A?A! - Capitulo 22 - Não me machuque

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Eu quero me separar de você...
Eu quero me separar de você...
Eu quero me separar de você...

Aquela frase ecoava por todo o parque. Linkin me olhava com os olhos petrificados que mostravam medo, arrependimento e angústia. Todos esses sentimentos misturados em um só olhar.

Minha garganta queimava como brasa, aquelas palavras sagravam o meu pescoço, mas era preciso. Eu não podia mais negar o que estava acontecendo. Eu não podia negar que o meu casamento era uma mentira, que a minha vida nos últimos meses foi uma farsa. Eu não podia acreditar que o homem que eu dormia todas as noites era tão baixo e mal caráter ao ponto de esconder tamanha barbaridade. Linkin já tinha me falado do estado de Camila, mas vê-la pessoalmente me deu um choque de realidade que eu não podia ignorar. Eu não poderia ser feliz com ele sabendo que ela estava sofrendo.

Algumas horas antes...

— Camila? A pobre Mila? Camila Guimarães? — perguntou a senhora — Por que não disse isso antes? Venha comigo.

Segui a doce senhora por um corredor até chegar a um salão, o sol estava quase se pondo quando saímos para um jardim. De fundo se tinha uma linda paisagem, mas no foco, estava uma das imagens mais tristes da minha vida. Uma linda moça que aparentemente tinha uns 28 anos com cabelos longos loiros até o meio das costas, em um vestido branco. Ela estava de lado e ainda não tinha nos vistos ali.

— Esse é o seu passatempo favorito — disse a senhora — pintar. Às vezes ela pinta a paisagem, os pais, alguns objetos, mas quase sempre é o marido.

— Marido? — perguntei. Aquelas palavras me causavam dor.

— Sim, um rapaz que vem vê-la de tempos em tempos. Na verdade, eles eram namorados, casaram no impulso. Mas ela era muito apaixonada. Ainda é. — disse a senhora me contando a história que eu já sabia, mas com esses detalhes novos — Ela foi trazida para cá alguns meses depois de sair do hospital, mas sua consciência já estava quase toda corrompida. Camila era muito agitada, chama pelo rapaz e pelo filho.

— Que Filho? — perguntei com uma voz um pouco mais alta do que o normal. Nesse momento Camila olhou para nós, mas não esboçou nenhuma reação e eu tomei um susto, o outro lado do seu rosto estava desfigurado. Exatamente na metade do rosto, seu olho esquerdo quase não podia se ver. As marcas do acidente se fazia presente. Foi então que notei marcas de outras cirurgias pelo corpo e uma prótese de última geração.

— Você não sabia? — perguntou ela.

— Não, que filho? — insisti muito abalado. Meu coração queria saltar pela boca. Ela me pediu para que a seguisse, eu estava começando a ficar enjoado. A senhora me levou para o que eu acredito que seja o quarto dela. A parede era completamente coberta por quadros, do jeito que ela tinha descrito. Mas o que me chamou a atenção era Linkin, ele estava por todo o lugar, em sua grande maioria ele segurava um bebê.

— Camila estava grávida de sete meses quando ela e o rapaz sofreram o acidente, mas ela foi muito irresponsável com o filho, eles foram. Iam para festas, ela bebia muito álcool, o bebê quase não se desenvolveu. Ela tinha uma barriga pequena. No dia que foi levada ao hospital, ela entrou em trabalho de parto, foi necessário um cesárea, isso antes mesmo de amputar a perna que tinha sido esmagada. Foi um horror pelo o que a mãe dela me contou. Mas o bebe nasceu vivo. contudo muito fraco, muito prematuro. Camila o pegou nos braços uma única vez, depois ela passou por uma série de cirurgias para arrumar ossos, tirar alguns dedos, a perna e arrumar a pele. Quando ela acordou de tudo isso, voltou para realidade, lembrou do filho, um menino. Mas já era tarde demais, a criança não tinha resistido e acabou falecendo 8 dias após o parto. O rapaz ainda estava internado, então os pais de Camila cuidaram do enterro. Os pais dela processaram o garoto, contudo um homem terrível moveu mundos e fundos para abafar tudo. O pai de Camila foi até o hospital atrás do rapaz, mas um enfermeiro disse que ele tinha sido transferido. Camila começou a chamar pelo filho até que foi enlouquecendo. Era martirizante vê-la sofrer assim, dois anos atrás o rapaz apareceu aqui. Quando eu soube que era ele, nossa, eu briguei e o expulsei daqui. Mas ele insistiu por vários dias até que eu acabei cedendo e foi a melhor coisa que eu fiz. O rapaz era inocente, pelo menos do abandono dela. Camila estava em um estado irrecuperável, mas foi a primeira vez que ela o viu depois de tudo. Nossa, eu pensei que as coisas ficariam bem para ela depois disso. Tudo mudou. O mundo dela voltou a ter cor e vida de novo. Durante muito tempo ela ficou bem, mas quando lembrava do filho, ficava descontrolada e só se acalmava quando o rapaz vinha aqui, e isso às vezes levava dias, já que ele mora em outro país que não lembro o nome agora. Então um dia ele deu aquela boneca a ela, até eu me assusto com a semelhança humana que ela tem. Disse que era o bebe deles.

Aceito? Aceito!  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora