O funeral dos meus pais foi logo no dia seguinte. Foram tantas pessoas que fiquei meio perdido: amigos do meu pai, clientes de minha mãe, funcionários e fregueses da loja... E, o que mais me tocou: Karine estava lá.
Foi tão estranho quando eu a olhei, pois comecei a chorar do nada, e fiquei sem saber se era por causa do funeral ou porque ela estava ali, por mim. Ela estava com roupas pretas, com um guarda-chuva para se proteger dos pequenos pingos de chuva que caíam. O dia parecia estar chorando junto com todos da cidade. O céu estava cinzento e nublado.
Meu coração se apertou ainda mais quando vi Karine vindo em direção a mim, e fiquei ainda mais chocado porque Milene estava ao meu lado, agarrada ao meu braço, chorando. Parece que Karine não liga mesmo para minha namorada...
- Karine... – Digo baixinho quando ela está perto o suficiente.
Milene solta o meu braço e se coloca entre mim e Karine.
- O que você está fazendo aqui?
Só pode ser brincadeira. Até no funeral dos meus pais Milene não se aquieta.
- Eu... – Começa Karine, olhando pra mim e depois pra Milene. – Eu só quis estar aqui com Dylan. Ele está passando por um momento difícil, e é bom ter a ajuda e consolação de todos.
- Ah, já entendi tudo. – Milene cruza os braços sobre o peito. Pelo menos ela está falando baixo, para não chamar a atenção das pessoas. – Você só quer...
- Milene Rezende. – Respiro fundo, tentando me acalmar. Minha voz sai baixa, porém firme. – Por favor. Não dê esses seus chiliques ciumentos aqui agora. Não está vendo que não é momento para isso? Meus pais estão sendo velados e daqui a pouco vão ser enterrados. Não dá para você ser sensata e ter um pingo de consciência pelo menos uma vez?
Milene olha para mim com lágrimas nos olhos – se é pelo que eu disse ou pelo velório, eu não sei –, depois para Karine, e para mim novamente. Ela descruza os braços e sai, dando passos largos até a saída do cemitério.
Solto o ar que não sabia que estava segurando, exasperado. Fecho o guarda-chuva quando percebo que não está mais chovendo, e Karine faz o mesmo.
- Dylan, eu sinto muito. – Ela me abraça.
Primeiro fico parado, sem saber o que fazer no calor do momento. A menina que não conversava, e principalmente, não permitia ser tocada por absolutamente ninguém. Vê-la me abraçando para me consolar me deixa um pouco feliz, mesmo com tudo o que está acontecendo. E é por isso que gosto tanto de Karine. Ela me deixa feliz mesmo nos momentos mais difíceis.
Logo entrelaço meus braços ao redor de seu corpo. A sensação irradiante tomando conta de mim. Desta vez ainda mais forte que das outras vezes em que ela me tocara. Agora eu sinto que é de verdade; não que das outras vezes foram falsas. Mas agora sinto que aquele abraço foi dado com vontade, compaixão e consolo... O aperto de Karine me deixando leve depois de muito tempo.
- Não sinta. – Digo, quando, infelizmente, nos soltamos. Minha voz calma e serena. Fico surpreso ao vê-la ainda em prantos. – Por que ainda chora?
- É que... – Sua voz falha. Ela limpa as lágrimas com a manga do sobretudo preto. – Eu não sei. Eu sinto que tem alguma coisa errada.
Enrugo as sobrancelhas.
- Como assim?
Karine respira fundo antes de começar.
- A minha irmã, Katrina. Ela veio atrás de mim por vingança. Eu tenho certeza disso, Dylan. Já não basta o que me fez um tempo atrás...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diz que você me ama (COMPLETO)
RomanceUma história que se passa no Brasil, numa cidade chamada Lagoa da Prata, bem no interior de Minas Gerais. Dylan Sakamoto tem 23 anos e é de descendência japonesa. Ele namora há três anos, e faz planos pra se casar no ano seguinte com Milene. Mas al...