Sinto-me a afundar (poema)

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Sinto desespero, sinto-me a afundar
Quando perco o rumo do teu olhar
Naquele oceano em que fiquei refém.
Diz-me que me procuras lá também.

As ondas prendem-me como correntes
Esfolam-me as costas com cem tridentes
Mas ainda tenho os olhos para te ver
Como um farol a apagar e a acender.

Ao fundo vejo-te, mas esquivas-te da luz
Puxa-te a água que ao abismo te conduz
Quero-te olhar, um barco vou construir
Mas prometes nunca mais ao de cima vir

Gritas porque o mar te leva os braços
Choras quando o vento te arranca cabelos
Gritas porque estás perto de ser estilhaços
Choras quando te prendem em mil novelos

Um ponto cintilante vagueia no escuro
Onde a água e o céu não têm distinção
É o destemido barco que tanto te aventuro
Vem-te buscar, vem-te resgatar o coração.

Uns olhos abertos, sem reagir, sem fechar.
Beijo-lhe os lábios e olho-a eternamente
Seguro-a nos braços. Levou-a a corrente.
Agora as minhas lágrimas são o mar.
Sinto desespero, sinto-me a afundar.

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