Capítulo 4.

2.6K 245 179
                                    

8:00

Eu acordei com gritinhos de crianças, vindo da rua.
Quando eu levantei, eu vi as crianças da casa da frente correndo pela rua.

Eu fui até o banheiro. Eu tomei um banho, e quando saí, vesti Um short preto e um casaco azul.

Era sábado, e meu pai não estava em casa.
Minha mãe tinha tirado dia de folga. Na verdade, eu não sei porquê ela tinha feito isso, talvez estivesse muito cansada do hospital. Porque quando você tem uma mãe psiquiatra, ela não para em casa.

Quando eu desci, eu vi Jonah sentado no sofá, comendo um muffin, e Izzy vendo um desenho que passava todos os dias manhã, enquanto mamãe lia uma revista de moda.
Eu fui até a cozinha e bebi apenas um pouco do capuccino que eu tinha feito ontem à noite, e que estava dentro da geladeira. Capuccino é muito mais gostoso gelado, do que quente.

Eu o bebi enquanto lia coisas no meu celular, verificava meu e-mail, mesmo sabendo que não teria nada, e fazia o mesmo com minhas mensagens.

Naquele dia eu fiquei deitada em minha cama, lendo outra vez meu livro preferido.
É um livro bem famoso, acho que todos conhecem. O nome é As Vantagens de Ser Invisível, e é incrivelmente maravilhoso. Conta a história do Charlie, são cartas que ele manda pra alguém que não sabemos quem é. Ele tem depressão, porque perdeu sua tia e seu amigo, e então, ele é um adolescente sozinho. Mas as coisas começam a mudar quando ele conhece a Sam e o Patrick.
Eu não posso falar mais do que isso, se não eu posso dar spoiler, ou alguma coisa assim. Mas ele é o tipo de livro, que a cada leitura, é um sentimento novo e diferente, ele faz você pensar, viver a vida.

Eu fiquei fazendo muitas coisas, até a minha mãe passou na porta do meu quarto, arrumada pra sair. Com um vestido vermelho e o cabelo solto.

-Eu vou sair com as meninas do hospital, tudo bem? - Ela disse, abrindo a porta por inteiro, agora. -Devo voltar umas oito ou nove.

-Tudo bem.

-O seu irmão vai ficar em casa, então se quiser comer manda ele pedir pizza.

Eu sorri e ela saiu. Eu escutei o barulho de seus saltos quando ela descia a escada de madeira.

Assim que a mamãe saiu, eu me levantei e fui até a janela.

Eu sempre gostei de olhar o céu, mesmo sendo algo que todo mundo goste de fazer. Ele me acalma. É por isso que eu gosto de janelas muito grandes, pra eu poder olhar pra céu. Eu gostava do céu de dia, mas à noite, ele era inexplicável. As estrelas e a lua combinavam completamente, e eu gostava delas juntas.

E foi quando eu olhei lá fora, e me deu uma grande vontade de sair.
Eu fui até o meu guarda roupa, coloquei calça jeans e casaco preto. Continuei com os chinelos que eu já usava e desci as escadas.

-Aonde vai? - Jonah gritou, quando eu estava abrindo a porta.

-Vou dar uma volta.

-Aonde?

-Vou alí, rapidinho, papai. - Eu sorri forçada, e bati a porta.

Eu não gostava muito de sair de casa. Eu gostava do meu mundo, do meu mundo sozinho, com apenas a minha presença.
Às vezes eu não gostava muito da presença da pessoas. Sei que isso parece egoísmo, ou algo assim, mas é algo que eu não consigo tirar de mim. Tem vezes que eu gosto das pessoas, e tem vezes que não.

Mas parece que naquele dia foi diferente. Porque eu realmente quis andar pelas ruas iluminadas pelos postes. Eu passei pela casa dos Smith, passei pela casa dos Andersen, dos Potter. Até que eu cheguei ao fim da rua, onde era a praça.
Um enorme chafariz no meio, e árvores e bancos pra todo o lado. Ela costumava ficar cheia, quando eu era menor, mas agora as crianças descobriram a tecnologia, e não gostam mais da rua. Por isso ela estava sozinha. Mas os postes acesos.

Mais a frente, eu vi luzes e escutava e barulhos de carro. O centro da cidade.
Eu andei as ruas de lá, vendo pessoas dentro de restaurantes, e lojas se fechando. E alí perto, um carro. Um carro preto, igualzinho ao da minha mãe, e o mesmo adesivo dos The Smiths atrás do carro.

Foi quando eu cheguei perto.

O carro estava e em um beco, na entrada dele. E assim que eu passava por alí, eu ia chegando mais perto, e mais perto. E era exatamente o carro da minha mãe. Mas eu não tive certeza porque era parecido, eu tive certeza porque eu vi a minha mãe beijando um cara. Eu a vi no final do beco, bem em cima do colo do cara.
Eu não sabia quem era o cara, e não queria saber. Mas eu sabia quem era a mulher, porque ela minha mãe, ela usava o mesmo vestido, e o mesmo sapato, e tinha os mesmos cabelos. Ela tinha que fazer essas coisas com o meu pai, não com outras pessoas.

E você deve achar que eu senti tristeza, ou raiva, certo? Mas não. Eu não senti nada disso.
O que eu senti foi nojo.

Meu corpo estava completamente cheio de nojo da minha própria mãe.

I should hate you. 🌼 Finn Wolfhard. (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora