Capítulo um

3.6K 342 17
                                    

Vida nova, emprego novo, casa nova – e uma bagunça fora do normal –, novas oportunidades, novas aventuras, novas pessoas. Bom, é isso que eu espero desta minha nova jornada no Rio de Janeiro. Desde que cheguei há duas semanas minha cabeça não parou um minuto para pensar na minha antiga vida. Nem tão antiga, convenhamos. Amanhã começo uma nova semana cheia de atividades nas principais obras da cidade e pensar que há duas semanas estava dançando na formatura da Carla. Ah Carlitcha! Ela me faz bastante falta neste novo e desconhecido mundo. Nos falamos bastante por telefone nos últimos dias, afinal de contas combinamos de sermos melhores amigos aqui se tudo desse certo para ela.

Olho para fora, o sol ainda está nascendo, mas não consigo mais pregar o olho, tive um sonho terrível daqueles que está acontecendo algo errado e você precisa avisar alguém, mas sua voz simplesmente não sai – suspiro fundo. É melhor eu me arrumar para o trabalho, tenho certeza de que sair cedo de casa vai ser a melhor decisão que eu já tomei em toda a minha vida, já que não moro tão perto do trabalho como antigamente e tenho que pegar um ônibus para chegar lá. Preciso voltar a ter uma rotina, principalmente de treino, treinar me deixa relaxado, sem falar na possibilidade de conhecer gente nova. Aham! Ah não! Desde que vim para cá me recusei veemente a pensar nele, nem sequer quero me lembrar. Fecho os olhos por um momento. Limpo minha mente e continuo na janela, sentindo a brisa no rosto. Cheiro de mar. – Sorrio. –Essa é a vantagem de morar aqui. O apartamento que a empresa arrumou para mim não é nada mal, quase de frente para a praia, em uma rua tranquila. É pequeno, mas bem arrumadinho. Todo pintado de branco e piso de tacos de madeira, o centro dele é uma sala-cozinha com uma TV, um sofá e uma mesa de jantar de vidro com quatro cadeiras de madeira. Possui também duas pequenas suítes, uma estou usando e a outra está vaga, mas está mobiliada – cortesia da P&V Engenharia. A cozinha tem um chão em porcelanato branco e pastilhas pretas na parede, mede uns dez metros quadrados e tem uma pequena área de serviço ao lado. Deu para colocar minha geladeira branca, uma máquina de lavar e o fogão, tudo bem compacto para caber um armário duas portas. O fato é que eu me sinto bem aqui, estou realmente tentando começar do zero. Da minha antiga vida só trouxe a minha mãe e a Carla. Ah, e o David, mas ele mora aqui, o que já me ajuda bastante. Desperto do meu devaneio com o som de notificação do meu celular. Pego meu novo iPhone e verifico, é a minha mãe.

"Bom dia, filho!" – Recebida às 06:12

"Bom dia, mãe!" – Enviada às 06:12

"Uau, já acordado a essa hora?" – Recebida às 06:12

"Sim senhora, Verinha. :) Me arrumando para o trabalho" – Enviada às 06:13

"Então vou deixar você se arrumar. Só passei para te desejar um ótimo dia! s2" – Recebida às 06:13

"Obrigado mãe, se cuida! s2" – Enviada às 06:13

Jogo o celular na cama com cuidado e entro no banheiro da minha pequena suíte. Abro a água quente e fico debaixo por um breve minuto até que decido tomar um banho rápido e ir para o trabalho. Quanto mais cedo sair de casa, menos atrasado vai chegar, o trânsito aqui não é nada fácil. Lembro da dica que David me deu nos primeiros dias. Ele mesmo acorda todos os dias muito cedo – quando dorme. –Bufo. – Até o David, que faz residência em um hospital, tem tempo de ir para a academia e eu não. Só fico no meio de obras intermináveis de estádios olímpicos. Sair da zona de conforto é realmente uma coisa aterrorizante. Você dá conta, P.O! Você dá conta! Pego o celular.

"Bom dia, Doc! Já está na área?" – Enviada às 06:44

Envio a mensagem para o David e continuo me arrumando. Coloco uma calça jeans e minha camisa azul claro e já penso no calor que vou sentir. Cidade Maravilhosa, mas que calor é esse meu Deus? Tudo bem que o clima de Juiz de Fora não é lá o melhor, chegando a representar pelo menos três estações do ano em um mesmo dia, mas calor exagerado assim já é sacanagem. Chega uma notificação e eu pego o celular para ler. É o David.

"Bom dia, P.O. Dormiu bem?" – Recebida às 06:47

"Dormi sim, Doutor. E você?" – Enviada às 06:48

"Nadica de nada. Estou indo para a casa agora. Ontem foi o meu plantão." – Recebida às 06:48

"Vai valer a pena. Daqui a pouco você está podre de rico. Vai ver!" – Enviada às 06:48

"Deus te ouça, P.O! E você, hein? Acordando cedo assim? Daqui a pouco vamos estar podres de ricos juntos, frequentando o Clube dos 50... hahaha" – Recebida às 06:48

"Espero ainda ter saúde para isso. Quero voltar para a academia logo! :(" – Enviada às 06:49

"Eu cuido de você se ficar doente. Mas já podia ter arranjado um jeito de ir treinar né? Ainda não se acostumou com a rotina aqui?" – Recebida às 06:49

"Ainda não consegui largar o trabalho por uma horinha para me concentrar. Mas prometo que essa semana eu começo!" – Enviada às 06:50

"Bom garoto! Precisamos nos encontrar e colocar o papo em dia." – Recebida às 06:50

"Pois é, vamos tentar assim que o Sr. Doutor-Cheio-de-Plantões tiver um tempo livre pra mim." – Enviada às 06:50

"Semana que vem sem falta. Pode ser?"– Recebida às 06:51

"Fechado!" – Enviada às 06:51

"Então tá, vamos combinar ao certo. Agora preciso dormir. Boa semana amigo!" – Recebida às 06:52

"Boa semana para você também, Doc!" – Enviada às 06:52

Acabo de me arrumar com um pulo. Passo a mão no cabelo castanho e liso caindo nos meus olhos e vou para a cozinha tomar um café rápido quando dou de cara com a Lucy e tomo um susto.

– Bom dia, Sr. Pedro! – Ela diz sorridente, lavando umas louças. – Fiz um café delicioso para você, posso servir?

– Bom dia, Lucinha! Sim, por favor! Já me sinto atrasado e não é nem sete da manhã.

Lucinha me serve o café com um bolo de milho maravilhoso. Ela me mima demais, como ambos somos do interior ela sabe o que me agrada. A propósito, nunca pensei que ter uma ajudante em casa fosse tão bom, por sorte o salário que me pagam aqui dá para pagar pelos serviços dela. Bom, serviços e sua amizade, que é o bônus de tê-la por aqui, ela é uma pessoa supersimples e leve de se ter por perto, fora que me dá altas dicas e conselhos. O celular dela toca uma música sertaneja alta e ela sai para a área de serviço para atender, deve ser a sua filha Maria. Ela sempre liga para Lucinha para perguntar qualquer coisa ou reclamar do comportamento dos seus irmãos. Lucinha parece ter uns quarenta anos, pele morena e cabelo preto liso sempre amarrado em um rabo de cavalo perfeito. Está sempre sorrindo e animada cantando, fala sempre baixinho e com uma educação de dar inveja. Já adotei ela como a minha segunda mãe, minha mãe do Rio.

Tomo meu café rápido, me sentindo atrasado. Olhopara meu relógio de pulso e já são sete e seis da manhã. Me apresso ao escovaros dentes enquanto me olho no espelho – que ocupa quase a parede toda dobanheiro, que confesso ter achado exagerado – encarando meus olhos escuroscheios de preocupação pelo trânsito pesado que vou enfrentar daqui a pouco.Desde que vim para o Rio meus olhos estão mais carregados do que nunca e euestou um pouco mais magro já que não estou indo para a academia. Me sintomurcho e desanimado com todo esse trabalho pesado e o estresse da cidadegrande. Me agarro na esperança de que Carla venha logo e me passe um pouco dasua boa energia. Respiro fundo. Pego minhas coisas rápido pela mesa e saio, medespedindo de Lucinha quando passo pela cozinha. Prefiro descer de escada.Aliás, não consigo usar o elevador do prédio. No fundo eu tenho medo da minhaconsulta diária mental me lembrar de um passado não tão distante assim. Umflash de memória se apodera dos meus pensamentos. Isso não é um adeus.Balanço a cabeça, tentando afastá-lo. Talvez se eu me esquecer de tudo, euconsiga começar uma vida totalmente nova aqui. Meu coração se aperta no peito ea promessa martela na minha cabeça. Eu ainda quero escutar dos seus lábios...

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora