Holocausto virtual

31 6 1
                                    


A realidade virtual é uma coisa super fixe, dizem-nos os jogadores com acesso às melhores tecnologias e também a indústria pornográfica que, decerto concorda e aconselha altamente este tipo de equipamento.

À partida, parece-nos ser uma maneira de satisfazer os desgostos que carregamos dentro de nós,  perdermos um bocadinho a noção do que é o mundo que nos rodeia dá um gozo do caraças. Se nos bateram quando éramos miúdos, podemos atirar granadas hipotéticas a essas mesmas pessoas, ver o sangue a espalhar-se-nos diante dos nossos olhos é extremamente gratificante: esta granada é por aquele murro que me deste; este headshot é por aquele nome que chamaste à minha mãe, esta facada é por causa do dia em que me ficaste a dever o almoço, e assim sucessivamente.
  
No entanto, sabe o que é mais gratificante ainda? É quando está no quarto de porta fechada e não tem de se preocupar quando é que alguém vai entrar, é muito provável que quem abra a porta fique desiludido por não o conseguir apanhar em flagrante a ver o conteúdo que esperava que visse. Outro ponto a favor é quando o utilizador dos óculos se encontra em baixo porque o amor da sua vida o deixou e decide esquecê-la. Deste modo, tem a liberdade de escolher qual é a miúda (daqueles sites que o leitor sabe) que menos se parece com a ex. Claro que, antes do surgimento desta tecnologia, já era possível esquecer a ex, mas assim torna-se mais fácil com alguma boa fé.

Supondo estupidamente que sobrevivemos mais uma década, temo que daqui a uns aninhos veremos putos a saltar e a fazer gestos engraçados no meio das ruas. Deste modo, deixo-lhe este aviso que serve de aviso para as futuras gerações:

Se um dia vir um miúdo a fazer isto, não é porque está feliz ou porque está a tentar fazer uma performance de Kizomba mal dançada. É porque está, muito certamente, a reviver a segunda Guerra Mundial através de um jogo, enquanto arremessa granadas aos companheiros por engano (ou não). Ou está simplesmente a fingir um espasmo, como se estivesse a comunicar à equipa que foi abatido. Isto, claro, implica que o oponente, que está em qualquer parte do mundo, esteja a correr como um embriagado, ou a gritar no meio da rua "Heil Hitler!".

Devo admitir que se torna altamente estimulante e divertido a quantidade de piadas de mau gosto que vão surgindo acerca da utilização dos óculos. Mas não lhe vou tirar muito mais da sua paciência, se é que por esta altura da obra ainda lhe resta alguma.

Todavia, suponhamos novamente que não existem só aplicações más associadas ao recurso da realidade virtual. Posso usar o exemplo de pessoas com pobre vida social que se perdem neste mundo e que vivem as suas fantasias num esplendor que reside dentro desta outra realidade. O paradigma está a mudar substancialmente com esta tecnologia e é imperativo saber distinguir entre as duas realidades presentes.

Na verdade, se está a pensar em simular o holocausto, por favor, do it yourself (DIY) em casa. Já temos muitos e bons concorrentes dispostos a simular esse acontecimento dramático.

Mistifórios do Hoje: Uma Sova de 2017Onde histórias criam vida. Descubra agora