Namorada De Aluguel

Capítulo 15

— Ah — ouvi Lucy exclamar. — Desculpem.
Sentamos como se tivéssemos sido pegas no flagra. Lauren passou a mão no cabelo, se livrando da areia e bagunçando completamente o que eu havia arrumado.
— Oi, Lucy. Precisa de alguma coisa?
— Não. Quer dizer, sim. O Spencer está te procurando.
Os olhos de Lauren brilharam.
— O Spencer está aqui?
— Acabou de chegar. Eu disse que você viria.

Lauren se levantou depressa e estendeu a mão para me ajudar. E fez
isso com tanta força que quase fui parar no chão outra vez. Depois
começou a andar, e olhou para trás uma vez para ver se eu a seguia. Eu
tentava, mas ela estava indo rápido demais.
— Eles têm um caso de amigos — Lucy comentou, e aí eu percebi que ela
estava andando ao meu lado. — Mas você já deve saber disso.
— Ainda não conheci o Spencer.
— Não? Eles são praticamente a mesma pessoa. Apesar de o Spencer ser um pouco exagerado para o jeito tranquilo da Lauren.

Vi Lauren abraçar um cara, e eles trocaram vários tapinhas nas costas
antes de se afastarem. Eu conseguia ouvir a risada dos dois de onde estava, a uns dez metros.
— Ela vai querer te apresentar — Lucy falou e me deu um empurrãozinho.
— Ah. Certo. — Eu não queria que Lauren tivesse que sustentar a
mentira com pessoas de quem gostava de verdade, mas, com Lucy ali parada, eu não podia fazer nada.

Continuei andando até parar ao lado dela. E pela primeira vez vi de fato
o rosto de Spencer, os olhos escuros, quase pretos, com aquela luz, e quase
recuei um passo. Eu o conhecia. Bom, não realmente. Ele tinha saído com a
Ally uma vez havia dois anos, e eu fui fazer companhia. Só lembrava
disso porque ele tinha sido um tremendo babaca, a tratou mal o tempo todo e ainda tentou transar com ela no fim da noite.

Lauren estava contando a Spencer sobre uma cena que ela teve que
fazer na aula de teatro.
— ... e aí eu perguntei à professora: “Pode ser um monólogo?”
Spencer riu.
— O que a menina falou?
— Ela achou que eu estava brincando.
— E você continuou?
— O que mais eu podia fazer?
— Não sei… talvez parar de se preocupar com os sentimentos dos
outros pelo menos uma vez e pensar na sua nota.
Lauren deu de ombros.
— Tanto faz. No fim deu tudo certo.

Spencer olhou para mim, e eu fiquei esperando que ele também me
reconhecesse, mas não aconteceu. Ele só parecia se perguntar por que
aquela garota esquisita estava interrompendo a conversa. Fazia dois anos, e o encontro nem havia sido comigo. Era compreensível que ele não me reconhecesse.

Lauren olhou para mim com aquela expressão feliz, e foi como se
voltasse de repente à realidade.
— Ah, oi, Camila.
— Você conhece essa gata? — Spencer perguntou.
— Conheço. Ela veio comigo.
— Sortuda. Como uma menina sem graça como você descola uma garota
como ela?
— Deve ser meu charme fatal.
Spencer olhou para mim.
— É isso mesmo?
— Ela é bem charmosa.
— Humm. Pensei que charme fosse especialidade minha.

Lucy, que havia se juntado a nós, riu.
— Existe uma diferença entre ser charmoso e ser atrevido, Spencer.
— E você deve conhecer bem essa diferença — ele respondeu.
Lucy ergueu uma sobrancelha. Esperei pela resposta, mas ela e Spencer riram. Depois ele a agarrou e a jogou em cima de um ombro.
— Eu já volto. Só vou jogar esta garota no mar. Faz parte do presente
de formatura. — E saiu correndo, como se fosse justamente essa a sua
intenção.
— Nem vem! — ela gritou, batendo em suas costas. — Lauren, me salva!
Lauren se limitou a dar de ombros e continuou sorrindo.
— Ryan!— Lucy berrou.

Lauren e eu vimos Spencer correr para o mar. Antes de ele chegar lá,
Ryan os alcançou e os dois fingiram uma luta na areia. Lauren suspirou.
Pela primeira vez na noite, ela parecia feliz. Eu não precisava contar a ela
que Spencer havia sido um babaca com a minha amiga dois anos atrás.
Spencer nem se lembrava disso, era evidente, e devia ter mudado muito
depois daquilo. Parecia diferente, mais legal.
— Seus amigos são divertidos — eu disse.
— É, a gente se divertia muito.
— Tem saudade disso?
— Tenho saudade de como era antes. Agora é tudo diferente, e é inútil
tentar fazer voltar a ser como era.

Eu esperava que isso significasse que ela tinha desistido de tentar reatar
com Lucy. Ela e Ryan não a mereciam.
Lauren estava sentada em uma mesa conversando com Spencer
quando voltei do banheiro. Eu me aproximei dela por trás e passei os
braços por cima de seus ombros, colando o rosto ao dela. Segura essa, Lucy, pensei quando ela passou por nós com Ryan. A noite estava bem mais fria, e o rosto de Lauren era morno. Senti seu sorriso quando ela entrelaçou os dedos nos meus.

— Vocês duas são fofas de dar nojo, sabiam? — Spencer comentou.
Lauren ficou tensa e mudou de posição na cadeira. Seus dedos
soltaram os meus, e ela cruzou os braços. Ah, não. Estava se sentindo
culpada. Queria contar ao amigo que era tudo mentira. Eu sabia, porque
conhecia o sentimento. Uma coisa era mentir para Taylor, porque era como
se ela merecesse; outra, completamente diferente, era mentir para Dinah e Ally.
— Por favor, não — cochichei. Lauren não podia contar esta noite, não
sem saber como o amigo reagiria à notícia. Spencer poderia contar tudo a Lucy, e então a noite teria sido inútil. — Você pode terminar comigo amanhã e contar para ele.

Lauren assentiu, tensa. Beijei a pele sob sua orelha. Ela estava tão
perfumada que eu queria ficar ali, tirar vantagem dos últimos momentos de contato físico que teríamos.
Senti quando ela se arrepiou e me afastei.
— Quer ir embora? — ela perguntou.
— Fica aí conversando mais um pouco. Vou buscar seus sapatos.
Ela olhou para os seus pés descalços.
— Ah, é. Deixei perto das pedras. Obrigado.
Estava ficando tarde. Havia escurecido, e era mais difícil enxergar o caminho na praia.
Contornei as pedras e vi duas pessoas se agarrando.

— Ai, desculpa!
Lucy e Ryan levantaram a cabeça para olhar para mim, ela ajeitando o
cabelo. — Desculpa — repeti. — Só preciso pegar os sapatos da Lauren. Estão ali.
Peguei os sapatos.
— Vocês vão embora? — Lucy perguntou.
— Vamos.
— Obrigada por terem vindo — Ryan falou quando eu estava prestes a
sair dali. — É bom ver a Lauren feliz de novo.

É tudo encenação, seu babaca, eu quis dizer. Você é o pior amigo do
mundo, e não use a felicidade dela para se sentir menos culpado. Mas não falei nada, claro.
— Ah, com certeza. A gente se vê.
Lauren estava caminhando na minha direção quando eu saí do semicírculo de pedras.
— Obrigado — ela disse, apontando para os sapatos quando nos
encontramos. Eu me senti feliz por ter sido eu a pegar Lucy e Ryan atrás
daquelas pedras, e não ela. Lauren não precisava ver mais do que já havia visto naquela noite.
Ela me abraçou e escondeu o rosto no meu cabelo.

— Obrigado por hoje.
Fechei os olhos.
— Tudo bem. Foi divertido. — E me surpreendi ao perceber que estava
sendo sincera. Lauren era uma companhia agradável.
Ela envolveu minha cintura com um braço, e com a outra mão acariciou
minhas costas. Talvez também quisesse tirar proveito dos últimos
momentos de contato físico que teríamos.
— Eu também me diverti. Vou te levar para casa. — Ela me soltou e
pegou minha mão.
Olhei para trás e vi Lucy parada ao lado das pedras, nos olhando. Eu
devia ter imaginado que ela era a razão para o contato físico.