Capítulo 4

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Ela olhou para nós com a expressão confusa, depois falou alguma coisa
para a garota ao seu lado. Ela assentiu como se concordasse. Com isso, as
duas partiram em nossa direção.
Lá vem — sussurrei.
A  dublê de Ariana seguiu o meu olhar e sorriu como se não visse nada
importante.
Vou dar um jeito nisso. — E se levantou. Eu não sabia se devia segui-
la ou se ficava ali, assistindo à cena. Achei melhor continuar sentada.

Quando ela se aproximou da irmã, ela começou a falar e apontar para o
vestido. Minha acompanhante respondeu alguma coisa. Depois ela olhou para mim, um olhar de raiva. Pelo jeito ela não ia ficar de boa.

O que está acontecendo? — Taylor cochichou. É claro que ela tinha
que ser a primeira a perceber. Essa história ia explodir na minha cara. Eu
sabia. E provavelmente merecia. Fiz uma besteira, e a mentira não tinha
durado mais que uma hora. Eu devia ter sido honesta desde o começo: a
Ariana terminou comigo. Dinah e Ally teriam entendido. Teriam acreditado em mim. Provavelmente teriam até me levado para afogar as mágoas em sorvete, como fizemos com Dinah quando ela foi dispensada no
ano passado. Mas eu fui insegura.

Levantei, olhei para Taylor e disse:
Uma coisa que vai te deixar muito contente, tenho certeza. — Não
esperei pela reação dela. Só me aproximei da falsa Ariana, que tentava se livrar da irmã.
Vamos falar sobre isso fora daqui — ela estava dizendo quando cheguei perto.
Ela me olhou com as mãos na cintura. Algo naquele olhar me pareceu
vagamente familiar.
Não — a menina falou. — Você não vai usar a minha irmã desse jeito.
Ela é uma garota legal e já sofreu muito por causa de garotas egoístas como você.
— Não vamos exagerar, Megan. Foi só uma.
— Desculpa — respondi, falando com a irmã, mas olhando para ela.
Eu não queria causar todo esse problema. — E olhei para ela. — Tem razão. Eu não devia ter usado a sua irmã desse jeito. Ela é uma menina legal.

A menina assentiu uma vez, como se estivesse surpresa por eu ter concordado tão depressa.
Sim, ela é e não precisa se meter com alguém como você.
— Não generaliza, Meg. Você nem conhece a Camila.
Megan riu.
Foi isso o que ela disse? Que não me conhece? Essa é clássica.
— Eu conheço você? — perguntei, confusa, estudando o rosto dela de
novo.
Não. Não me conhece — Megan respondeu, mas tive a sensação de que ela queria dizer exatamente o contrário. Tentei lembrar de algum encontro com ela no colégio. Eu tinha sido grossa? Conhecia muita gente por causa da liderança do conselho, mas o colégio era grande, tinha uns dois mil
alunos pelo menos. Eu precisava me esforçar mais para lembrar nomes e
rostos.

Apontei para a mesa.
Desculpa. Estou criando problemas demais hoje, mas vou cuidar disso
agora mesmo. Vou contar a elas o que aconteceu.
Era a hora da verdade.
Eu enfrentaria minhas amigas, que já olhavam para nós. Elas me perdoariam ou não. Dei um passo em direção à mesa, mas fui impedida por
alguém que segurou a minha mão.
Não. Não faz isso. Você tinha razão. A Taylor é no mínimo uma doença
contagiosa. Ela vai te crucificar.
— Tudo bem. As coisas vão se acertar. Minhas outras amigas vão ficar do
meu lado. Muito obrigada pela ajuda. Você foi incrível. — Fiquei na ponta
dos pés e beijei seu rosto, depois me virei antes que eu mudasse de ideia.
Pensei em tudo que ia falar enquanto me aproximava da mesa. Eu sabia
que Taylor ia questionar cada verdade que eu falasse, então me preparei para isso também. Eu me esquivava dos ataques dela havia meses. Podia
lidar com mais esse.

Olhei para Dinah e vi a preocupação estampada em seu rosto. Foi o que me confortou quando cheguei à mesa.
Tudo bem? — Dinah perguntou.
Não, tenho uma coisa para contar. Para vocês duas — esclareci,
olhando para Ally e de novo para Dinah.
Nesse momento, a dublê de Ariana apareceu ao meu lado.
Por favor, Camila. Ela não significa nada para mim.
Meu queixo caiu com a surpresa.
Sei o que você deve estar pensando, mas só quero uma chance para me explicar.

Se eu soubesse o verdadeiro nome dela, teria falado alto e em tom de
censura, mas não falei. Esse não era exatamente o rompimento discreto
com o qual eu contava. Além de transformar minha namorada em uma galinha, ela estava terminando comigo na frente de metade da escola. Senti o rosto quente de vergonha.
Não, não faz isso. Eu vou ficar bem.
— Ah, é? Vai ficar bem longe de mim? É isso o que você sente? Quer que
eu vá embora como se você nunca tivesse existido? Bom, e eu, Camila ? O que eu vou fazer sem você?

    A voz soava cada vez mais alta, e no fim da declaração ela estava quase gritando. Muitos olhares foram atraídos pela comoção. Tive que me virar de costas para minhas amigas, porque sentia a risada nervosa borbulhando na garganta e tinha certeza de que não era essa a reação mais adequada para o que estava acontecendo ali. Se fosse outra pessoa, o discurso teria parecido exagerado e falso. Mas, com ela, era convincente. A menina parecia desesperada. Provavelmente minha reação com a verdadeira Ariana havia sido bem parecida.
Toquei em seu peito e falei em voz baixa:
Não faz isso.
Seu olhar era tão intenso que, por um momento, esqueci que tudo aquilo era fingimento.
Dá para ver que você já tomou sua decisão. Telefona, se quiser me
ouvir. — Ela abaixou a cabeça como se reconhecesse a derrota, depois se
afastou, desolada, como se estivesse sofrendo de verdade. Se ela não era atriz, deveria ser. Vi a irmã sair do ginásio atrás dela depois de olhar feio
para mim. Provavelmente ela não tinha a intenção de confirmar a história da irmã, mas suas atitudes só davam credibilidade a tudo o que ela havia acabado de dizer. Eu fiquei ali parada, respirando fundo e esperando o rosto esfriar um pouco, quando alguém me abraçou.

O cheiro familiar do perfume de Dinah invadiu meus sentidos, me
tirando do estado de choque.
Sinto muito — ela disse. — Que babaca. Ela deu em cima daquela
garota?
— Não. Ela não é uma babaca. — E eu nem sabia o nome dela.
Para de defender a garota, Camila. E nem pense em aceitar a idiota de
volta. Você merece coisa melhor.
Assenti, distraída, tomada por uma urgência muito estranha de correr
atrás dela. Em vez disso, olhei para minhas amigas com um sorriso apático.

Por que eu estava reagindo desse jeito? Eu nem a conhecia. Por que então eu tinha a sensação de ter levado o segundo fora na mesma noite?
Balancei a cabeça. Eu tinha minhas amigas, e isso era tudo o que
importava agora. Abracei Dinah e olhei para Taylor. Surpreendentemente, ela não estava olhando para mim. Estava encarando a porta, por onde a dublê de Ariana tinha acabado de sair. Sua expressão era calculista, e tentei imaginar o que ela estava pensando. De uma coisa eu tinha certeza: não era algo bom.

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