Capítulo cinquenta e nove

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A noite passada foi especial, principalmente porque Henri e Carla estavam comigo. Depois da academia, saímos e fomos tomar uma cerveja, nós três juntos. Carla contou mais do seu namoro com David, inclusive ambos já foram apresentados para as suas famílias. Ao saber disso, Henri começou a me questionar sobre quando iria ser apresentado para sua mãe como seu namorado. Eu desconversei, mas senti que ele havia falado sério. Depois, a noite ficou ainda mais especial quando milagrosamente David apareceu e embarcou no assunto com a gente. Confesso que fiquei sentindo um pouco a falta de Ralph na nossa mesa. Inclusive, se saímos todos juntos ontem e ficamos de bem foi porque Ralph nos ajudou. Preciso procurá-lo para agradecer pessoalmente.


Depois de todas as lembranças da noite anterior passar pela minha cabeça em forma de retrospectiva, uma ansiedade volta a me consumir. Estou sentado na pequena recepção de um dos prédios da companhia, onde fica a administração. Nunca tinha vindo aqui, as coisas sempre foram resolvidas na sede principal, onde trabalho, mas depois da fusão com uma outra empresa, a administração ficou concentrada neste outro prédio, no centro da cidade. Não sei bem o motivo de estar aqui, meu novo chefe apenas me disse que o novo CEO gostaria de conhecer pessoalmente os funcionários que ficaram após as várias demissões – por sorte sou um deles.

Mais de meia hora esperando, pensando na vida, finalmente sou chamado. Arrumo minha camisa, para não parecer muito amassada e vou entrando cuidadosamente na grande sala do CEO. A recepcionista morena e de olhos claros, segura a porta calmamente para que eu passe, ostentando um sorriso no rosto. Quase tropeço na beirada do carpete, mas consigo me segurar a tempo. Ao me recompor e levantar o rosto um pânico toma conta de mim. O senhor me olhando firmemente de braços cruzados em cima da mesa é ninguém menos do que o tio de Henri. Eu não consigo acreditar no que vejo e pisco várias vezes até perceber de que a imagem do homem de cabelo branco na minha frente não muda.

– Sente-se. – Ele faz um gesto e eu tento me sentar, ainda meio paralisado.

Ele me olha por alguns segundos e como não digo nada ele começa.

– Mas olha se não é o famoso Pedro Otávio. Nunca pensei que encontraria você assim, principalmente trabalhando para mim.

Ele fica esperando uma resposta, mas não digo nada.

– Mas vamos ao que interessa, o objetivo desta conversa é conhecer um pouco mais das pessoas que vão trabalhar para mim, agora que a fusão de uma das minhas empresas com a P&V foi concluída.

Ele mexe em alguns papéis em cima da mesa e volta a me olhar. Continuo mudo. De repente eu acho esse tipo de conversa estranha. Geralmente quem faz isso é o Recursos Humanos da empresa e não o próprio CEO. Além do mais, não ouvi ninguém comentando de que o CEO estava conversando com outros funcionários.

– Estou vendo aqui que você é de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, estudou Engenharia Civil na Universidade Federal de Juiz de Fora e no último ano entrou como estagiário na P&V. – Ele me olha e eu concordo com a cabeça. – Trabalhou por um ano e depois foi efetivado. Interessante para alguém tão jovem.

– Obrigado.

– Isso não foi um elogio. – Sua voz se torna extremamente áspera.

– Desculpa. – Digo sem pensar.

– Eu vou direto ao assunto. Eu te trouxe aqui porque quero saber quanto você quer para sumir da vida do meu sobrinho. – Ele diz as palavras tão naturais que parece que estamos falando do clima.

– O quê?! – Fico boquiaberto com a pergunta inesperada.

– É isso mesmo o que você ouviu. Dê o seu preço. Eu vou te pagar e você vai sumir da face da Terra.

– Eu agradeço a oferta – tento manter a calma – mas eu não pretendo sumir da vida de Henri.

– Não fale dele como se fosse o seu par de dança. – Ele cospe as palavras na minha cara. – Henri é homem. Sempre foi e sempre vai ser.

– Claro que é. E eu também sou. – Eu me levanto, começando a ficar com raiva. Não tenho paciência para gente arrogante. – Inclusive agora somos namorados, já está sabendo?

– Namorados?! – Ele ri de novo, dessa vez mais artificialmente. – Essa aventura vai passar e ele vai te largar sem pestanejar. Aí você vai ficar sem a minha oferta e sem alguém pra te foder.

Ignoro a última parte. Estou ficando com tanta raiva, que a minha têmpora começa a latejar.

– Bom, então que seja eterno enquanto dure. – Começo a virar as costas para sair. Nada vale essa conversa com alguém totalmente antiprofissional.

– Você está demitido. – Ele diz atrás de mim. E sinto meu estômago se retorcer.

Olho para trás uma última vez e tento fazer minha voz sair o mais firme que eu posso.

– Obrigado. Ficar longe do senhor é minha meta de vida.

Saio pela porta dando passos firmes e logo estou no saguão. Encosto na parede. Minhas mãos e pernas começam a tremer e sinto meu peito se apertar. O que eu vou fazer agora?! Estou demitido. Minha área está muito difícil de se conseguir um emprego, não esperava isso agora. Não sei como vou me sustentar. Vou ter que voltar para a casa da minha mãe. Ah meu Deus! Um desespero toma conta de mim.

Não sei o que fazer, então faço o que é o mais lógico, volto para a sede da empresa de táxi e vou para a minha sala, mas antes que eu entre, meu chefe me chama na sala dele e me dá a notícia de que fui demitido – oficialmente. Ele pede para eu entregar meu crachá e meus materiais e me dá a minha carta de demissão, já assinada por ele. Ele também me avisa que tenho trinta dias a contar da data de hoje para deixar o apartamento que a empresa me emprestou. Engulo em seco e faço tudo o que ele pede, sem tentar demonstrar um pingo de medo ou arrependimento. Aliás se tem alguma coisa que não me arrependo é de ter dito um não bem grande na cara daquele velho idiota.  

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora