Capítulo 39

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Fechei os olhos e imaginei o que ia dizer quando subisse no palco para o
discurso diante do colégio inteiro. Meu foco principal era animar os
formandos para a colação de grau e, principalmente, para a festa sem álcool que eu tinha organizado nos últimos dois meses.
O que começou como mais um tópico para o meu currículo acabou se
transformando em algo que eu esperava com entusiasmo. Especialmente depois de Marcus ter me avisado que sua banda tocaria na festa.

O barulho era alto no ginásio, onde todo o corpo estudantil estava
reunido. De onde eu estava, atrás da cortina pesada, o som fazia pressão.
Respirei fundo três vezes, meu discurso perfeito, minha confiança em alta.
Daniel estava ao meu lado, pronto para subir ao palco comigo, embora
raramente falasse para o grupo. Quando ouvimos meu nome e o dele pelo sistema de som, saímos de trás da cortina. Senti uma leve mudança na
reação da plateia à minha presença. Normalmente eu era recebida por
aplausos estrondosos e assobios. Hoje, além disso, havia também um
murmúrio mais baixo. Não de todo mundo, mas de algumas pessoas. Era a primeira vez que eu percebia que a influência das minhas atitudes ia além do meu círculo de amigas.

Peguei o microfone e pigarreei.
Oi, todo mundo! Sejam bem-vindos ao último discurso do ano! Quem está pronto para o verão? — Ao meu lado, Daniel levantou a mão e deu um grito.
Houve um estrondo coletivo na plateia, mas a reação também foi
seguida pelo murmúrio de fundo. Aquilo me incomodou. O discurso que
eu havia ensaiado segundos antes me fugiu da memória. Meus olhos
varreram o ginásio e encontraram Dinah. O rosto dela era o porto seguro que eu sempre procurava na multidão nas poucas vezes em que perdia a pose. Mas hoje não havia segurança naquele rosto, e olhar para ela só serviu para expulsar o resto do discurso da minha cabeça.

Desculpem. — Ouvi minha voz ecoar pelo ginásio. Daniel deixou
escapar uma exclamação de surpresa. Eu não queria me desculpar em voz
alta, mas era necessário, ou não conseguiria continuar. — Eu cometi um erro. Não vou tratar o assunto de forma vaga: vou assumir o que fiz. Eu
menti. Passei o último mês mentindo para as minhas amigas. E não
precisava ter mentido. Menti principalmente porque não acreditei que elas ainda seriam minhas amigas se eu contasse a verdade. E também porque estava pensando só em mim. Não considerei nada além dos meus
problemas. O que tem de errado comigo?
Era uma pergunta retórica, mas alguém na plateia gritou: — Nada! Você continua gostosa.

O comentário provocou uma explosão de gargalhadas.
Revirei os olhos.
É, obrigada. Isso não ajudou muito. O que estou dizendo é que pisei na bola feio. Dinah, Ally e Taylor, peço desculpas. Na verdade, peço desculpas a qualquer pessoa que tenha ouvido essa história e se decepcionado comigo. Estou tentando melhorar. Eu quero ser uma pessoa melhor.
Durante o discurso eu olhava em volta, analisava o ambiente, mandava
uma mensagem, mas agora olhei novamente para Dinah. Mordi a parte
interna da boca quando vi que a frieza persistia em seu rosto.

Desculpa. — Entreguei o microfone a Daniel. — Salva o discurso. Anima o pessoal para a festa sem álcool.
— Não posso. Não sei o que dizer. — Seu rosto era a imagem do pânico.
Seja engraçado, só isso. Você sempre é.
O pânico desapareceu.
Eu sou, não sou?
Sorri, afaguei seu braço e saí enquanto Daniel gritava “formatura sem álcool” várias vezes.

***        ***         ***          ***         ***

A banda de Marcus era boa, e eu não era a única que pensava assim. A
maioria dos alunos na festa sem álcool dançou e tentou cantar com as
músicas que ninguém tinha escutado antes. Considerando que ninguém
tinha bebido, o principal objetivo da formatura sem álcool, isso significava
que era a banda que provocava toda aquela animação. Levantei o polegar
para Marcus quando ele olhou para mim. Tive a impressão de que ele riu,
como se essa não fosse a maneira correta de expressar minha aprovação.

Namorada De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora