D i a d o m a s s a c r e.
Eu estava ouvindo algumas vozes de longe. Mas como estava apenas como um zumbido no meu ouvido eu podia jurar que tais vozes eram coisas da minha cabeça, assim como um dia, no passado, eu ouvi, milhares e milhares de vezes.
Olhei para a porta da minha sala, espremendo os olhos, esperando que algo ou alguém se movesse, mas nada. Fui até os vidros da janela da sala de aula, onde eu podia ver todo o pátio - pois era no segundo andar - e também estava sem movimento. Estranhei o fato do portão estar meio aberto, mas, provavelmente, era hora da troca.
Os alunos ainda estavam copiando o que eu tinha passado no quadro, com seus olhinhos bem atentos, sem perceber nada de estranho. Com certeza era coisa da minha cabeça. Eu já passei por isso antes, as coisas não mudariam de uma hora para outra. A recuperação para alguns pode ser de sete meses, mas a de outros - eu, por exemplo - pode levar sete anos ou até um ciclo de vida.
Isso me apavora. Em pensar que, talvez, eu possa novamente estar tendo visões ou ouvindo algo que não é real novamente. Isso mexe com todo meu íntimo e sinto meu corpo tremer de leve. Depois de olhar bem firme para os lados e confirmar que nada estava acontecendo, vou até a cadeira e me sento, esperando que o primeiro aluno jogue a bolinha de papel ou me entregue o caderno.
Ouço mais um barulho, porém, vindo do andar de baixo. Atento meus ouvidos, espremendo meus dedos contra a palma da minha mão, esperando que não fosse somente eu que estava ouvindo. Olhei para os alunos: nenhum sinal de que tenham escutado.
- Acabei professora - Catarina, uma das alunas, arrastou seu caderno pela mesa até a minha frente, com os olhos desviando-se para a janela.
- Pode sentar Catarina. - Digo, levantando o canto do rosto, tentando sorrir.
- Prof. - Ela virou-se de volta para mim.
Minha expressão era claramente de dúvida, então ela chegou mais perto de mim e se inclinou chegando o mais perto que pode sem que a mesa a impedisse. Parecia que queria me contar um segredo de estado.
- O que foi Cat? - Sussurrei para ela. Ela parecia querer um incentivo para falar.
- Você ouviu esse barulho? - Desconfiada, ela olhou para a porta e parecia que sua respiração estava ficando mais agitada.
Ela se afastou de mim e, correndo, voltou para seu lugar com os olhinhos azuis piscando sem parar.
Um disparo. Com certeza eu ouvi. Todos na sala começaram a tremer de medo e entre os gritos de susto alguns correram, se ajuntando entre si e outros vieram para detrás de mim.
Com certeza tinha algo de errado na escola. Prontamente me coloquei de pé, tentando esconder os alunos atrás de mim, mas obviamente, era inútil.
A taquicardia começou a me tomar, parecia que meu coração estava saindo para fora do meu corpo. Não por mim, mas por eles.
Mas um disparo. Mais gritos.
Eu não podia controla-los totalmente, mesmo que pedisse para que se aquietassem sempre teria um que, em desespero, iria gritar, gemer, ou chorar de medo. Era compreensível essa reação deles.
Eu tinha que pensar em algo. Eles não podem sair daqui machucados ou mortos. Olhei para todos os cantos da sala, até os que eu não conhecia. Eu precisava, urgentemente, pensar em algo. Antes de tudo, fui até a porta e a tranquei com chave e coloquei uma cadeira em baixo da maçaneta.
As lágrimas queriam preencher meus olhos, mas eu segurei firme. Se eu chorasse como ia dizer a eles para não fazer isso? Preciso ser o exemplo.
- Escutem bem. - Pedi a eles silêncio, depois de alguns segundos, os últimos murmúrios de choro foram se silenciando e eu respirei fundo. - Façam um círculo e deem as mãos. Precisamos orar e pedir a Deus que nos ajude. Só Ele pode.
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O preço de amar a Cristo
EspiritualO primeiro livro se chama "O preço de ser cristã". Leiam primeiro ele e depois aqui. Agora, de volta ao Brasil depois de alguns anos, Alana terá que enfrentar o desafio de conseguir o perdão de seus amigos, ela também vai experimentar mais uma vez...