Capítulo nove

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Mais tarde no meu quarto eu estou deitado na cama, olhando para o teto escuro, imerso em pensamentos em meio a um silêncio quase aterrorizante. Minha cabeça não me deixa dormir e tudo começou com o meu resumo mental diário, que agora está automaticamente programado para acontecer antes de eu dormir. Tive que falar para o Dr. Pedro como foi o meu dia, da academia e de Ralph. Até aí tudo bem, o problema foi quando ele me perguntou "E quais as suas intenções com Ralph?". Ralph é bonito, forte, e aparentemente muito bem-sucedido, mas eu não tenho uma atração sentimental por ele – foi o que eu respondi. E ele teve que fazer a pergunta que eu estava guardando no fundo da minha mente, escondendo de mim mesmo. "Humm... sim. Atração sentimental, claro. A mesma atração que o Piloto te proporcionava." . E não foi uma pergunta, foi uma afirmação. Balancei a cabeça várias vezes para me livrar dessa consulta. Agora estou aqui, com o corpo cansado e meu cérebro funcionando a mil por hora.

Viro-me de bruços e fecho os olhos. Espero vários minutos e o sono não vem. A imagem de Henri continua voltando de novo e de novo. Começo a me sentir triste e culpado ao lembrar das palavras de Carla. Não era mais aquele Henri que eu conheci quando vocês treinavam juntos, mas um totalmente diferente. Meu coração se aperta no peito de tal forma que quase não consigo respirar. Ah Henri, o que eu fiz com você? Estou me sentindo a pessoa mais egoísta do mundo por ter mudado o meu telefone sem avisar a ele. O tempo todo eu estava reprimindo meus pensamentos e minhas lembranças. Em nenhum momento eu sequer parei para pensar nele. Você é um idiota, Pedro! Me viro novamente de barriga para cima. Agora além da cabeça ligada, meu coração apertado não me deixa dormir.

Minha respiração e meus batimentos cardíacos estão acelerados. Sento-me na cama e pego o celular para olhar as horas, uma e meia da manhã. Fico com ele na mão por alguns segundos olhando a tela, mas sem estar vendo nada, apenas imerso em uma ideia que vai ganhando força. Não faça isso – meu cérebro me repreende, mas eu o ignoro. Então, antes que eu possa raciocinar direito, eu abro o aplicativo de contatos, rolo a tela até a letra H e aperto para discar. Meu coração está pulando no peito, mas não resisto e coloco o telefone no ouvido. Chama quatro vezes antes de atender.

– Alô?! – Uma voz grossa e ríspida atende. Será que eu o acordei?

Permaneço sem dizer nada, não consigo. Ah Meu Deus! Para quê eu fui ligar? Tento fazer meu cérebro funcionar. O que eu falo agora?

– Alô? – A voz dele agora é mais calma. Será que ele sabe que sou eu? Não consigo formular o que dizer.

– Pedro, é você? – Ele sabe. Meu coração dá um salto.

– Oi. – Respondo, a voz falhando.

– Oi. Está tudo bem? – Ele diz, preocupado.

– Está... – Fico de pé. – Me desculpe por te ligar a essa hora. – É a primeira coisa que me vem à cabeça.

– Tudo bem. – Sua voz é calma.

– Estava pensando em você... – Vou para a janela e fico observando o céu claro com uma meia lua brilhante. – Você está bem? – O medo da resposta ser não cresce no meu peito.

– Você também está sempre nos meus pensamentos. – Ele ignora minha pergunta. A calmaria na sua voz acaba tomando conta de mim, me deixando mais tranquilo. – Como está a sua vida no Rio de Janeiro?

– Muito corrida, mas estou levando. – Minha voz sai triste.

– Que bom... – Ele faz uma longa pausa. – Você está sentindo a minha falta? – Sua voz fica receosa.

– Todos os dias. – Digo com toda a sinceridade e de repente o meu coração fica mais leve.

– Eu pensei que você tivesse me esquecido. Nunca mais falou comigo. – Sua voz fica quase inaudível. – Até mudou o número do telefone.

Droga! Eu sou a pior pessoa do mundo!

– Me perdoa, eu estava sendo egoísta, nunca parei para pensar em como você estava se sentindo. Coloquei na cabeça a desculpa de que você precisava de espaço para recomeçar o seu relacionamento com a sua noiva.

– Você não tem que se desculpar, Pedro, – sua voz é baixa e triste – fui eu quem falhou com você.

Fecho os olhos uma lágrima rola pelo meu rosto. Você é tão doce comigo, Henri. Quem te vê andando todo marrento pela academia não imagina o quanto você é carinhoso. Queria poder ser assim também.

– Pedro, tenho que desligar agora, preciso resolver uma coisa. – A essa hora? Quase pergunto.

– Tudo bem. Também tenho que ir dormir. Acordo cedo amanhã. – Digo, resignado.

– Obrigado. – Ele diz, carinhoso.

– Pelo quê?

– Por me ligar. – Ele faz uma pausa. – Fez toda a diferença na minha vida. Deixou a minha noite muito melhor.

Fico vermelho com suas palavras.

– Foi bom falar com você. – Ele continua. – Posso salvar o seu número?

– Claro.

– Boa noite, então.

– Boa noite, Henri.

Espero que ele desligue, mas ele não o faz. Ficamos assim por uns dois minutos, então tiro o telefone do ouvido e desligo. Respiro profundamente. Ele está bem. Me deito de costas na cama, com os pés para fora e jogo meu celular para o lado. Ele sente minha falta. Este é o Henri que eu conheço, sempre doce e atencioso. Eu te amo, Pedro. Eu nunca parei para pensar na profundidade dessas palavras, a intensidade dos sentimentos dele. A verdade é que eu nunca acreditei inteiramente nessa frase. A gente se conhecia há tão pouco tempo.

Continuo pensando, enquanto o cansaço toma contade mim. Quem seria aquele que a Carla descreveu, andando cheio de raiva pela academia? Uma voz fala bem ao fundo da minha mente, enquanto eu caio profundamente em um sono tranquilo. Talvez aquele seja o Henri sem o Pedro.

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora