Petrifiquei (Poema)

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Sou um vulcão.
Sou quente, mas adormecido
Espero efusivamente, mas ninguém me espreita.
Estou coberto de terra, de neve e já fui esquecido.
Pisam-me as raízes das flores e da gente satisfeita.

Sou um cume.
Sou vasto, alto e consigo ver tudo
Suporto continentes, as árvores, as casas e o ar.
No entanto, nada digo. Prefiro permanecer mudo.
Oxalá um dia possa fazer os telhados e o céu desabar.

Sou a lava.
Escorro pelas fendas e tento irradiar
Mas fogem da nuvem. Julgam-na cinzenta e sufocante.
Continuo confinado e sinto as pegadas a calcar.
Tendes os pés gelados e não escuto nada adiante.

Um dia ouvi água.
Era uma mulher que chorava, sim!
Parecia um oceano inteiro que me abraçava.
Parecia arriscar envolver-se com a lava.
Era a Mulher que me procurava, enfim.

Ela não tem receio do fogo nem da nuvem cinzenta.
Ela é a água e, infelizmente, eu o fogo que ela sustenta.
Ela é alguém por quem largava tudo o que suportei.
Um dia deixaste cair uma lágrima em mim, petrifiquei...

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