Capítulo quarenta e oito

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Batidas na porta do meu quarto acabam me acordando. Levanto assustado com o barulho e o sol entrando pela janela do meu quarto. Meu coração está disparado e meus pensamentos estão confusos, ainda despertando aos poucos. Não consegui dormir direito esta noite, todas os pensamentos possíveis ficaram rodando na minha cabeça. Fiquei aguardando a ligação de Henri, mas ele não ligou. Que horas são? Tento organizar meus pensamentos.

– Menino Pedro! Você vai se atrasar para o trabalho! – É a voz de Lucinha lá fora.

– Já estou levantando, Lucinha! Obrigado! – Grito de volta.

Corro para o banheiro para tentar tomar um banho rápido. Não acredito que esqueci de colocar meu celular para despertar. Saio as pressas do banheiro e troco de roupa tão rápido que merecia até entrar para o livro dos recordes. Em seguida, passo pela sala rapidamente e vou direto para a saída.

– Bom dia, Lucinha! Obrigado por me acordar. Esqueci de colocar meu despertador para tocar.

– Bom dia! Não vai tomar café da manhã? – Ela adota um tom maternal.

– Não posso, estou muito atrasado e acho que tenho uma reunião às dez e meia. E você conhece esse trânsito do Rio de Janeiro.

– Sim, conheço bem. Mas vai pelo menos comendo uma maçã pelo caminho. Toma. – Ela pega uma maçã da fruteira, lava rapidamente na pia e me entrega.

– Obrigado.

– Vai com Deus, meu filho.

– Fica com Deus também, Lucinha.

Fecho a porta atrás de mim sentindo que esse último diálogo foi mais com a minha mãe do que a pessoa que trabalha para mim. Não sei o que seria da minha vida nesta cidade sem a Lucinha para me mimar. Aperto o botão do elevador enquanto como a maçã. Pelo menos não vou para o trabalho de barriga totalmente vazia. A porta se abre e eu entro, apertando o botão do térreo.

– Que bom, vê-lo novamente, Sr. Pedro. – Uma voz no fundo da minha mente começa a crescer e eu sei que é inevitável, hora da consulta mental que eu estive adiando por tanto tempo.

– Bom dia, Dr. Pedro. Pode ser rápido, por favor? Hoje estou atrasado.

– Claro, só quero que me fale do seu dia ontem. – Imagino o Dr. Pedro, como quem não quer nada, anotando algo no caderninho.

– Foi normal. – Tento disfarçar.

– Não sentiu falta do Piloto? Aliás, onde ele está?

– Eu não sei. – Fico tenso.

– Como não sabe onde o seu namorado está?! – Ele pergunta, sarcástico.

– Ele não é meu namorado.

– Mas bem que você gostaria.

– Felizmente isso não é da sua conta.

– Claro que é, afinal de contas, eu sou você.

As portas do elevador se abrem, colocando um ponto final nessa conversa mental de doidos. Eu nem sei porque eu ainda tenho essas conversas com a minha própria consciência. Por fim, saio das pressas do prédio e vou para o meu ponto de ônibus. Penso por um instante e resolvo pegar um Uber para o trabalho, hoje não posso me atrasar. Pego o celular – ainda dentro do condomínio – e chamo meu Uber, que chega muito mais rápido do que eu imaginava.

– Bom dia! – Digo ao entrar no carro.

– Bom dia, Sr. Pedro, certo? – Ele pergunta.

– Sim.

Ele me pergunta sobre a temperatura do ar condicionado e me oferece balas enquanto eu me ajeito na poltrona de um carro impecavelmente limpo e cheiroso. Digo que estou ok, mas só com um pouco de pressa e ele coloca o GPS para seguir a melhor rota, de acordo com o tráfego intenso da região. Alguns minutos depois, enquanto observo a paisagem pela janela, tentando não pensar muito na minha consulta mental, meu celular toca. Vejo quem está me ligando no visor do celular e demoro alguns segundos decidindo se atendo ou não. Suspiro e por fim resolvo atender.

– Oi.

– Pedro?

– Fala Henri. Lembrou que eu existo? – Não consigo segurar minhas frustrações.

– Desculpe por ontem. – Sua voz é calma.

– Não tem pelo que se desculpar, Henri. – Tento abaixar a minha voz para que o motorista não fique escutando. – Afinal, nós não temos nenhum relacionamento sério.

– Não diz isso, Pedro. Queria te chamar para conversar.

– Henri, porque não deixamos isso para lá? – Deixo sair tudo que está na minha cabeça. – Vai ser sempre assim mesmo... você passa um tempo legal comigo, nos aproximamos, depois você some, me deixa preocupado e angustiado e depois volta querendo conversar. Nós conversamos, você me convence a te ver e começa tudo outra vez.

– Dessa vez é diferente. Eu quero conversar e te contar tudo. Sei que estou te devendo esta conversa e sei que você quer saber. E mesmo assim, eu só fiquei fora por um dia. Eu sei que te devo explicações de onde eu tive e é por isso que eu queria conversar. Pode ser? – Sua voz é séria.

Fico impressionado em como Henri consegue ser tão paciente comigo. Eu sei que eu fico meio obcecado por algumas coisas relacionadas a ele e que sempre surge alguma coisa que não nos deixa ter uma conversa de verdade e que eu sempre jogo isso na cara dele. Mas ainda assim ele consegue manter a paciência comigo e sempre quer resolver a nossa situação. Outras pessoas já teriam chutado o balde e desistido há muito tempo, mas Henri não, ele sempre mantém a mesma paciência e seriedade.

– Tudo bem Henri. – Resolvo ser um pouco paciente também.

– Hoje à noite? – Ele pergunta.

– Por quê não deixamos para o final de semana, assim podemos conversar com mais calma, sem pensar em horários. – Eu digo.

Hummm... – ele pensa por um minuto – pode ser então. Sábado de manhã está legal para você?

– Está sim. Ótimo.

– Ok, mas então quero te levar a um lugar maneiro, onde poderemos ficar em paz.

– Combinado. Mas Henri... – engulo em seco – tenta não desaparecer até lá. Eu realmente fiquei preocupado de que algo ruim tivesse acontecido com você.

– Pode deixar, eu não vou sumir, Copiloto. Te vejo no sábado. Câmbio e desligo.

– Até lá. – Me despeço.

Ele desliga e eu fico pensando no que motiva Henri a continuar tentando uma coisa não vem dando certo desde que nos conhecemos e acabo me colocando em seu lugar. Eu não sei o que ele sente por mim, mas sei o que eu sinto por ele. E mesmo que eu sempre pense em desistir e fale em "deixar para lá", sei que não seria fácil desistir do homem que amo. Talvez a gente sinta o mesmo um pelo outro.    

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora