Capítulo 2.

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Eu nunca gostei de História. Não adianta as pessoas dizerem o quanto é legal, porque não é. E é a aula que eu desenho mais.

A aula não tinha começado há muito tempo, mas tinha tempo o bastante pra ela ser chata. A professora falava sobre política.

Foi quando a porta abriu.

E eu vi quem você imaginou.

Eu vi o menino. E ele usava preto, outra vez. Uma calça preta e uma blusa de botão, também preta. A única coisa que não era preta, era a touca vermelha que ele usava.

Ele sussurrou algo pra professora e foi sentar no fundo da sala.

E eu não me contive.
Eu olhei. Mas eu olhei muito, deixando muito na cara.

Ele olhou pra mim, e quando me viu olhando, desviou o olhar. E eu fiz o mesmo, eu olhei de novo pro meu caderno completo de desenhos.

Eu odiei o fato de querer olhar o tempo inteiro, e odiei o fato de quando eu olhava, ele também estava olhando. O que significava que ele sabia que eu olhava o tempo todo.

Meu Deus, o que tá acontecendo comigo?, eu pensava o tempo todo.

Até que o sinal tocou, pro intervalo.

Eu fui até o meu armário.

Sabe aquelas figurinhas que todos os adolescentes colam nos armários? Eu coloco muitas no meu armário, e eu sou viciada nisso. Tem muitas fotos cortadas dos caras que eu tenho um crush muito grande, como o Cole Sprouse, ou o Ezra Miller, ou o Nick Robinson, ou o Evan Peters. Esses são os que tem muitas fotos, mas tem outros garotos, também. E não são só garotos, porque tem desenhos meus, fotos e frases que eu colei durante o ano. Eu gosto de colar coisas dentro do meu armário, nas paredes do meu quarto, no meu diário... Eu gosto mesmo dessas coisas.

Eu peguei a câmera que estava estava dentro do meu armário. Eu passava as fotos enquanto eu andava, indo pra cafeteria, que eles chamavam de centro de nutrição, o que era uma coisa muito sem noção. Por que não só "cafeteria"? Que palhaçada!

As fotos que eu tirava eram especiais. Acho que esse é o lance da fotografia, capturar momentos extraordinários. E é o que eu faço. As fotos que eu tirava eram fotos como Izzy desenhado deitada no chão da sala, ou Jonah concertando o seu carro, ou uma foto minha com o sr. Andersen, quando teve o projeto de matemática, ou quando eu tomei sorvete de paçoca pela primeira vez com Lana, minha colega de turma de biologia. Foram momentos legais.

Quando eu cheguei na cafeteria (não sou obrigada a falar "centro de nutrição"), eu fui até a cantina. Eu não almoçava na escola, porque a comida era cara demais, e nem era boa. Eu comia um pacote de Snickers, ou bebia uma latinha de refrigerante, ou eu comia os dois juntos. Eu costumava pedir fritas com queijo, mas pararam de vender porque as garotas reclamavam que estavam gordas demais, o que é meio idiota, porque se você não quer ficar gorda, é só não comer. Tudo bem que não é um crime e nem nada ser gordo, mas a sociedade trata isso como se fosse algo muito ruim. Você não tá matando ninguém sendo gordo. Você só tá comendo, e isso é ótimo porque você tá feliz fazendo isso. Seria ótimo se as pessoas pensassem assim.

Mas pra sociedade, ou você é magro demais, ou é gordo demais. Ou é gentil demais, ou grosso demais. Ou é bonita demais e é invejada, ou é feia e é xingada. É por isso que eu odeio muito o mundo, odeio muito muitas coisas quem tem nele.

Eu fui até a cafeteria. Peguei um pacote de Snickers e paguei. Fui até um das mesas e me sentei. Peguei o notebook de dentro da mochila e o coloquei em cima da mesa. Eu abri o pacote da barra e mordi um pedaço, enquanto eu terminava de editar uma foto que a namorada de Jonah havia me pedido.

-E aí, tudo bem? - Aquela era a voz de Lana.

Foi quando eu olhei pra frente, e a vi, por trás da tela do notebook. Ela comia um sorvete rosa, que eu acho que era de morango.

Lana tinha um beleza comum. Ela era adorada pelos meninos, mas ela não dava muito atenção pra eles, porque ela era apaixonada por Jacob, o menino do segundo ano que pega muitas meninas. Sempre tem o carinha adorado na escola, e ele sempre vai ser o crush da Lana.
Ela tem a pela morena e os cabelos são escuros e cacheados. Ela tem os olhos claros. Os olhos verdinhos combinam completamente com a sua cor de pele. Não é todo dia que se vê uma menina morena com os olhos verdes. E ela tem um corpo muito bonito. Algumas garotas demoram demais pra ter corpo, é por isso que algumas ainda não tem.

-E aí? - Eu fechei o notebook.

-O que tá fazendo?

-Eu tava editando uma foto pra Gabriella. - Ela revirou os olhos. -É.

-Eu queria te pedir um favor.

-Pode dizer. - Eu disse, mordendo mais um pedaço do meu doce.

-Você pode desenhar a minha prima? Eu quero dar um presente pra ela mas acho que uma bolsa é algo muito sem graça. - Ela deu uma pausa, colocando mais um colherada de sorvete na boca. -Você não acha?

-Tá perguntando logo pra mim? Eu nem tenho bolsa.

-É bom ter bolsa, sabia? Você pode levar as suas coisas.

-Que coisas? Eu não retoco maquiagem e nem preciso de mil coisas quando saio. Eu posso levar meu celular em um bolso, e o dinheiro no outro. - Ela balançou a cabeça, rindo. -É sério.

-Eu não entendo. Sua mãe se arruma demais, enquanto você nem consegue andar de salto.

-Eu gosto de me maquiar, e gosto de me vestir bem. Mas eu não gosto muito de saltos. - Ficamos quietas.-Eu uso saia e vestido.

-Com tênis.

-Eles sim são confortáveis. Vai dizer que você se sente confortável com saltos gigantes?

-Tenho que sofrer pra ser bonita.

Até parece, eu pensei.

Ela terminou o seu sorvete, e eu terminei minha barrinha de chocolate. Eu guardei minhas coisas e esperei o sinal tocar pra próxima aula.

E então, ele tocou.

I should hate you. 🌼 Finn Wolfhard. (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora