Capítulo quarenta

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Me sento na cama, calçando meu sapato. O final de semana passou tão rápido e já é hora de voltar para casa. Por um lado, eu já sinto saudades do carinho e da companhia da minha mãe, mas por outro fico ansioso para voltar para a minha própria casa e para a minha família do Rio: Lucinha, David, Henri, Ralph e... Carla. – Suspiro. – Não consigo parar de pensar nela. Queria ligar para ela e contar o que aconteceu nos últimos dias. Ela ia ficar de cabelo em pé. Mas infelizmente eu tive que fazer a burrada de esconder um assunto tão delicado dela. Resolvi dar tempo a ela, como Lucinha me sugeriu, mas sinto que o vazio que fiquei no peito sem sua presença e sua amizade está aumentando cada vez mais.

– Pedro Otávio! Você vai se atrasar! – Sua voz atravessa a casa, me despertando dos meus devaneios.

– Já estou indo, mãe! – Grito de volta.

Não tenho nada para levar comigo, estou voltando com a mesma roupa que cheguei. Sinto-me grato por ter chegado em casa tão rápido, graças à Henri. O Piloto está bem empenhado em conseguir o que quer – meu cérebro está afiado hoje. Mas é verdade, Henri tem feito muito mais por mim do que eu por ele, e se eu estou aqui hoje é graças à sua boa vontade. Trocamos algumas mensagens durante o resto do final de semana, mas nada demais. Me pareceu que ele estava bem ocupado, apesar de conhecer Henri o suficiente para saber de que quando ele fala pouco é porque tem alguma coisa errada. Bom, veremos quando eu voltar.

Chego do lado de fora, e minha mãe está sentada em uma cadeira, conversando com o taxista, enquanto minha prima está encostada no muro, observando. Reparo que o homem é de meia idade, cabelos um pouco grisalhos e uma barriga protuberante, mas até que não é feio. Estreito os olhos observando a cena. Minha mãe nunca me disse nada sobre voltar a se casar. Depois que meu pai morreu, ela viveu para cuidar da casa, da minha prima e de mim. Eu não ligaria se ela arrumasse uma companhia para os dias de solidão, mas isso já é com ela, não sei como anda seu coração. Talvez ela ainda ame meu pai. Eu ainda o amo, sempre vou amar, mas a vida continua e não é nada fácil. E também acredito que podemos sim amar mais de uma pessoa em uma única existência.

– Estou pronto... e atrasado. – Interrompo a conversa.

– Não está esquecendo de nada, filho? – Ela se aproxima, toda preocupada, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

– Verinha, eu não trouxe nada. Estou voltando com a mesma roupa que vim.

– Ah, é verdade. – Ela sorri.

– Mãe, promete que vai se cuidar? Tomar muita água e continuar o repouso? – Pergunto sério, tentando fazer pressão para que ela obedeça às ordens médicas.

– Claro, filho. Prometo.

– Então vem cá. – Vou até ela, me abaixo e lhe dou um abraço forte. – Fica com Deus e me liga sempre que quiser falar comigo. – Faço uma pausa. – Te amo, mãezinha.

– Também te amo, meu filho! – Ela me aperta forte.

Nós nos soltamos e vou até Lalá para me despedir. Ela vem ao meu encontro e nos abraçamos.

– Qualquer coisa me liga, ok? – Digo no seu ouvido.

– Claro. Deixa comigo. – Ela responde.

– E vai me visitar um dia no Rio. Gostei de conversar com você ontem, podemos fazer isso mais vezes.

– Eu também. – Eu vou soltando ela aos poucos, mas ela me puxa novamente para me falar mais uma coisa. – E, primo... seu segredo está a salvo comigo. Ah, não deixa ele escapar.

Sinto meu rosto ficando vermelho com o comentário, mas relevo. Lalá fez tudo ficar um pouco mais leve para mim. Nos soltamos e eu entro no táxi, abaixando o vidro em seguida, para me despedir mais uma vez das pessoas mais importantes da minha vida.

– Tchau, mãe! Tchau Lalá! Se cuidem!

– Tchau, filho! Manda um beijo para o Henri! – Ela se despede, sorrindo.

– Tchau primo, boa viagem!

– Pode deixar, mando sim. Tchau! Mãe, toma muita água... e repouso! E Lalá, vai me visitar logo!

O motorista arranca com o carro e nós vamos em direção à rodoviária. Como a cidade não tem um aeroporto, o jeito é viajar de ônibus até Juiz de Fora e de lá pegar um voo para o Rio, o que vai me custar milhões, mas foi por uma boa causa. Espero voltar logo para visitar minha mãe. Ou que ela vá me visitar também. Gostaria muito de levá-la à praia um dia, sei que ela sonha em ver o mar, mas detesta viajar. Um dia eu a convenço. Paramos em um sinal fechado no centro da cidade e o meu celular toca. Tiro do bolso para ver quem é e atendo em seguida.

– Alô? – Tento parecer inocente.

– Quer dizer que deu bolo no Thiago? – Sua voz é acusatória.

– Ah, nem te conto Ralph. Viajei às pressas para casa, minha mãe teve uma crise a vesícula e foi parar no hospital.

– Caramba, P.O! – Sua voz fica séria. – Eu não sabia. Me desculpe. Acabei que tive que ir para São Paulo urgente também, por isso fiquei meio sumido.

– Aconteceu alguma coisa em São Paulo? – Fico preocupado.

– Não, nada demais. Só coisas da empresa mesmo. Vou ter que suspender as obras por enquanto. – Seu tom é de pura decepção.

– Como assim, Ralph? Por quê? Você estava super empolgado!

– Pois é, mas eu quero te contar pessoalmente. Quando você volta?

– Bom, não sei direito. Vou tentar pegar um voo urgente de última hora. Senão vou ter que ir de ônibus mesmo, aí só amanhã.

– Qual aeroporto?

– De Juiz de Fora.

– Pera aí. – Ele coloca o telefone no mudo. Não escuto mais nada, fico esperando ele falar alguma coisa, mas ele não diz.

Desço do táxi ainda com o telefone na orelha. Acho que caiu a ligação, Ralph não fala nada, está completamente mudo. Quando vou tirar o aparelho da orelha ele volta a falar.

– P.O, você já comprou sua passagem? – Sua voz transmite seriedade.

– Não, por quê? – Ralph está agindo estranho com esse monte de pergunta.

– Ótimo! Vou pedir para te pegar em Juiz de Fora. Não quero escutar um não como resposta. Simplesmente encontre essa pessoa que estou te passando o número por mensagem e ligue para ele quando chegar lá.

– Ralph... – começo a protestar.

– P.O, to precisando conversar urgente. Não posso esperar até amanhã. Entre em contato assim que chegar lá, ok?

Penso por um minuto.

– Ok. – Vencido pelo cansaço.

– Muito bom! Te espero aqui hoje então.

– Até mais, Ralph.

– Até logo. Faça boa viagem.

Ralph desliga o telefone, me deixando meio perplexo com o que acabou de fazer. Ele mandou me buscar no seu avião particular. O Ralph é doido! Corro para não perder o ônibus e sou o último a embarcar. Bom, pelo menos consegui um voo. Não quero nem pensar no motivo que fez Ralph mandar me buscar no seu avião particular. Sento ao lado de uma senhora de idade, reclino minha poltrona e relaxo, tentando controlar a ansiedade que aperta meu peito.

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora