Capítulo 35

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Acordei com uma voz cantarolando baixinho. Desafinada. Abri um olho e
vi minha mãe deixando as roupas dobradas em cima da minha cômoda.
Você devia estar acordada — ela disse.
Pus o travesseiro em cima da cabeça.
Não vou ao colégio hoje.
— Sim, você vai.
— Mãe, eu não quero ir. Tive um dia ruim ontem.
— Você não pode se esconder dos problemas.
— Por que não? Você se esconde.
O silêncio foi tão prolongado que eu pensei que ela tivesse saído. Tirei o
travesseiro de cima da cabeça e a vi em pé no meio do quarto, olhando pela janela com uma expressão triste. Eu queria retirar o que disse, mas não
podia.

Pode usar o carro do seu pai — minha mãe avisou, depois se virou e
saiu do quarto.
Tomei banho e me vesti para ir à aula. Fui à cozinha tomar café com
minha mãe, como sempre fazia, pensando em pedir desculpas, mas ela não estava lá... como de costume. Havia um bilhete em cima da bancada. “Fui trabalhar mais cedo. Tem cereal na despensa.”
Drew entrou na cozinha e leu o bilhete por cima do meu ombro.
Você magoou a mamãe.
Rangi os dentes.
Você magoou a mamãe. — Passei por ele, peguei a chave do carro no
gancho da parede e saí.

Drew estava certo. Eu tinha estragado tudo, mas hoje começaria a
consertar as coisas.
Entrei no estacionamento e parei na área onde Dinah sempre parava. O
carro dela não estava lá. Esperei até ouvir o sinal, mas ela não apareceu. O
segundo sinal também não a fez aparecer. Vi o carro de Ally algumas
fileiras longe do meu. Elas vieram juntas? Eu sabia que tinha que consertar as coisas com Ally e Taylor também, mas queria começar com Dinah.
Suspirei e saí do carro. Quando estava indo para a sala de aula, tive uma
ideia. Eu era a presidente do conselho estudantil. Normalmente não
abusava do título, mas hoje o faria trabalhar por mim. Mudei de direção e fui à secretaria.

Se agisse como se fosse uma coisa normal, ia dar certo. Forcei um sorriso e falei com a Sra. Fields.
Oi, estou cuidando dos últimos detalhes do discurso do conselho na
sexta-feira e preciso da Dinah Hansen. Pode dispensá-la da primeira aula?
— Em que sala ela está? — a Sra. Fields perguntou, como se eu fizesse
isso sempre.
Cálculo. Freeman.
Meu coração disparou, mas ela não percebeu, porque pegou o telefone
e digitou um ramal.
Oi — disse, depois de um instante. — Preciso da Dinah na secretaria,
por favor. — Depois de alguns “hums”, ela desligou. Esperei que me
dissesse que Dinah não havia ido ao colégio.
Ela não disse. Em vez disso, sorriu e me avisou:
Ela vem vindo.

— Ah, ótimo. Vou esperar lá fora. Obrigada.
Saí da secretaria e tentei pensar no que ia dizer. Não havia desculpa para
o que eu tinha feito. Para o que eu tinha falado. E esse seria um bom
começo. Era verdade. Se eu fosse a Dinah, também estaria brava. Mas nós
fomos melhores amigas durante dez anos, e isso devia valer de alguma
coisa.
Ouvi os passos dela no cimento antes de vê-la virar a esquina. Seu olhar
calmo e curioso endureceu quando me viu. Dinah parou no meio do
corredor. Não hesitei e percorri a distância entre nós.
A gente pode conversar?
— Você me tirou da aula para isso? Mentiu para a Sra. Fields para me
trazer aqui?

Talvez a ideia não tivesse sido tão boa.
Não. Sim. Mais ou menos. — Qual era o problema comigo? Segui o
plano. — Não tem desculpa para o que eu fiz.
— Mentir para me tirar da aula?
— Não... Bom, isso também, mas acho que querer falar com você é uma
desculpa até que decente. — Balancei a cabeça. — Estou falando da mentira
sobre a Ariana.
— Eu sei do que você está falando. — A expressão dela ainda era dura.—Era só isso?— E começou a se afastar.
Não. E sobre o que eu falei no restaurante. Eu não quis dizer que
nunca fomos amigas. Você é a minha melhor amiga, Dinah. Fui muito
egoísta. Só quero falar sobre isso. Estraguei tudo, e queria pedir desculpas.
— Já pediu. — Ela se virou e continuou se afastando.
É assim? — falei. — Estou tentando consertar as coisas.

Namorada De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora