✳Capítulo 1✳ O Porto

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Um ano depois...

As palavras sumiram,
O coração deleita em dor
A solidão e a lua se uniram,
Tripudiando sobre o meu dissabor!

Ouço o silêncio da noite,
Sinto o vento a balançar as cortinas,
Mesmo suave se traduz em açoites,
Cortante como uma guilhotina

A penumbra traz aconchego
Devolve a paz e o sossego
Um momento pra sonhar

Então acredito na razão,
E ouço tão somente meu coração,
Que simplesmente pulsa por amar...

Ela deixou o livreto de lado e suspirou. Fazia alguns dias que ela o lia mas nunca conseguia terminar a mesma poesia, formava-se um nó em sua garganta e a passagem de ar ficava limitada. Fechou os olhos e respirou profundamente, tentando não chorar... Em vão. Diziam que a dor passa com o tempo mas ela sabia e acreditava, terminantemente, que aquilo era mentira. A ferida não cicatrizou e talvez nunca fosse cicatrizar. Um ano se passou desde que deixou tudo para trás mas ainda estava marcada com a missão de desvendar o mistério que rondava sua mãe e o rei da Floresta das Trevas. As palavras dos dois ainda eram frescas em sua memória e ela ainda podia sentir a dor mas ao mesmo tempo, parte em si sabia que nem tudo foi esclarecido como deveria. Quem mentiu? Quem era realmente o inimigo?

Além da dor de não poder confiar em ninguém, ela ainda tinha que se preocupar com a tal "feiticeira" que sua mãe mencionou. Pelo que ela entendeu, seu coração não só celava seu amor e sim a alma de uma bruxa, se caso ela desfizesse o feitiço a alma seria liberta. Sua cabeça quase explodia... A muito tempo estava sentindo-se sozinha como naquele soneto mas a única coisa que aliviava parte de sua angústia era em saber que Legolas estaria seguro.

Ela não gostava de lembrar do príncipe que mudou completamente sua vida, mas tudo nela lembrava ele. Seu corpo modificado; mais delineado agora que havia se tornado uma mulher de verdade, olhos mais cheios de autoridade e firmeza. Apesar de ter se passado um ano, o toque do príncipe em sua pele ainda era fresco em sua derme. Ainda conseguia sentir a respiração do elfo em seu pescoço, seus lábios rossando nos dele...

Aranel sugou o ar e olhou para a janela. O sol nascia atrás das colinas e o cheiro salgado do mar encheu o pequeno quarto. Ela se levantou e caminhou até o sofá onde o arco e as facas estavam.

— Melinel, está acordada? — ela ouviu a voz do humano e bufou.

Melinel Baker foi o nome que ela escolheu para se disfarçar e ficar fora das vistas que qualquer um que sua mãe mandasse para lhe procurar.

— Não! Não estou acordada! — ela gritou vendo a porta se abrir. — Estou dormindo em pé!

O humano assentiu. — Bom saber que você é sonâmbula. — ele jogou um pergaminho para ela e Nel pegou no ar. — Consegui o mapa do navio, agora não sei o motivo de querer tanto isso.

— Meus fins não lhe interessam, Kay. — disse ela friamente abrindo o pergaminho e olhando o desenho do navio.

Ele suspirou e sentou-se na cama. — Nunca interessam...

Nel bateu as mãos na coxa e olhou para o humano. Kayke Manzine era um ladrão e irritantemente sarcástico. Ele tinha por volta de vinte e dois anos, usava roupas grossas e escuras, seus olhos eram azuis e seu rosto fino mas os cabelos brancos davam o ar mais estranho para alguém com idade dele. Aranel o conheceu enquanto passava por Valle. Kay tentou roubá-la mas acabou em cima de uma árvore.

Verdades de Sangue✴Ela é do Príncipe✴Vol. 2 - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora