CAPÍTULO 3

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Milene me entrega uma lista de coisas para comprar pro acampamento, mas a maioria é comida: barras de chocolate, waffles, tortas, bolo de prestígio etc. Mas as coisas mais importantes, que realmente iremos usar – como papel higiênico e pasta de dente – não está na lista. Então eu mesmo acrescendo algumas coisas. Depois disso vou para a garagem, entro no carro e ligo o som, que começa a tocar Demi Lovato. Eu amo demais. A voz dessa mulher é surreal. Talentosíssima.

No supermercado, vou colocando na cestinha que carrego tudo que está na lista e mais algumas coisas extras que não consigo resistir. Já com a cestinha cheia, vou até o caixa pagar pelos produtos e, caminhando de costas para mim, em direção à um freezer ali perto, avisto uma moça de longos cabelos loiros e cacheados. Ela usa uma calça preta, botas pretas e um casaco vermelho. Começo a me aproximar para ter certeza se é realmente a pessoa que estou pensando. Então ela se vira, seus cabelos são jogados para trás dos ombros. Uau! Nem parece mais a mesma mulher que ontem estava sozinha debaixo de uma tempestade. Eu pisco várias vezes, para ver se realmente é ela.

Suas sardas já não existem mais por causa da maquiagem. Seus lábios estão com um tom forte de vermelho, e no canto dos seus olhos tem bastante delineador. Karine está bem dark, mas de um jeito bom. Está linda!

Então acabo me lembrando de Milene e de seu manto. Eu tenho que falar com Karine sobre isso, mas não sei por onde começar. O que eu diria pra ela? A verdade? Talvez, eu não sei. A minha cabeça é um turbilhão. Começo a me aproximar, já com o coração palpitando. Minhas mãos soando frio, como sempre acontece quando estou nervoso.

- Oi – Digo por trás dela.

Karine, que estava pegando alguma coisa dentro do freezer, se vira e me encara. Estremeço dos pés a cabeça com o olhar que é me lançado. Não sei explicar muito bem, mas senti uma coisa vil quando ela me encarou. Não pode ser a mesma pessoa, não pode! Tudo bem que essa é bem mais bonita e arrumada, mas alguma coisa em sua postura completamente enrijecida me incomoda. Não sei dizer o que é.

Karine enrijece a feição e me olha desde os meus sapatos até o último fio dos meus cabelos negros. Aquilo me faz congelar no lugar. O que tem de errado com ela?

- Então, hum... – Começo, as pernas tremendo um pouco. – Sabe aquele manto que eu te dei na noite passada? Eu... Eu...

Ela levanta a mão, interrompendo-me. Sua feição ainda rígida.

- Eu não te conheço. Não sei quem você é. E não faço a mínima ideia sobre o que você está falando. – Cada palavra que ela fala é como se fosse um tapa na minha cara, duas vezes mais forte do que levei de Milene. – Então, se me der licença, tenho coisas para resolver. – Ela passa por mim, esbarrando com uma força brutal em meu ombro.

Então eu fico parado ali, sem reação alguma, tentando entender o que acabou de acontecer. Mas me desperto quando uma senhora se aproxima e pede licença para usar o freezer. Encosto-me no mesmo e respiro fundo, tentando digerir o que acabou de acontecer. Então me lembro da mudança de humor repentina de Karine dentro do carro. Será que ela sofre de dupla personalidade? Será que ela é uma pessoa bipolar? Tudo o que aconteceu ontem no carro me faz acreditar que sim. Mas e agora? Como vou pegar o manto de Milene de volta?

***

As sacolas no banco de trás do carro estão cheias. Comprei tudo o que estava na lista e mais um pouco. Mas me sinto como se tivesse ido ao supermercado e voltado de mãos abanando, porque a coisa mais importante eu não trouxe. A minha chance estava ali, bem na minha frente. Mas fui um tolo ao deixar aquela chance se esvair. Levei um esbarrão de propósito, e não fiz nada em minha defesa. Bato no volante do carro, com raiva. Droga! Eu tenho que pegar aquele manto de volta. É muito importante e tem um valor sentimental para uma das pessoas que eu mais amo neste mundo.

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora