CAPÍTULO 23

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Será que quando minha mãe disse para eu ficar longe de qualquer flor de lírio, ela queria dizer, na verdade, para eu ficar longe de Karine? Será que desta vez minha mãe tinha razão em qualquer que fosse essa coisa?

- Dylan? Tá tudo bem? – Karine me chama, com a cabeça virada ligeiramente de lado.

É quando percebo que eu tinha ficado um certo tempo olhando fixamente para a tatuagem. Minhas mãos ainda sobre os ombros da garota. Balanço a cabeça rapidamente, na tentativa de me libertar desses pensamentos.

- Está sim.

Mas eu não posso me afastar de Karine. Ainda mais agora que sei os espinhos que a minha mãe viu nos sonhos pode ter a ver com a tatuagem dessa tal de Katrina. Isso quer dizer que a flor, no caso Karine, está correndo perigo. Não vou deixa-la sozinha.

Firmo minhas mãos novamente sobre a cintura dela, colocando minha cabeça entre seu colarinho e pescoço, beijando de leve. Ela ri, e vejo seus pelos arrepiados. Viro-a de frente para mim com ferocidade, cubro seu rosto com as minhas mãos, para logo em seguida lhe lançar um beijo quente na boca. Ouço-a soltar um gemido, mas não paro. Com as mãos em sua cintura, ergo Karine do chão, de modo que ela entrelaça suas pernas em meu quadril, seus braços ainda rodeando meu pescoço. Isso faz com que a intensidade dos nossos beijos aumenta em um nível extremo. O que antes era apenas duas línguas se entrelaçando, agora são duas línguas se entrelaçando + mordidas nos lábios; sem falar que é grunhidos atrás de grunhidos, tanto da minha parte quando da parte de Karine.

Começo a andar com a garota ainda no meu colo, mas sem sessar os beijos. Isso até faz com que eu bata o pé na quina da porta ao passar por ela. Até saiu um breve "AAAI", pois bati o dedo mindinho; doeu mesmo. Karine começa a rir com a boca colada na minha, e eu não consigo me segurar, começo a rir com tanta intensidade que vou perdendo as forças nas pernas; então acabo caindo no chão, bem em cima de Karine.

- Aaaaaauuuuu... – Ela solta com uma careta.

Encaro-a com certo desespero, passando a mão em todo o seu rosto.

- Meu Deus, você está bem? – Tinha urgência na minha voz. – Eu sou um bobo mesmo. Olha o que eu acabei de fazer. Eu não queria...

- Dylan! – Ela grita, e eu paro de súbito, encarando-a. – Está tudo bem. Sério... Não me machuquei. Até gostei da posição em que paramos.

Aquilo me pega de surpresa. Até consigo ver o rosto dela ruborizar de vergonha com as palavras pronunciadas, como se ela não tivesse conseguido controla-las.

Quando olho para o resto do meu corpo, vejo minha barriga colada com a de Karine, o meu peitoral colado com os seios de Karine, a minha virilha colada com a de Karine, as pernas de Karine entrelaçadas ao redor do meu quadril. Congelo ao perceber realmente a posição em que nos encontramos. Bem devagar, encontro novamente os olhos da garota que brilham com uma intensidade incrível.

- Você... Você... – Minha voz treme muito. – Você quer dizer que quer...

Ela sorri, ainda com o rosto ruborizado.

- Mais que tudo nessa vida.

- Tem... Tem certeza disso? – Droga! Por que eu tenho que gaguejar?

- Uhum!

Meu sorriso vai de uma orelha a outra. Levanto-me em um pulo. Ergo minhas mãos para Karine, que logo as pega, e ajudo-a a se levantar também. Depois disso começamos a caminhar em direção ao meu quarto, os dedos dela entrelaçados nos meus. Chegando lá, Karine corre e se joga na cama. Eu sorrio com as suas atitudes. Ela é tão sensível, delicada, humilde... Vou até um criado mudo ao lado da cama e abro sua pequena gaveta. Tiro lá de dentro um pequeno pacotinho quadrado de papel metalizado.

- Não podemos nos esquecer do mais importante. – Falo, mostrando o preservativo para Karine.

- Claro. – Ela balança a cabeça afirmativamente.

Chego na beirada da cama e, bem devagar, com medo de que eu possa fazer algo errado, coloco meu corpo sobre o de Karine. Fico surpreso que, assim que grudo meu corpo sobre o dela, ela logo entrelaça seus braços em meu pescoço e faz o mesmo com as pernas em meu quadril. Quem diria... A garota que não gostava de ser tocada por absolutamente ninguém...

- Obrigada mesmo, Dylan. – Ela solta tão baixinho que mal ouço.

Olho-a com as sobrancelhas arqueadas, com uma certa confusão.

- Pelo quê?

- Por me trazer de volta à vida.

Encaro-a.

- Como assim, Karine?

Ela sorri, me fitando.

- Há muito eu não sabia o que era tocar uma pessoa. Quer dizer, eu tocava e abraçava meu irmão, mas é diferente. Você me fez superar um dos meus maiores traumas, que era ser tocada. – Ela passa as mãos sobre o meu rosto. – É tão bom sentir o calor de outra pessoa contra o meu. É tão bom poder abraçar novamente... Isso tudo graças a você, Dylan.

Paro com a minha boca ligeiramente aberta. Meus olhos correndo cada centímetro do rosto dela. Eu já senti esta sensação antes, esta sensação de que o mundo inteiro parou de girar e que agora só existimos eu e Karine nele. É neste instante que eu a olho e não acredito que Karine Carper é real, não pode ser real. Ela é boa demais, linda demais. Ela irradia alegria. Parece até um anjo que caiu do céu.

Ao contrário de Milene que parece ter vindo do...

- Nossa... – Minha voz sai suspirada.

Ela ri, seu hálito quente sobre meus lábios.

- Nossa o quê?

- É que... Eu não... Eu realmente não esperava isso. Eu...

Karine solta uma gargalhada, e eu acho que ela riu de mim, do quanto eu gaguejo. Então acabo rindo também.

- Dylan Sakamoto. Você não existe.

Em um sussurro, digo:

- Karine Carper. Você é que não pode ser real.

Beijo de leve os lábios dela, um simples toque; pois meu celular começa a vibrar loucamente em meu bolso. Até penso em deixar pra lá, mas eu acho que já sei quem é. Tomara que seja mesmo... Levanto-me com um resmungo e logo atendo.

- Sr. Reis. – Digo. Ouço-o falar com urgência do outro lado da linha. – Certo, já estou indo.

***

Logo sou atendido pela secretária do delegado Reis. Ela me libera e eu e Karine logo entramos em sua sala.

Eu ainda não acredito que ela conseguiu me convencer a trazê-la. Como ela fez isso? Eu realmente não sei.

- Senhor Dylan – O delegado diz assim que me vê. Ele está sentado atrás de sua mesa em uma cadeira com aparência confortável. –, o que tenho para lhe contar é de suma importância. Não acha melhor ficarmos a sós? – Ele solta sem rodeios, com aquela voz rouca e tão séria que temo, olhando furioso para Karine.

- Não. – Digo, me sentando. – O que você tem a dizer, pode falar para nós dois.

Ao olhar para Karine, vejo-a sorrindo para mim. Ela logo se senta em uma cadeira ao meu lado. Seus cabelos em uma cachoeira sobre suas costas.

- Muito bem, então. – Sr. Reis se endireita na cadeira e apoia os cotovelos sobre a mesa, os dedos das mãos entrelaçados. – Consegui coletar digitais da luva que encontramos na lixeira da casa dos seus pais.

Meu coração já começa a me trair, batendo forte. Sinto a mão de Karine sobre a minha, e aquilo me dá coragem para dizer:

- Certo, e de quem é?

Com olhos cerrados, o senhor Reis responde:

- De uma americana que se chama Katrina Carper. Você conhece?

- Eu sabia. – Quem diz é Karine.

Quando eu a encaro, vejo seus olhos cheios de lágrimas, e ela desaba em meu ombro no mesmo instante, sem conter uma lágrima sequer.

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora