Certo da minha dor,
Incerto daquilo a que chamam amor,
Ciente das memórias serem memórias e das palavras serem outras tantas histórias.
Certo do olhar que perturbava, do abraço que sufocava, do beijo que envenenava.Incerto da chama que me aquece o coração. Uns dias arde, outros sinto a fria e crua solidão.
Caminhada inconstante que faço vulnerável, descalço e cheio de caules no coração.Sinto o teu sopro gelado ao longe e juro ouvir-te algures nas noites infinitas de inverno em que mais preciso de ti. Falas-me lá de cima, das estrelas. És a lua que brilha, a brisa que arrepia, que me deixa a pensar se algum dia estiveste cá, enquanto dormia.
Quando fecho os olhos, lá estás tu. Sussurras-me e sinto o calor da tua boca em mim, a prometer-me estares ali.
Juras aparecer-me nos sonhos, para sermos felizes como nunca dantes.
Mas não podemos, és apenas reflexo de paixões distantes.Dizes ser a última noite em que me vens visitar, mas eu não te deixo simplesmente ir, por aquilo que me fizeste ser e sentir.
Falo sozinho, canto sozinho, sorrio sozinho, quando a noite promete durar. Mas, no fundo, já não estás aqui comigo.
É nessas noites que percebo que sou louco, que perigo.Perdi a visão algures no passado e não a encontro sem ti.
Mostra-me o caminho que te seguirei sem pensar duas vezes, tira-me daqui;
Desta prisão de conjeturas que construí e, nela mesmo, me perdi.
Deste espaço que tem uma janela que ameaça dizer que nunca te conheci.Mas mostra-me.
Mostra-me como é nadar contigo na praia à meia-noite enquanto a lua nos espreita, nus e arrepiados.
À parte de tudo, sem recear mais o frio e a luz dos vizinhos conformados.
Mostra-me o que é mergulhar contigo quando já todas as luzes estão apagadas, menos a da lua, que sorri só para nós os dois.Vem assoar-te às minhas roupas que eu me assoo às tuas. Vamos atirá-las ao mar.
Vem, agarra-te a mim e sufoca-me de beijos.
Leva-me tu ao colo quando ficar sem ar.
Se escorregares enquanto me seguras, cai.Cai comigo e juntos, juntos partimos o juízo.
Depois, vem deitar-te comigo no sofá, aquecido pelos nossos corpos encostados.Não para fazer amor, mas para não morrermos de tédio nem da noite fria.
Se morrermos, promete-me ser a minha esposa antes do nascer do dia.

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Mistifórios do Hoje: Uma Sova de 2017
HumorAqui encontrará um pequeno conjunto de poemas e de crónicas que pretendem descrever com alguma insensatez a sova que assistimos o ano 2017 a apanhar. Pretendo, por outro lado, exibir algum do meu pior humor conciliado com a minha pior das lamechies...