que, teoricamente, não deveriam ser usados na hora do almoço.

Eu estava segurando o papel com o meu telefone. Não queria admitir
quantas vezes tinha escrito o número para criar o efeito perfeito, um misto
de casualidade e deliberação. Eu nunca tinha feito nada parecido por
nenhuma outra garota. Isso só aumentava minha frustração com toda essa história. Eu só precisava falar com ela, descobrir quais tinham sido suas motivações na noite do baile e tirá-la da cabeça, então estaria encerrado.

Megan e outra garota riscavam um jogo da velha com gravetos no chão de
areia.
Oi, Megan. Oi, Demi — falei ao me aproximar. Precisei de dois anuários e
uma hora e meia de investigação para descobrir o nome de Demi , mas
consegui. Ela não pareceu impressionada com o meu esforço. Só me cumprimentou com um aceno da mão que segurava a maçã meio comida. Megan nem ergueu os olhos dos rabiscos.

Mostrei o pedaço de papel.
Queria que você entregasse isto aqui para a... — Eu me detive,
torcendo para uma das duas revelar o nome dela.
Megan levantou a cabeça e perguntou:
Minha irmã?
— Isso. Pode entregar para ela?
Ela riscou um X no jogo da velha no chão.
Não.
— Por favor.
— Ah, bom, agora que você pediu com educação... não.
A amiga dela riu.
Ah, olha só, é Camila Cabello. Você disse para o nossa amiga que
a banda dela é uma merda e que ela devia procurar outro hobby.
Arfei.
Eu não!
— Ah, é verdade. Foi sua amiga Taylor que falou, e você riu. Dá na mesma.

Lembrei. Tinha sido no fim de um longo dia de bandas interessadas em
tocar no baile de formatura. Aquela era a quinta banda horrível seguida, e a minha cabeça estava doendo muito. Taylor, que havia se oferecido para ser uma das juradas e conseguira ser simpática até então, não pôde segurar o comentário. Eu ri. Todos rimos. Eu não devia ter feito isso. Devia ser essa a grande ofensa a que Megan se referira no dia anterior.

Ah... desculpem. Eu estava com dor de cabeça.
— Não é para mim que você tem que pedir desculpas. Não foi o meu
sonho que vocês destruíram. — Ela olhou para Demi como se esperasse
algum comentário. Talvez achasse que ela também tinha que ficar furiosa
comigo. Mas ela não ficou.
Certo — falei e abaixei a mão, ainda com o pedaço de papel com o
meu telefone.

Megan desenhou um novo jogo da velha na areia, ignorando mais que o
pedaço de papel. Demi deu mais uma mordida na maçã e sorriu para mim,
mas deu de ombros como se dissesse: “Que azar”.
Vejo vocês na aula amanhã, então.  Guardei o papel no bolso da calça e me afastei ouvindo mais gargalhadas. Parece que não tinha problema quando eram eles que debochavam.

************************************

Posso usar o carro para ir ao colégio amanhã?
A mão da minha mãe congelou no ar a caminho do copo no armário.
Por quê? — Ela pegou o copo e ficou de frente para mim.
Tenho que fazer uma coisa depois da aula. E isso pode incluir seguir
alguém como uma maníaca obcecada. — Não quero ter que pedir carona para a Dinah.

Ela pensou enquanto enchia o copo com água da porta da geladeira.
Minha mãe era corretora de imóveis, e, se tivesse toneladas de visitas
agendadas para o dia seguinte, meu plano não daria certo. Mas
normalmente ela não ficava muito ocupada durante a semana. Era no fim de semana que as pessoas iam visitar dúzias de casas que não comprariam, ou aquelas que já tinham visto uma dúzia de vezes.
Acho que sim. Eu uso o carro do seu pai se precisar, mas não quero
que vire regra, entendeu? Você e a Dinah brigaram ou alguma coisa assim? Seu pai me contou sobre a Ariana.

A linha de raciocínio não fazia sentido para mim. Ela estava dizendo
que, porque eu brigara com Ariana, agora ia brigar com todo mundo que
conhecia?
Não, não brigamos. Continuamos... como sempre.
Tudo na minha vida continuava como sempre fora. Eu podia me sentir excluída, mas tudo à minha volta era exatamente igual.
Que bom. Você ia odiar começar a faculdade brigando com sua
companheira de quarto.
— Hum... obrigada, mãe.
Ela riu.
Você entendeu o que eu quis dizer.
Entendi, e ela estava certa. Eu não queria que isso acontecesse. Por que
eu menti para Dinah?
Sim, você tem razão. Mas a gente não brigou.
Ainda não, pelo menos. Eu a observei tomar a água e pensei em perguntar o que ela achava que aconteceria por eu ter contado aquelas mentiras às minhas amigas.
Talvez ela tivesse alguma boa ideia. Mas não perguntei.
Obrigada por me deixar usar o carro — falei e então saí da cozinha.

Liguei para Dinah a caminho do quarto e me joguei de costas na cama.
Oi, Dj — falei quando ela atendeu.
Oi.
— Então, não preciso de carona para o colégio amanhã. Vou usar o
carro da minha mãe.
— Por quê? — Era uma pergunta justa. Íamos juntas para o colégio
desde que tiramos habilitação e meus pais decidiram que eu não precisava
de um carro. A culpa era do meu irmão, dos três acidentes em que ele se envolveu antes de completar dezoito anos. Eu só não ia para o colégio com Dinah quando uma de nós estava doente.
Tenho que resolver umas coisas para a minha mãe.
As mentiras agora eram infinitas, e isso era horrível. Eu era horrível.
Você está brava comigo?
— É claro que não.
— Você está esquisita desde o baile.

Eu me sentia esquisita desde o baile, como se pela primeira vez avaliasse
minha vida e descobrisse muitas falhas. Começando pelo fato de Megan  estar certa. Eu era covarde. Tinha medo de contar a verdade para as minhas amigas. E se a Dinah não quisesse dividir o quarto comigo na faculdade? E se ela me odiasse?
Eu sei. Desculpa.
— Tudo bem. — Ela suspirou.
Voltei a conversa para um assunto mais seguro.
Dá para acreditar que a gente vai se formar?
— É, antes parecia que o colégio ia durar para sempre, e agora está
voando.

Enrolei a ponta do lençol em um dedo e dei várias voltas enquanto
ouvia Dinah falar sobre como seria divertido ir para a faculdade. Sim,
encontrar a Ariana postiça era a chave. Ela tinha feito isso comigo, e eu precisava reverter a situação.
Até agora tudo havia transcorrido como planejado.

Consegui encontrar Megan depois da aula e, discretamente, vi quando ela entrou no carro que não era da irmã. Ou era, mas não era ela quem estava ao volante. Viramos à direita duas vezes e passamos por três semáforos. Ela havia dito que morava a seis quarteirões do colégio, o que me fez pensar que já estávamos
perto da casa delas. Minhas mãos começaram a suar, e eu as limpei na calça jeans sem desviar os olhos do carro à frente. Não podia perdê-los de vista.

O motorista ligou a seta, e eu fiz o mesmo. Eles entraram no
estacionamento de uma loja de conveniência. Hesitei. Não queria perdê-los, mas o estacionamento era pequeno. Megan certamente me veria.

Eu estava quase passando da entrada quando decidi entrar, e virei a
direção do carro tão depressa que os pneus cantaram no asfalto. Eles
ouviram, claro, mas não tinha importância, porque já haviam saído do carro e Megan estava parada esperando por mim.

Suspirei e parei na vaga ao lado da deles.
Você está seguindo a gente?
— Quê? Não. Hoje a raspadinha está com desconto — improvisei ao ler
a placa na vitrine. — Sempre venho aqui às quartas-feiras.
Ela olhou para trás, para a porta, depois para mim.
É mesmo? Ah, bom... pensamos que você estivesse seguindo a gente.
Acho que não. Vai curtir sua raspadinha. — Ela segurou a maçaneta da porta do carro.
Espera. Você não vai entrar?
— Não.
— Vai para casa?
— Sim.
Ela abriu a porta.
Tudo bem, eu nunca venho aqui. Estava seguindo vocês. Só quero
ver a sua irmã de novo.
Ela apoiou o quadril na porta e me olhou lentamente da cabeça aos pés.
Tá. Só que não vai rolar. — Megan entrou no carro, e eles foram embora.

Desde quando eu corria atrás de alguma coisa? Não fazia sentido.
Chega. Eu não precisava encontrá-la para esquecê-la. Era o fim. Eu ia seguir em frente. Tirei um grande peso dos ombros com esse pensamento. Menos
uma Ariana; agora só faltava uma.

Namorada De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora