CAPÍTULO 5

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Começo a tocar o interfone da casa dos meus pais desesperadamente. Meu coração batendo mais rápido que o normal, minha respiração subindo e descendo ferozmente no meu peito. Minha mãe parecia muito desesperada quando me ligou. Não sei o que pensar, pois tudo o que vem na minha cabeça não é bom.

Meu pai tem câncer no pulmão, por isso fiquei tão desesperado quando minha mãe ligou.

O portão é aberto com um clique alto. Minha mãe deve estar esperando somente eu. Trato de entrar rapidamente e, quando atravesso a porta de entrada, me deparo com uma mulher baixinha e de olhos puxados. Minha mãe! Ela usa roupas de ceda longas, que cobre quase completamente o seu corpo, deixando livre somente o seu rosto redondo. Suas roupas – como sempre – tem texturas de tudo quanto é coisa. Ela usa um pano verde na cabeça, cobrindo seus cabelos oleosos. Nas suas orelhas minha mãe está com gigantes brincos de argolas. A casa parece a mesma desde que me mudei, há mais ou menos um ano, com o cheiro de essências e quinquilharias por todo lado que eu nunca soube de onde veio.

- O que aconteceu, mãe? – Pergunto com o tom de voz nervoso. – Por que me ligou tão desesperada?

Sem falar nada, ela me puxa pelo pulso até o outro lado da sala, onde tem um pequeno cômodo escondido. Ali há uma mesa redonda com duas cadeiras. Acima da mesa estão colocadas várias velas grossas e, no centro, uma grande bola de cristal. Minha mãe fecha a cortina grossa, separando-nos da sala de estar.

- Sra. Naomi, você pode me explicar o que está havendo? – Chamo-a pelo nome, provocando.

- Sente-se, meu filho. Já vou explicar. – Minha mãe só conversa comigo em japonês. Sua voz é rouca, como aquelas velhinhas de filmes de terror.

Ela apaga a luz do pequeno cômodo, deixando-nos num breu assustador. Mas é logo substituído por uma pequena luz de um fósforo que ela risca ali, e começa a acender todas as velas em cima da mesa em seguida.

Eu já devia saber que não era nada importante. É só mais uma das loucuras de minha mãe. Ela acha ser vidente. Eu, particularmente, não acredito em nada disso. Minha mãe me contava que ela trabalhava disso lá no Japão, antes de vir para o Brasil. Como nasci e cresci aqui, essa coisa de vidente não rola pra mim, apesar de que todos os dias, quando eu era mais novo, minha mãe lia minhas mãos antes de eu ir para a escola. Meus amigos a achavam um máximo, mas assustadora ao mesmo tempo.

Ela se senta de frente para mim, fitando-me com aqueles pequenos olhos. Ela os fecha vagarosamente, depois ela inspira e expira profundamente, e estende suas mãos sobre a mesa. No meio de sua palma esquerda, ela tem um olho tatuado, que ela diz ser o "Olho que vê tudo". Seus pulsos são repletos de pulseiras que chacoalham cada vez que ela os move.

- Me dê as mãos. – Minha mãe se apressa em dizer quando percebe que eu não faço nada.

- Mãe! Você sabe que eu não acredito nessas...

- Anda logo! – Sua voz sobe um pouco, pegando-me de surpresa e, sem hesitar, coloco minhas mãos sobre as dela.

Ela, então, começa a sussurrar coisas que não compreendo até hoje. E aquilo sempre me deu medo, pois ela dizia que isso é a "língua dos mortos". Sinto um arrepio na espinha só de lembrar.

- Se você não fechar os olhos, não funciona. – Minha mãe diz de olhos fechados. E não me pergunte como ela sabia, porque eu também não sei.

Com os olhos fechados, ouço um barulho, como se um vulto tivesse passado entre nós. Bem pouco, abro os olhos, o suficiente para ver que as chamas das velas estão mais altas. Começo a ficar com medo de verdade, pois nunca vi isso acontecer antes. Sinto um tremor na espinha quando ouço minha mãe soltar um gemido abafado e apertar ainda mais forte minhas mãos, deixando as juntas dos meus dedos com uma leve dormência. Abro abruptamente os olhos, e me deparo com o pescoço da minha mãe curvado. Seu rosto está virado para o teto e seus olhos estão abertos, mas começo a me apavorar quando vejo que ela não tem íris, seus olhos estão completamente brancos. Sou invadido por um medo incontrolável. Começo a sentir presenças ali perto e, de repente, uma certeza de que eu e minha mãe não somos os únicos ali naquele pequeno cômodo me invade.

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora