CAPÍTULO 16

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O funeral dos meus pais foi logo no dia seguinte. Foram tantas pessoas que fiquei meio perdido: amigos do meu pai, clientes de minha mãe, funcionários e fregueses da loja... E, o que mais me tocou: Karine estava lá.

Foi tão estranho quando eu a olhei, pois comecei a chorar do nada, e fiquei sem saber se era por causa do funeral ou porque ela estava ali, por mim. Ela estava com roupas pretas, com um guarda-chuva para se proteger dos pequenos pingos de chuva que caíam. O dia parecia estar chorando junto com todos da cidade. O céu estava cinzento e nublado.

Meu coração se apertou ainda mais quando vi Karine vindo em direção a mim, e fiquei ainda mais chocado porque Milene estava ao meu lado, agarrada ao meu braço, chorando. Parece que Karine não liga mesmo para minha namorada...

- Karine... – Digo baixinho quando ela está perto o suficiente.

Milene solta o meu braço e se coloca entre mim e Karine.

- O que você está fazendo aqui?

Só pode ser brincadeira. Até no funeral dos meus pais Milene não se aquieta.

- Eu... – Começa Karine, olhando pra mim e depois pra Milene. – Eu só quis estar aqui com Dylan. Ele está passando por um momento difícil, e é bom ter a ajuda e consolação de todos.

- Ah, já entendi tudo. – Milene cruza os braços sobre o peito. Pelo menos ela está falando baixo, para não chamar a atenção das pessoas. – Você só quer...

- Milene Rezende. – Respiro fundo, tentando me acalmar. Minha voz sai baixa, porém firme. – Por favor. Não dê esses seus chiliques ciumentos aqui agora. Não está vendo que não é momento para isso? Meus pais estão sendo velados e daqui a pouco vão ser enterrados. Não dá para você ser sensata e ter um pingo de consciência pelo menos uma vez?

Milene olha para mim com lágrimas nos olhos – se é pelo que eu disse ou pelo velório, eu não sei –, depois para Karine, e para mim novamente. Ela descruza os braços e sai, dando passos largos até a saída do cemitério.

Solto o ar que não sabia que estava segurando, exasperado. Fecho o guarda-chuva quando percebo que não está mais chovendo, e Karine faz o mesmo.

- Dylan, eu sinto muito. – Ela me abraça.

Primeiro fico parado, sem saber o que fazer no calor do momento. A menina que não conversava, e principalmente, não permitia ser tocada por absolutamente ninguém. Vê-la me abraçando para me consolar me deixa um pouco feliz, mesmo com tudo o que está acontecendo. E é por isso que gosto tanto de Karine. Ela me deixa feliz mesmo nos momentos mais difíceis.

Logo entrelaço meus braços ao redor de seu corpo. A sensação irradiante tomando conta de mim. Desta vez ainda mais forte que das outras vezes em que ela me tocara. Agora eu sinto que é de verdade; não que das outras vezes foram falsas. Mas agora sinto que aquele abraço foi dado com vontade, compaixão e consolo... O aperto de Karine me deixando leve depois de muito tempo.

- Não sinta. – Digo, quando, infelizmente, nos soltamos. Minha voz calma e serena. Fico surpreso ao vê-la ainda em prantos. – Por que ainda chora?

- É que... – Sua voz falha. Ela limpa as lágrimas com a manga do sobretudo preto. – Eu não sei. Eu sinto que tem alguma coisa errada.

Enrugo as sobrancelhas.

- Como assim?

Karine respira fundo antes de começar.

- A minha irmã, Katrina. Ela veio atrás de mim por vingança. Eu tenho certeza disso, Dylan. Já não basta o que me fez um tempo atrás...

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora