CAPÍTULO 6

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As horas do meu celular marcam 15:00H de um domingo ensolarado. Milene deve chegar do acampamento por volta das sete. Hoje está impossível ficar no sol. Por isso preferi colocar uma roupa mais leve: blusa regata branca – não que eu seja musculoso nem nada –, calça preta estilo rasgada nos joelhos, tênis e um óculo de sol pendurado na minha blusa.

Estou sentado em uma mesa mais afastada da lanchonete do Centro da cidade, esperando por Karine. Nos fones está tocando Demi Lovato, enquanto leio algumas coisas no cardápio... Só para passar o tempo mesmo. Mas não vou mentir, estou realmente ansioso, e com medo ao mesmo tempo. Ansioso porque vou me encontrar com uma garota, apesar de ser somente como amigos. Eu nunca tive um encontro com Milene, pois nos conhecemos no Réveillon alguns anos atrás, e ela não gosta muito de sair. E a parte que estou com medo é pelo seguinte fato: qual Karine irá sentar comigo nesta mesa? A Karine frágil e sensível que eu dei carona ou a Karine ignorante e sem educação que encontrei no supermercado? Me pego realmente pensando nisso, pois acho mesmo que ela sofre de dupla personalidade.

Mesmo com vários ventiladores no teto sobre o local, o interior da lanchonete é bem abafado. Sinto meu pescoço um pouco molhado de suor, e acabo me arrependendo de não ter chamado Karine para ir tomar sorvete ou alguma outra coisa gelada ao invés de vir para esta lanchonete que mais parece um forno. Apesar disso, o local está bem cheio.

Ao levantar os olhos do cardápio, na entrada do local vejo uma menina loira, usando um vestidinho branco de alcinhas, sapatilhas douradas e uma bolsa preta sobre o ombro direito. Meu coração começa a palpitar quando percebo ser Karine. Ela olha confusa de um lado para o outro, à minha procura, creio eu. Ela, então, olha para o fundo da lanchonete, onde eu estou acomodado, mas percebo que ela não me vê, então levanto meu braço e começo a balança-lo. Ao me ver Karine abre um sorriso e começa a caminhar na minha direção, no mesmo instante que começa a tocar "Give Your Heart a Break" da Demi. Ao som da música, Karine parece vir até mim em câmera lenta, como naqueles filmes clichês de romance, enquanto eu a admiro de boca aberta.

Assim que ela se aproxima, trato de desligar a música e guardar os fones.

- Hi! Desculpa... Oi! – Ela diz, se sentando de frente para mim, e eu acabo rindo do "Hi" que ela soltou sem querer.

- Hi, girl! – Brinco. Não sei completamente nada de inglês, somente o que todo mundo sabe: hello, hi, love, red, blue, etc.

Ela sorri, me deixando mais nervoso. Ela coloca sua bolsa sobre a mesa.

Ao fita-la mais de perto percebo suas sardas no rosto e sua roupa simples. Acho que esta é a Karine que dei carona. Seu cabelo está lindo. Ele está solto sobre os ombros quase desnudos, e uma mecha fina de trança está ao redor do seu crânio, como uma coroa. Simplesmente linda! Seus olhos estão com uma intensidade maior de verde, em um quase azul por conta da luminosidade do local.

Cada detalhe de Karine é tão lindo e delicado que me pego com vontade de compor uma música sobre ela.

- Está muito calor hoje, não é mesmo? – Karine me acorda dos devaneios.

Ao olhar para ela, vejo-a se abanando com as mãos, e aquilo acaba tirando um sorriso dos meus lábios.

- Muito calor mesmo. – Não sei o que ela tem que me faz ficar sempre assim, com um sorriso bobo no rosto.

- Então, como vai sua vida? – Tento puxar assunto.

- Na medida do possível. – Ela se encolhe com a pergunta, e eu me arrependo imediatamente de tê-la feito.

Mas o que há de errado com a vida dela para ir "na medida do possível"? Ergo as sobrancelhas, confuso. Até onde eu sei, Karine tem uma boa vida. Veio de outro país, mora no bairro mais rico da cidade, tem uma casa gigante... Mas então a voz da minha consciência me alerta dizendo que cada pessoa tem seu demônio interior. E pelo pouco que conheço Karine, desconfio um pouco quais sãos seus demônios.

Diz que você me ama (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora