Capítulo 27

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Taylor acabara com o clima, e, depois de quatro horas evitando minha casa,
eu sabia que tinha que voltar e enfrentar meus pais. Então eu disse a
Lauren que era melhor encarar o problema de uma vez, e a gente se
despediu. Eu queria saber se os meus pais já tinham ligado e conversado
com Drew. Queria saber se ia encontrar um poço de histeria quando chegasse em casa. Não conseguia nem imaginar essa situação.
Respirei fundo e entrei. Estava tudo quieto. Eu não sabia se esse era um
bom ou mau sinal. Atravessei o hall a caminho da sala de estar, a tevê estava ligada. Ai, por favor, tomara que não estejam assistindo ao filme agora, pensei. Mas, quando cheguei e vi os dois sentados no sofá, minha mãe com as roupas de corretora, meu pai segurando o prato do almoço, percebi que só assistiam à programação normal.
Meu pai riu de alguma coisa.
Eu pigarreei.

Oi. Cheguei.
Minha mãe pegou o controle remoto ao lado dela e desligou a televisão.
Camila, você não pode sair desse jeito de novo, entendeu? Tem uma
maneira certa de pedir permissão para ir à biblioteca, e não é essa.
— Tudo bem... — Olhei de um para o outro.
Você tem se comportado de um jeito muito diferente desde que começou a andar com aquela Megan.
— Quê? Eu quase nem ando com ela.
— Bem, a sua nova atitude hostil coincide com a chegada dessa menina na sua vida. Quero que se afaste dela por um tempo.

Atitude hostil? Essas eram as palavras que ela sempre usava com Drew.
Não tem nada a ver com ela. Assistiram ao filme do Drew?
— Sim, nós vimos — meu pai respondeu.
E?
— E é um trabalho interessante sobre a transformação da cultura e os
efeitos colaterais dessa mudança. — Ele deixou o prato sobre a mesinha de centro e sentou na beirada do sofá.
Ele usou a nossa família como exemplo.
— E que outra família ele poderia ter usado? Ele só tem uma.
— Não sei, uma família que quisesse participar de um documentário no
qual seria alvo de deboche.
— Não foi deboche. Foi só uma visão da sociedade.
— Talvez você tenha essa opinião por não ter aparecido muito no filme.
Eu apareci. E me senti ridicularizada.
Minha mãe tocou o braço do meu pai.

Camila, lamento que se sinta desse jeito. Eu entendo, mas esperava que,
depois de um tempo, você pudesse entender que a intenção não foi
debochar de você.
— Bom, depois de toda a plateia ter rido de mim ontem à noite, vai ser
difícil acreditar que a intenção não foi essa.
— É um trabalho sobre a sociedade, Camila. Tente aceitar a obra como ela é.
— Então vocês não vão fazer nada? Não vão nem falar com ele?
— Já falamos. Dissemos que ele devia ter sido mais claro quando esteve
em casa e falado exatamente o que ia fazer com as cenas que estava
filmando, e que ele não levou em consideração seus sentimentos, mas que o trabalho foi muito bem feito. Estamos orgulhosos dele.
Engoli em seco.
Orgulhosos?
— Você não está?
— Não. Não estou. Estou furiosa.
Meu pai assentiu.
Entendo. Espero que vocês dois consigam resolver tudo isso.

Meu queixo caiu, e uma onda quente de raiva explodiu em meu peito e
ardeu nos olhos. Palavras que eu queria dizer se acumulavam no fundo da garganta. Se eu as dissesse, só faria minha mãe pensar que minha atitude
era hostil.
Pigarreei para tentar parecer calma.
Posso ir visitar minha amiga?
— Que amiga?
— A Dinah.
— É claro. Não volte tarde e telefone se for a outro lugar.
— Tudo bem. — Saí de casa me sentindo sufocada, como se não
conseguisse respirar.
Tomei a direção da casa de Dinah, mas mudei de rumo na esquina e fui
para a casa de Megan. Talvez por estar brava com meus pais e sentir
necessidade de fazer alguma coisa meio rebelde, ou porque realmente
quisesse vê-la. De qualquer maneira, foi lá que eu fui parar.
Só quando estava na varanda da casa, batendo na porta, pensei que ela  podia não querer me ver.
A Sra. Jauregui me recebeu.
Camila. Que bom te ver.
— A Megan está em casa?
— Está, vou chamá-la. Entra.

Namorada De Aluguel Onde histórias criam vida. Descubra agora