CAPÍTULO 15

205 34 6
                                    

Quando eu penso que o dia não pode ficar pior...

- Não pode ser... – Minha voz falha.

A mulher continua falando enquanto a câmera mostra ao redor. A casa dos meus pais coberta por chamas alaranjadas. Uma fita amarela cobre toda a rua e, ao redor, uma multidão de pessoas olham com medo e pena no rosto. Meus olhos estão arregalados, minha boca aberta. Não consigo mexer um músculo do meu corpo; estou completamente congelado. Ajoelho-me no chão e engatinho até muito perto da televisão quando a câmera mostra: do lado de dentro da fita amarela tem uma ambulância com as sirenes piscando e, ao lado, no chão, dois sacos pretos, cada um cobrindo um corpo.

Afasto-me da TV ferozmente, como se alguém tivesse me dado um empurrão. Bato as minhas costas na beirada do sofá, mas nem sinto a dor, pois, o que estou sentindo agora, vendo a casa dos meus pais pegando fogo e corpos cobertos por sacos pretos no chão, é pior que sentir dor física.

- Não... – Solto baixinho. Quase não sinto lágrimas no meu rosto, pois não devo ter quase nada mais. – NÃO! – Desta vez eu grito.

Encolho-me no tapete persa, os braços ao redor dos joelhos.

- Não o quê? – Milene aparece na sala e se agacha ao meu lado, desesperada. – O que aconteceu, Dylan?

Ela, então, segue o meu olhar e, ao pausar na TV, Milene coloca a mão sobre a boca, chocada, e solta um grunhido de surpresa.

- Meu Deus... – Ouço-a dizer.

Levanto-me desesperadamente, e começo a fazer tudo sem pensar. Pego as chaves em cima do sofá e corro pra saída.

- Dylan! – Ouço Milene me gritar assim que coloco a mão na maçaneta da porta.

Viro-me para encara-la. Ela também está chorando. Dá para perceber o quanto está arrasada. Ela e os meus pais sempre se deram bem.

- Aonde você vai? – A voz de Milene falha por causa do choro.

- Onde você acha? – Minha voz sai tão fria e sem emoção que até eu me assusto.

Corro escada abaixo, e eu sei que Milene está vindo atrás de mim, pois ouço-a gritar o meu nome sem parar, mas não me importo. Ao chegar na garagem corro para o meu carro. Entro rapidamente e, do vidro, vejo Milene correndo até a porta do passageiro, mas eu rapidamente travo as portas. Milene bate no vidro do carro, chorando e chamando o meu nome. Sua voz abafada. Ela está desesperada, e eu entendo por que; ela sempre gostou muito dos meus pais.

Sem olha-la, coloco a chave na ignição e ligo o carro. Dou ré, viro o carro ferozmente para o portão de saída com um giro, fazendo o chão de cimento soltar fumaça, e parto em direção à casa dos meus pais.

***

Quase provoquei acidentes na estrada. Eu estava correndo como nunca corri antes. Minhas mãos estavam trêmulas sobre o volante; o que dificultava muito as coisas quando eu ia passar de marcha. Todo o meu corpo está tremendo de medo/nervosismo.

Estou dentro do carro, que está estacionado há alguns metros de onde um aglomerado de pessoas olham aterrorizados para a casa que ainda está em chamas. Não sei se conseguirei firmar as minhas pernas bambas no chão, não sei se suportarei se aqueles corpos que eu vi na televisão forem mesmo dos meus pais...

Saio do carro meio cambaleando. Já chorei tanto hoje que lágrimas já não caem mais. Com dificuldade saio correndo para o aglomerado de pessoas, passo por eles abrindo espaço, trombando sem dó. Alguns soltam grunhidos e outros xingamentos, mas não me importo. Passo por baixo da linha amarela, mas um policial vem em minha direção e me segura, impedindo-me de ir adiante.

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora