Capítulo quarenta e dois

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Dou um passo para o lado e me desvencilho de Ralph, como se a ligação fosse a coisa mais importante do mundo para mim, o que de fato não deixa de ser verdade. Respiro de alívio antes de atender. Olho de lado e vejo Ralph, visivelmente incomodado, se afastando.

– Alô? – Tento deixar minha voz o mais normal possível.

– Filho, chegou bem? – É a minha mãe, preocupada como sempre.

– Cheguei sim, mãe. – Me viro de costas para Ralph, tentando o máximo possível quebrar o clima anterior.

– Ah sim, só queria saber se já estava em casa.

– Estou neste momento indo para casa, Verinha, não se preocupe. – Deixo minha voz aumentar ligeiramente, para que Ralph escute a parte de que estou indo embora.

– Tudo bem então, estou indo dormir tranquila. Sua prima te mandou um beijo! – Ela diz, já com a voz cansada.

– Até mais, mãe! Fica com Deus!

– Você também meu filho! Boa noite!

– Boa noite.

Ela desliga o telefone e eu fico um momento virado, de olhos fechados, sem saber o que fazer a seguinte. Tomo fôlego e me viro, tentando agir normalmente.

– Parece que você já está indo, então... – Ralph diz imediatamente.

– Sim, preciso ir, Ralph. Estou cansado e acordo cedo amanhã para trabalhar.

– Tudo bem. – Seu tom ainda demonstra frustração. – Vou pedir para Miguel te levar de volta.

– Obrigado. – Sorrio nervosamente.

– Pedro. – Ele se aproxima de mim. – Espero que as coisas não estejam estranhas entre a gente.

– Claro que não, Ralph. Somos amigos. Temos que nos entender sempre. – Tiro qualquer coisa da cabeça. Não sei o que falar.

– Tem certeza? – Sua expressão se suaviza.

– Claro. – Continuo tentando sorrir.

– Tudo bem, então. Te vejo na academia?

– Claro.

– Ah, Pedro. – Ele aperta meu ombro. – Obrigado pelos conselhos hoje. Espero não ter feito nada para estragar a nossa amizade.

– Claro que não, Ralph. A gente se vê na academia sim.

Me despeço rapidamente de Ralph depois que ele chama Miguel e logo já estou colocando o cinto, sentado no banco de trás do grande carro preto. Ralph não deveria ter se aproximado de mim daquele jeito. Por mais que eu o ache atraente, não quero ter um relacionamento amoroso com ele. Mas talvez você tenha agido de modo de que realmente queria um relacionamento com ele – meu cérebro sempre me contrariando. Não, pelo menos nunca dei a entender nada, não que eu me lembre. Ou será que sim? Não quero nem pensar no que teria acontecido se Ralph tivesse me beijado de fato. Não sei como seria a nossa amizade depois disso. Mas o Vizinho te beijou e vocês continuaram amigos. Mas isso é diferente! Ralph está aqui e o Léo está longe! – Grito mentalmente.

Minha cabeça começa a dar voltas. Henri. Onde será que ele está? Respiro fundo, meu coração está acelerado. E se ele estiver com alguém? E se ele perceber que ele não gosta de mim como ele diz que gosta? Minha respiração fica ainda mais forte. Meu peito começa a se apertar. E se outra pessoa o beijar? E se Henri começar a gostar de outro? Minha garganta começa a se apertar. Meu Deus! Ele me disse que me ama e o que eu fiz em troca? O afastei todas as vezes que ele tentou se aproximar. Eu sou a pior pessoa do mundo! E se neste exato momento outra pessoa beijá-lo e ele gostar? Henri... onde você está?

O carro se movimenta, Miguel não diz uma só palavra, pelo menos não consigo escutar nada, meus pensamentos estão a mil. Um desespero toma conta de mim e eu resolvo mandar uma mensagem. Digito rapidamente e espero a resposta. Olho para fora e vejo as árvores do jardim botânico passando rápido por nós. Segundos depois eu recebo a resposta.

– Está tudo bem? – Miguel me olha pelo retrovisor.

– Está sim, senhor. – Meus pés começam a bater de nervoso.

– Tem certeza? – Ele insiste.

– Aham. – Concordo nervosamente.

Alguns minutos se passam e Miguel pega uma rua que sei que vai dar na orla. Estou a caminho de casa. De repente tenho uma ideia.

– Senhor Miguel, você poderia me deixar em outro lugar? – Tento sorrir.

Hummm... – ele pensa um pouco – As ordens o senhor Ralph foi para deixá-lo são e salvo em sua casa.

– Eu sei, mas é que eu preciso resolver uma questão urgente. Por favor! Senão vou demorar muito a sair de casa e pode ser tarde demais.

– Tudo bem, senhor. Para onde quer ir?

– Para este endereço. – Entrego o meu celular para ele ver.

– Sei onde é, vou te levar então. Mas que isso fique entre nós, ok?

– Tudo bem.

Miguel pega a pista da esquerda rapidamente, pronto para fazer o primeiro retorno. Meu coração está quase saindo pela boca de adrenalina. Ele anda mais um pouco, vira aqui e depois ali e estaciona perto de um prédio branco com vidros verdes na fachada. Chegamos.

– É aqui, senhor. Tem certeza de que vai ficar bem? O Rio de Janeiro é perigoso à noite, mesmo aqui por essas bandas.

– Vai sim. Vai ficar tudo bem. Obrigado! – Retiro o cinto rápido e saio, batendo a porta atrás de mim.

Estou com o coração pulando no peito e um nó na garganta. Preciso resolver isso. O porteiro me vê do lado de fora e já abre a porta de vidro para que eu entre. Assim que entro, peço para ele ligar para o apartamento e, minutos depois de ser autorizado a subir, estou no elevador, com o coração na mão. Preciso resolver isso agora!

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora