Eu conversei com o meu pai naquele dia, e ele insistiu em querer ver os meus desenhos.
Eu estava com muita raiva. Eu estava com raiva demais porque ele achava que eu podia não ser amiga de meninos, só porque ele achava que eram todos iguais ao seu próprio filho.
Ele tirou o meu celular de mim, e agora eu não podia falar com Finn, e eu nem podia desenhar.
Minha mãe quis falar comigo quando me viu chorando, mas eu a ignorei e entrei no meu quarto, enquanto Izzy ficou batendo direto na porta, perguntando o que tinha acontecido.
Então 14 anos é uma idade nova demais pra amar? Entendi.
As batidas tinham parado há um bom tempo.
Eu me lembrava das palavras do meu pai, com tanto ódio, dizendo que eu não poderia nem pensar em Finn, sendo que eu nem sabia o porquê de tanta raiva.
× × ×
Sábado eu não fiz nada. Eu fiquei em casa, sem qualquer tipo de internet.
Eu li livros, porque eu não podia desenhar.
Acho que a parte que meu pai ficou com raiva foi porque tinham mais de 10 desenhos de Finn no meu caderno.Até que domingo chegou, e eu fiquei no quarto, igual ao dia passado.
-Madeline? - Eu escutei a voz da minha mãe atrás da porta trancada. -O café está pronto.
Mas eu não respondi.
Há tarde, ela voltou. Ela bateu na porta outra vez.
-Tem que sair daí, não pode ficar trancada o dia todo.
-Quem disse?
-Eu. - Ela respondeu. -Vou ser obrigada a abrir sozinha?
-Parece que sim.
Depois de um tempo, o tempo suficiente pra ela ter ido ao porão pra pegar a chave reserva do meu quarto, ela voltou e abriu a porta.
-Vamos... vamos. - Ela disse, pegando o livro da minha mão. -Não pode ficar aí mofando.
-Eu posso sim.
-Por causa de um menino?
-Não é por causa de um menino... - Eu tentei dizer. -Você não entende.
-O seu pai fez isso pro seu bem.
-Meu bem? Isso é sério?
-Madeline...
-Me deixa sozinha, por favor. - Eu disse. -Por favor. - Eu sussurrei.
-Não. - Ela disse. -Eu não posso, entendeu? Você sabe do que aconteceu, e agora nem olha pra mim. Olha, eu entendo você, eu entendo de verdade. - Ela fechou a porta. -Foi um erro, eu não deveria ter feito aquilo, eu sei.
-Não tem explicação, mãe.
-Você não...
-Você sabe que o menino que o meu pai tanto fala é seu paciente? - Eu perguntei.
-É, eu sei.
-Ele sabe o que você faz pelas costas dos outros.
-Não pode sair por aí falando pras pessoas essas coisas. - Ela disse.
-Não acha mais errado fazer?
-Quando ficar mais velha vai entender.
-Ah, não, mãe. Eu sei que não se deve fazer essas coisas desde quando eu me entendo por gente.
-É, Madeline. - Ela suspirou, levantando. -Você realmente não entende.
Ela foi até a porta e a fechou. E eu fiquei lá, até o resto do dia.
× × ×
Segunda.
Eu odiei aquele dia, porque parecia que os meus pais tinham feito um "acordo" com os meus professores. Eu não sei bem sobre o que se tratava aquilo, e eu nem me interessava. Eu só queria falar com Finn, mas eu acho que não seria possível fazer isso na frente das pessoas.
Eu não tinha mais o meu celular, e eu não tinha mais o meu caderno de desenhos. Eu não podia mandar mensagens pra Finn, e eu não podia desenhar mais. Meus pai tinham tirado minhas duas coisas preferidas no mundo, por causa de uma coisa estúpida. E eu odiava isso.
Eu fiquei muito tempo em baixo do chuveiro naquele dia, tentando pensar em formas pra explicar a Finn o que tinha acontecido sem parecer una criança boba. E eu estava pensando também em como vê-lo sem ninguém saber, sendo que todo lugar naquela escola tem um professor por perto.
-Não pode ficar aí pra sempre. - Minha mãe bateu na porta do banheiro pela terceira vez naquela manhã, me fazendo tomar susto, outra vez.
Eu saí do banheiro depois de um tempo, vestida. A calça irritava as minhas pernas, porque minhas pernas estavam molhadas. Parecia que qualquer coisa no mundo estava acontecendo pra me irritar, naquele dia.
× × ×
Quando eu cheguei na escola, eu encontrei Lana, com uma de suas amigas. Ela veio até mim, quando me viu.
-O que aconteceu? Te mandei mensagens o final de semana todo. - Ela falou, enquanto eu empurrava a porta da escola, entrando.
-Eu tô de castigo. - Eu respondi.
-Por quê?
-Por causa de uma coisa boba. - Eu revirei os olhos. -Porque meus pais não me querem com o Finn.
-Tá de sacanagem?
-É.
-Quando o seu irmão tinha a sua idade ele podia ficar com quem quisesse. - Eu abri o meu armário.
-Pior que nem ficamos.
-Como eles descobriram? - Ela encostou nos armários.
-Meu pai veio na reunião e os idiotas dos professores falaram que eu só desenho - eu pegava meus cadernos de matemática. -, e que eu só converso com o Finn em história.
-Mas você tem vergonha. - Eu a olhei. -É mentira?
-Pior que eles tiraram o meu celular e qualquer tipo de tecnologia, e também tiraram o meu caderno de desenhos.
-Então é castigo de verdade...
-E eu não posso ter contato físico com o Finn. - Eu rí, irônica. -Porque parece que os professores bonitinhos irão contar aos meus pais. - Eu disse, ficando quieta em seguida. -Eu queria ter um lugar na escola escondido o suficiente pra falar com Finn. - Eu falei, depois de um tempo.
-Tem um que as pessoas usam pra fumar. - Ela disse, me fazendo rir. -É verdade.
-E onde é o lugar dos drogados?
-Embaixo das arquibancadas. - Ela disse.
-Mas o Finn não sabe disso. - Eu bati meu armário.
-Eu tenho aula de química com ele, agora. É só eu mudar a minha dupla e ficar ao lado dele, e aí eu falo no meio da aula.
-Cuidado com os professores, eles sabem que você anda comigo.
-Sério que tá falando com a menina que colou quando o diretor estava dentro da sala? - Eu sorri.
-Eu já disse que amo e odeio você?
-O tempo todo. - Ela riu.
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I should hate you. 🌼 Finn Wolfhard. (Concluída)
Hayran KurguEstávamos sentados nas arquibancadas do campo. Foi a primeira vez que eu vi você. Você olhava pra mim paralisado, e foi o que aconteceu comigo também quando eu vi você. Eu não estava perto o suficiente pra conseguir ver os seus detalhes, mas eu nunc...