Capítulo trinta

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Remexo nos papéis em cima da minha mesa. Não sobrou muita coisa. Não era para menos, não parei um minuto sequer hoje. Como não tive que sair do escritório, consegui focar no trabalho a fazer ao invés de deixar minha mente vagar pelo que estava acontecendo fora daqui. Arrumo a pilha de orçamentos prontos e coloco no canto direito da minha mesa. Fico reparando nas mesas ao redor da minha. Todo mundo tem alguma coisa pessoal perto dos computadores. Uns tem porta-retratos, outros bonecos de desenhos animados e canecas personalizadas. Eu só tenho a minha caneca que o David me deu de aniversário, mas fora isso não tenho nada de mais pessoal. Bom, você tem um porta-retratos com ele – meu cérebro me lembra.

É verdade, tenho uma foto de um dos meus momentos preferidos em toda minha vida. O salto de paraquedas com Henri. Foi perfeito e ficou pra sempre guardado na minha memória. A foto em si, está guardada no fundo de uma gaveta. Guardei ela lá, afinal não queria ficar me lembrando dele quando eu estava querendo esquecê-lo. Hoje eu sei que está cada vez mais difícil de esquecer o cara que eu gosto. – Suspiro. – Em todo caso, não poderia colocar a nossa foto exposta aqui. Que coisa mais injusta!

Olho o relógio e já deu a minha hora de ir embora. Já não vai dar mais tempo de ir para a academia mesmo, então não importa que horas eu vou sair hoje. Pelo menos eu fiz todo o meu trabalho da semana. Desperto de meus devaneios quando meu celular toca. Fico olhando para a tela pensando se atendo ou não. É claro que vou atender.

– Oi, Henri?

– Oi, tudo bem? – Sua voz é calma.

– Tudo sim e com você? – Digo qualquer coisa, não quero falar sobre Carla.

– Tudo bem também. Queria te encontrar hoje para continuar a nossa conversa. – Seu tom é bem formal.

– Henri, eu ainda estou no trabalho, devo chegar um pouco tarde em casa hoje.

– Se você quiser eu posso te encontrar lá.

Respiro fundo. Só queria ficar sozinho, mas se existe uma chance de eu ficar bem com pelo menos uma pessoa de quem eu gosto, vou aproveitá-la.

– Pode sim. Devo chegar lá pelas dez. Tudo bem?

– Tudo bem. Te encontro lá na porta. – Sua tom muda para eufórico.

– Combinado, então. Te vejo lá.

– Um abraço.

Ele desliga. Por um momento imagino ele dando um sorrisinho safado depois de me desejar um abraço. Ignoro o pensamento. Talvez eu não seja uma boa companhia hoje, não foi uma boa ideia ter aceitado conversar com ele. – Suspiro. – Agora já era. Bloqueio o computador e juntos minhas coisas para ir embora para casa. Olho no relógio e já vai dar nove horas. Estou saindo muito mais tarde do que o normal. O fato é que não queria chegar e dar de cara com a mudança da Carla. Sei que não ia me fazer nada bem. E se em todo caso ela tiver mudado de ideia, não quero forçar outra conversa com ela. Quero dar o máximo de tempo que ela precisar.

Minutos depois estou dentro do meu ônibus, a caminho de casa. Estou cansado e o trânsito está um caos devido às diversas obras. Me encosto na janela e fico observando as pessoas passando. Minhas pálpebras começam a ficar pesadas. Tento piscar e tentar prestar atenção nos detalhes lá fora para não dormir. Não quero dormir no ônibus... não quero dormir no ônibus... não quero...

Acordo assustado minutos depois. Droga, adormeci! Olho para os lados e a maioria dos assentos estão vazios. Olho para fora e descubro que já passou do meu ponto. Levanto correndo e faço sinal para descer. Merda! Vou ter que voltar a pé. O motorista ainda percorre mais alguns metros até que para no próximo ponto. Desço correndo os degraus e começo minha caminhada de volta para casa.

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora