Capítulo 19 - Lara

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Foi impossível não deixar as lágrimas rolarem dentro do carro. Ele diz que foi o melhor pra mim, mas eu não consigo acreditar, não me entra na cabeça isso. Ele me ama, por que não quer ficar comigo? Talvez ele não saiba fazer isso!
-Chegamos. - olhei para Pereira e concordei descendo do carro, aproveitei pra limpar as lágrimas.
Estava pegando minhas malas, quando senti uns pingos de chuva. Ótimo mesmo! Era só o que faltava!
-Obrigada.
-Quer que eu leve para você?
-Não, pode ir. - respirei fundo. - É seguro eu ficar aqui?
-Tenho certeza que o chefe não iria deixar você aqui sem ter certeza de que é 100% seguro.
-É, verdade. - acenei pra ele e o vi dar partida com o carro. Não tive reação, fiquei alí parada sentindo a chuva apertar e as minhas lágrimas se misturarem com ela.
Foram meses tentando uma relação e ele desistir assim de uma hora pra outra. Era difícil demais! Ele acha que está fazendo o melhor pra mim, mas tá se enganando demais. O melhor era ficar com ele, apesar de todos os riscos e problemas. Eu era feliz mesmo discutindo a cada segundo. Eu era feliz!

[...]

Cheguei no hospital e todos me olharam. Só tinha 12 horas que eu tinha sido largada, será que todos aqui já sabem?
-Bom dia, Lara! - Bruna chegou me entregando um café.
-Oi, Bruna. - ela me observou e sua expressão foi de animada pra assustada em segundos.
-O que aconteceu com você?
-Enzo me largou, não moramos mais juntos e é isso.
- Sinto muito, vocês estavam se dando tão bem.
-É, estávamos mesmo. Mas vida que segue.
-Sua cara diz outra coisa. Amiga, você não passou uma maquiagem pra disfarçar essas olheiras né?
-Não.
-Seu cabelo está todo em pé e... - olhou para a minha roupa e negou com a cabeça. - Graças a Deus colocará a roupa cirúrgica porque nem jaleco iria dar jeito nessa roupa que você colocou.
-É só uma calça jeans rasgada, tênis e...
-E um blusão que está furado. - revirou os olhos. - Não são as roupas que costuma vir trabalhar. Você é umas médicas que mais tem estilo.
-Eu vim salvar vidas, não participar de um concurso de moda. - dei de ombros e ela deu um sorrisinho.
-Ótimo, então vá se arrumar porque temos uma cirurgia em 15 minutos e passa uma base e arrume o cabelo.
-Pra que?
-Se um paciente te ver assim, vai achar que você está louca demais pra poder cuidar dele.
Revirei os olhos e fui me arrumar. Eu precisava focar no meu paciente, em mais nada.

[...]

Estava saindo do centro cirúrgico quando Bruna apareceu na minha frente.
-Nós vamos a um bar hoje.
-Não, obrigada! Prefiro ir pra casa!
-Pra que? Pra pegar seu chocolate e ficar chorando enquanto assiste a um filme triste?
-Não, pra poder pensar em como vou organizar minha vida. - respirei fundo e fui me arrumar pra outra cirurgia.
Bruna podia não entender, mas eu estava tão acostumada com Enzo, com aquela rotina que agora minha vida tranquila iria parecer chata. Então eu tenho que me acostumar com essa vida novamente, e não conseguirei isso indo a um bar beber até não lembrar meu nome.

[...]

Estava saindo do hospital quando vi um carro conhecido parado ao longe, parecia um dos carros de Enzo. Parei por uns minutos e fiquei observando o carro.
-Esquece isso. - respirei fundo e segui para o meu carro.
Acho que eu tinha esperança de ver Enzo novamente ou ele bater na minha porta me pedindo pra voltar. Mas isso não ia acontecer, e dessa vez eu tinha certeza.
Entrei no meu apartamento e tudo ali parecia lembrar o Enzo.
-Acho que eu preciso de um novo apartamento. - falei me jogando no sofá. Não seria uma má ideia me mudar, recomeçar.

[...]

Uma semana e as coisas continuam a mesma coisa. Continuo sentindo um vazio enorme e a falta dele a cada dia mais.
Estava andando com uns papéis dentro do hospital, analisando uns prontuários. No meio do caminho, esbarrei em alguém que me segurou.
-Tem que tomar cuidado, Lara! - Dr. Otávio falou com um sorriso e eu devolvi um sorriso fraco.
-Obrigada, Dr. Otávio. - me desvencilhei dele.
-Você anda muito triste.
-É só uma fase ruim.
-Que tal tomarmos um café pra espantar essa fase ruim?
-Deixa pra uma próxima.
-É só um café aqui em frente, por favor.
-Olha, Dr....
-Me chame de Otávio, não precisar ser tão informal quando estivermos sozinhos.
-Ok. - respirei fundo.
-Um café e eu te deixo em paz. - concordei.
-Daqui a 20 minutos, eu te encontro lá então. - fui para minha sala deixar umas coisas e arrumar outras.
Eu não estava afim de me encontrar com Otávio, mas se ele me deixaria em paz, acho que vale a pena.

[...]

Estava sentada observando o café na xícara enquanto sentia os olhos de Otávio em mim.
-Lara, quando fez uma refeição decente? - olhei pra ele intrigada. - Você parece ter emagrecido uns 2 quilos nessa última semana.
-Tem uma semana que não consigo comer direito.
-O que aconteceu?
-Eu estou passando por problemas, todos temos. Eu só preciso me adaptar a minha nova vida. - olhei pra ele e vi que prestava atenção no que eu dizia. - Eu tinha uma vida antes de conhecer o Enzo e era uma ótima vida. Eu adorava trabalhar, adorava assistir meus filmes e comer minhas porcarias. Mas depois que Enzo chegou tudo mudou na minha vida. Ele trouxe tanta agitação, tantos sentimentos novos. - respirei fundo tentando controlar as lágrimas. - E agora que ele foi embora, tudo parece estar sem graça. A minha vida perdeu a graça, sabe? Eu chego em casa e meu apartamento não me faz mais feliz, eu venho para o trabalho e só consigo ficar um pouquinho feliz quando estou em cirurgias. Mas todo o resto perdeu a graça. - as lágrimas saíram e eu deixei. Acho que precisava disso. Desabafar com alguém que somente me escutasse.
-Tome. - me entregou um lenço e eu limpei meu rosto.
-Obrigada. - ele me deu um sorrisinho.
-Posso falar?
-Sim.
-Você vai superar. Contando com o tempo que estou te vendo assim, deve ter uma semana que se separaram. Ainda é muito recente. Mas pode ter certeza, você vai superar. Pode levar tempo ou não, vai ficar tudo bem.
-É, vai ficar tudo bem. - respirei fundo e ele segurou minha mão.
-Vai sim e se precisar de mim é só me chamar. - concordei e dei um sorriso na sua direção. Ele alisou minha mão com carinho e tirou.
-Preciso voltar pra o hospital agora. - falei e ele concordou.
-Vou sair com você, estou indo embora pra casa já. - saímos juntos da cafeteria e quando chegou na rua ele me observou com atenção. - Posso te dar um abraço? - dei de ombros e ele me abraçou. - O que precisar, estarei aqui pra você. - beijou minha testa e saiu. Fiquei observando por um tempo e depois fui para o hospital.
Acho que só estava precisando disso, de um amigo que me escutasse sem julgar ou que não soubesse de toda a história.

Atraída Pelo PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora