CAPÍTULO 26

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Nos deparamos com Erik assim que chegamos na delegacia.

- E então. Encontraram Milene? – Ele pergunta sem rodeios.

Eu já estava prestes a falar quando o policial ao meu lado começou a relatar tudo, desde que chegamos à casa de Sarah e Otávio até aqui.

Eu estava prestes a esmagar Milene, faltava pouco mais de 7 metros quando ela resolveu atravessar a rua com o semáforo fechado. Mas eu não tinha percebido, pois eu estava – ainda estou – com tanto ódio de Milene que eu não conseguia tirar meus olhos dela. Eu só queria atropela-la e mais nada. Mas fui impedido quando bati em um carro que vinha na direção certa do semáforo (graças a Deus que não aconteceu nada comigo, além de um pequeno arranhão na testa).

E quando levantei meus olhos para o painel completamente trincado do meu carro, vi Milene sorrir para mim antes de entrar em um táxi e sumir. Eu ainda queria ligar o meu carro – se ainda funcionasse – e sair atrás daquela vagabunda novamente. Mas eu não podia deixar aquela situação de lado. O policial ao meu lado, que também estava com cinto de segurança, sofreu poucos arranhões causados pela janela quebrada da porta. Depois que entramos em sua viatura até aqui, ele me repreendeu muito, dizendo que o que eu fiz foi imprudente e sem noção. Ele disse também que se eu tivesse mesmo passado por cima de Milene, eu estaria atrás das grades agora. E eu vejo que tudo o que ele disse foi verdade; mas na hora eu realmente não consegui me controlar.

Porém, o policial me xingou pouco perto do dono do carro em que bati. Seu carro estilo sport e muito caro ficou completamente amassado na parte da frente, sem falar da fumaça que saía do capô. O homem saiu a passos largos de seu carro e veio até o meu, onde abriu a porta com ferocidade e me puxou pelo colarinho. Ele colocou seu rosto bem perto do meu e gritou para todo mundo que pudesse ouvir que se eu não pagasse o concerto de seu carro eu estaria encrencado. Ele ia me dar um soco em seguida, tenho certeza disso, pois lembro-me dele erguendo o punho em direção ao meu rosto; lembro-me também de fechar os olhos. Mas ele foi impedido quando o policial que estava comigo veio e separou o rapaz de mim, dizendo que eu pagaria o concerto do carro. Eu sei que é meu dever fazer isso, pois eu atravessei um semáforo fechado. Mas o carro daquele rapaz é caro, e como vou fazer para pagar, só Deus sabe.

O delegado Erik passa a mão sobre o rosto e respira fundo, de um modo exasperado.

- Eu não acredito que vocês perderam ela. – Ele diz com a cabeça baixa e dois dedos sobre a testa. – E você, Dylan. – Ele fixa seus olhos em mim. – O que estava pensando quando subiu na calçada para atropelar Milene?

- Desculpe. – Digo, acanhado. – Perdi o controle.

- Aquilo não era hora de perder o controle, seu idiota! – Erik ruge. – Você poderia ter machucado pessoas inocentes. E tudo isso por vingança?

- Ela matou meus pais. – Minha voz sai baixa, porém firme.

- E além de ter matados os seus pais, ela poderia ter te colocado atrás das grades também. Por acaso pensou nisso?

Não respondo, pois nisso eu não tinha pensado.

- Graças a Deus que ninguém saiu machucado depois dessa sua idiotice! – Continua vociferando o delegado. – Milene matou os seus pais, isso é fato. Mas deixe que a polícia faça justiça por você. Assim que for pega, ela vai ter o que merece.

Com isso, levanto meus olhos e fito Erik.

- O que quer dizer com isso?

Com a voz mais controlada, ele responde:

- Investiguei mais a fundo sobre a vida de Milene Rezende dos Santos, e descobri uma ficha onde diz que ela já passou por tratamentos psiquiátricos.

- Como assim? – Sinto minha pulsação acelerar.

- Fui até essa clínica psiquiátrica e pedi a ficha de uma antiga paciente com o mesmo nome de sua ex-namorada. – Começa a relatar o delegado. – Ela tinha doze anos mais ou menos quando foi internada. Na ficha diz que Milene gostava de um aluno de sua classe, mas o garoto gostava de outra. Dizia também na ficha que ela sentia ciúmes e, quando o garotinho disse que não gostava dela, ela se sentiu traída. Milene empurrou o garoto pela janela da sala de música da escola, que ficava no quarto andar. Ele acabou fraturando um fêmur.

- Meu Deus! – Sai em um sussurro. Umedeço meus lábios secos. Eu estou completamente chocado.

- Isso tudo foi relatado pela própria Milene. – Continua Erik. – O psiquiatra dela escreveu na ficha que Milene tinha ciúmes extremos e taxou-a como uma pessoa obsessiva.

Eu não posso acreditar no que acabei de ouvir. Milene sempre teve problemas. Sempre soube que ela era ciumenta, mas não a esse ponto.

- E como ela saiu de lá? – Pergunto.

- Assim que completou 18 anos.

Espera aí...

- Eu sei por que Milene matou os meus pais. – As palavras saem atropeladas da minha boca.

O delegado e o policial ao meu lado – que se manteve em silêncio até agora – me encaram, incrédulos.

- E qual seria? – Erik pergunta.

Engulo em seco antes de responder.

- Se Milene é obsessiva e tem esses ataques de ciúme, ela pode ter matado meus pais porque sente ciúmes da minha relação com Karine. – Eu encarava a parede atrás do delegado, como se cenas passassem nela como num telão.

- Isso faz todo o sentido, Dylan. Mas como eu disse: ela vai ter o que merece assim que for pega.

- Você quer dizer que...

- Que ela vai ser mandada para um hospício ao invés de ir para a prisão.

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora