Capítulo 23 - Lara

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Dois meses depois

Depois de toda aquele furacão que Enzo me submeteu a passar eu queria um tempo pra mim. Sem pensar em perdas e ganhos. Na verdade, não queria pensar em nada. Somente focar no trabalho. Já tinham 4 meses que a gente tinha se separado e mesmo assim parece que foi ontem que tudo aconteceu.
-Lara? - olhei pra trás e encontrei Otávio vindo na minha direção. Estávamos mais próximos, mas não sei se conseguiria me envolver com alguém agora.
-Oi, Otávio. - dei um sorriso e ele beijou minha testa quando chegou perto de mim.
-Temos uma cirurgia juntos hoje. - falou animado.
-Sim, temos.
-Podemos tomar alguma coisa depois.
-Acho uma ótima ideia. - peguei o tablet que estava na minha mão e fomos andando até o centro cirúrgico.

[...]

Otávio insistiu em me levar pra casa, já que eu estava sem carro.

-Não precisava, mas obrigada. - agradeci tirando o cinto.
-Lara, eu peço desculpas mas eu não posso resistir a isso. - eu o olhei sem entender e só senti sua língua invadir minha boca. Deixei ele me beijar, queria saber se sentiria todo aquele fogo em mim novamente. Mas existia um problema: ele não era o Enzo.
Me afastei rápido e desci do carro meio transtornada. Fui para o meu apartamento e respirei fundo.
-Isso não podia ter acontecido. - me joguei no sofá e fechei os olhos.

[...]

Estava tomando um café na cantina do hospital quando Otávio sentou na minha frente.
-Está fugindo de mim! - falou e eu dei de ombros. - Lara, você tem que seguir em frente. Eu só pensei que poderíamos tentar viver isso, sem compromisso sério só deixando rolar.
-Tudo bem. - respondi porque realmente ele estava certo. Eu tinha que seguir em frente!
-O que disse? - perguntou confuso.
-Que tudo bem, podemos tentar levar isso. Ver o que vai dar. Você está certo, tenho que seguir em frente.
-Nossa! Achei que teria que falar mais alguma coisa, já estava preparando um discurso. - dei um sorrisinho fraco pra ele. Otávio era uma boa pessoa e me ajudaria a esquecer o Enzo. -  Você não vai se arrepender. - falou segurando minha mão. Otávio pelo menos não era mafioso.
-Eu sei. - olhei no relógio e já estava na hora de voltar a trabalhar. Levantei e ele me acompanhou.
-Podemos sair hoje? - perguntou e eu concordei. - Que bom. - me deu um selinho e foi embora feliz.
Acho que eu poderia me esforçar pra tentar fazer outra pessoa feliz e ser feliz. Poderia até casar com Otávio, quem sabe num futuro. Pelo menos, ele não parece ser complicado e tenho certeza que ele fará de tudo pra eu ser feliz!

[...]

Hoje completava 5 meses que eu Enzo estávamos separados e 1 mês que eu estava saindo com Otávio.
Estar saindo com Otávio era bom, ele me fazia bem, me fazia rir, transava bem e era sempre muito carinhoso. Mas eu não sentia meu coração acelerar quando ele chegava, nem minhas pernas tremerem.
A única coisa que soube de Enzo era que ele estava ficando na boate todas as noites e que estava perturbando todo mundo. Mas pelo o que Emma soltou sem querer ele nem perguntava por mim. Já tinha me superado, pelo visto.
Falando em Emma, ela estava com quase 7 meses de gestação e estava muito sensível e enorme. Qualquer coisa fazia ela chorar ou ficar irritada, chegava a ser engraçado. Quem sofria com isso era Tom, que segundo ele, além de aturar a tpm eterna de Enzo ele tinha que aturar a instabilidade de Emma.
Bruna e Pereira estavam em um love só. Ela já sabia do lado mafioso dele e pelo o que soube ela surtou e quase matou ele, mas se acertaram no dia seguinte e estão juntos. Ela ainda não aceitou a situação, mas respeita e eles não falam muito sobre isso. Acho que por isso que eles estão se dando tão bem, ela não se envolve em nada da máfia. Melhor coisa pra ela.
-Bom dia, linda. - Otávio me beijou.
-Bom dia, lindo. - acariciei seu rosto e levantei. - Vamos correr? - perguntei e ele levantou animado. Ele era sempre muito animado.
-Vamos, mas antes vamos tomar um banho e comer. - me estendeu a mão e nós fomos tomar banho pra poder correr.

[...]

Hoje resolvemos correr no parque, o mesmo que estive com Enzo a meses atrás. Lembro como se fosse hoje daquele dia.
-Você está bem? - Otávio perguntou enquanto paravamos pra descansar.
-Sim, só estava distraída. - deu de ombros e ele concordou. - Podemos continuar?
-Podemos. - terminamos nossa corrida e paramos para tomar uma água.
-Estava pensando da gente passar um fim de semana fora. - ele fez um carinho no meu rosto.
-Acho uma ótima ideia. - dei um selinho nele e olhei em volta foi quando meus olhos capturaram ele parado observando tudo, sua expressão parecia chocado. Enzo estava com uma barba e parecia cansado, eu não estava preparada pra ver ele. Respirei fundo e dei um impulso pra ir falar com ele, mas desisti quando senti o toque de Otávio no meu braço.
-Está me ouvindo? - ele segurou minha mão e eu despertei totalmente do transe.
-Sim, estou. Podemos ir embora?
-Claro, vamos. - ele apertou minha mão e nós seguimos. Dei uma última olhada e ele ainda olhava pra gente. Tomara que ele não faça nada com Otávio novamente.

[...]

Já estava no hospital quando Bruna chegou perto de mim, ela parecia querer me falar algo e não conseguia.
-Fala logo. - olhei pra ela esperando.
-Enzo te viu hoje com Otávio no parque.
-Eu sei, também o vi.
-Ele quebrou a casa inteira quando chegou. - eu olhei pra ela chocada. - Nisso ele acabou machucando a mão feio, pode ser que tenha quebrado até um osso de tanto que ele socou paredes.
-Não me diga que ele está aqui.
-Sim, está. - respirei fundo. - Estão te chamando pra poder atender ele. - fechei meus olhos por uns minutos.
-Tudo bem. - peguei a ficha da mão dela e fui até aonde ele estava esperando.
-Boa tarde, me chamo Dra. Lara. O que aconteceu com a sua mão, Sr. Enzo? - perguntei e ele me olhou com raiva.
-Acho que estou bem já, eu vou pra casa. - ameaçou levantar e Tom parou na frente dele.
-Você vai deitar ai e esperar a Dra. olhar a sua mão, ninguém mandou estar com raiva do mundo e quebrar a casa e socar as paredes. Eu estou com a minha mulher grávida e tive que largar ela pra poder vir cuidar de você. Então deita e responda as perguntas da Dra.
-Obrigada, é muito difícil fazer meu serviço quando o paciente não colabora. - falei e ele me olhou com raiva.
-De nada, Lara.
-Como Emma e o bebê estão? - perguntei enquanto tentava analisar a mão de Enzo. Senti minha pele arrepiar e a dele também quando o toquei, mas resolvi ignorar.
-Estão bem, hoje ela está indisposta mas logo vai estar bem.
-É assim mesmo, o começo e o final da gravidez são os mais difíceis.
-Acho que o começo foi pior. Pra você também foi? - parei na hora e engoli em seco. - Desculpa, eu não sei aonde estava com a cabeça.
-Ela foi bem no começo da gravidez, passou mal poucas vezes. Mas meu perfume a deixava enjoada quase sempre. - Enzo respondeu com a voz baixa. Fechei meus olhos por uns segundos e abri dando de cara com os olhos de Enzo me analisando.
-Irei pedir pra uma enfermeira limpar sua mão e ver se vai ser caso de fazer uma cirurgia ou só imobilizar. - fiz minhas anotações na ficha. - Assim que ela terminar irá me chamar pra analisar.
-Vai demorar muito? - Enzo perguntou.
-Um pouco. - uma enfermeira entrou na hora e vi ela morder a boca discretamente quando viu Enzo. - Quando terminar de limpar a mão dele, mande me chamar, por favor. - entreguei a ficha e sai rápido.
Eu sabia falar da minha perda, já era algo que conseguia, mas falar disso com os olhos do Enzo me encarando me deixava triste demais.
Voltei a sala alguns minutos depois e só Enzo estava lá. Ele me observou sério e eu respirei fundo enquanto colocava uma luva.
-Você ainda está dor? - perguntei e ele negou. - Ótimo. - analisei e depois de alguns segundos já sabia o que fazer. - Você vai ter que apenas imobilizar a mão por 15 dias, depois tem que voltar pra eu ver como vai estar a recuperação. Tudo bem?
-Uhum.
-Senta, por favor. - ele sentou e eu comecei a enfaixar sua mão. Senti seus olhos em mim o tempo inteiro.
-Sinto sua falta! - sussurrou e eu o olhei.
-Você que me fez ir embora e depois deu uma surra no meu amigo.
-Amigo que virou namorado bem rápido, pelo visto.
-Isso realmente não é da sua conta.
-Lara, eu te amo ainda. - as lágrimas apertaram.
-Nunca daríamos certo, Chefe Enzo. - ele bufou e fechou a cara.
-Você nunca vai voltar pra mim, né?
-Enzo, vou te dar o mesmo conselho que me deram: siga em frente!
-Se é isso que quer.
-Acabei. - peguei a receita e o entreguei. - Volte daqui a 15 dias e tome os analgésicos, caso sinta dor.
-Obrigado. - saiu sem olhar pra trás deixando apenas seu cheiro na sala.
Eu nunca iria superar ele? Acho que ainda era recente demais, mas eu iria superar. Uma hora ia passar!


Atraída Pelo PerigoOnde histórias criam vida. Descubra agora