A?A! - Capítulo 13 - Arrependimentos.

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Revisado por Luiz Monteiro

Arrependido.

Essa era a palavra que definia o meu casamento naquele momento. Eu estava arrependido de ter casado tão cedo. Eu ainda amava o homem com quem eu tinha casado. Mas a responsabilidade daquela comunhão estava pesada demais para eu carregar. Eu deveria ter namorado mais, conhecido mais Linkin. Com esses pensamentos eu chorei a noite inteira.

As paredes que eu achei que eram sólidas estavam desmoronando. Meu casamento estava entrando em ruínas. Segredos, poder, descaso. Os primeiros raios da manhã entraram pela janela do quarto que eu estava. Sentei no parapeito de vidro de onde podia ver o motorista ao lado do carro com o seu patrão dentro.

Isso me fez voltar nas duas questões que me incomodaram a noite inteira.

A Humilhação.

O beijo.

Como um filme, lembrei-me da primeira cena. A cara de deboche dos amigos de Linkin, se é que eu poderia chamar aquilo de amigos, perguntando quem eu pensava que era. O mais dolorido era saber que esses caras tinham plena consciência que eu era casado com Linkin. Mesmo que a cerimônia tivesse sido para os mais íntimos. Meu casamento tinha sido capa da maioria das revistas nacionais. Era impossível eles não saberem.

A pergunta "quem você pensa que é?" não se tratava de saber quem realmente eu era, eles questionavam se eu sabia o meu lugar. Que pela visão deles, era muitos degraus abaixo do seu nível.

Isso me consumia. O choro voltou novamente, as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Novamente veio o arrependimento. Na visão de todos, eu era um professorzinho gay que tinha seduzido o irmão de um aluno rico e hétero para dar o golpe do baú.

Achei que com o tempo eu me acostumaria, ou lutaria contra, mas sem Linkin ao meu lado, acabei descobrindo que não era forte o suficiente para enfrentar aquilo. O que me causava mais raiva. Eu sempre fui Oliver Porscher, empoderado. Sempre soube o meu valor, mas ultimamente eu duvidava desse valor. A lembrança da nossa viagem a Lisboa, quando aquele homem nos agrediu verbalmente me veio à tona. Aquele dia estava no meu top dez de arrependimentos. Mas eu não faria diferente. O senhor merecia ir para cadeia por isso, ou pelo menos sofrer uma consequência. Mas ele já tinha perdido o filho, seu castigo era vagar pelo Brasil em busca de uma pessoa que eternamente iria rejeita-lo se um dia o encontrasse. Nenhuma punição seria maior que essa. Mas a mãe, ela sim não merecia passar por isso. Foi por ela que fiz o que fiz.

Mas porque eu estou remoendo isso agora? Pensei.

Então passei para a segunda questão.

O beijo que Nicolas me deu, e que apesar dele ter me beijado, eu não fiz o menor movimento para impedir. Não consigo dizer se permitir isso para me vingar, para dar o troco na humilhação ou porque eu simplesmente queria. Quando você ama uma pessoa, isso não quer dizer que você não sinta atração por outra.

Nicolas deixou bem claro que queria ir além do beijo. Mas isso significaria não só trair Linkin, mas trair uma pessoa mais importante, eu mesmo. Fazer aquilo certamente me destruiria depois. Não queria que ele pensasse coisas ruins de mim, mas o fato era que eu não queria pensar essas coisas de mim mesmo.

Agora eu precisava tomar uma decisão, eu contaria ou não para Linkin? Será que valia a pena? Será que meu casamento sobreviveria a isso? Todos os dias esse casamento passava por uma provação, mas parecia que a cada pancada que as paredes recebiam, mesmo elas ficando em pé, elas iam ficando cada vez mais francas, não sei bem quantas pancadas elas ainda resistiriam.

Olhei novamente para o carro lá embaixo, mas não o encontrei, olhei para o fim da rua e o sedam negro da Hyundai com a logo da empresa já estava finalizando a curva. Fechei os olhos mentalmente e esperei.

Aceito? Aceito!  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora