Capítulo trinta e cinco

2.3K 273 20
                                        


Fico parado com o celular na mão esperando que alguém me ligue, mas nada acontece. Respiro fundo e tento manter a calma. Da última vez que liguei para minha prima ela disse que estava tudo bem, que foi só um susto, mas não consigo parar de pensar em como minha mãe está. Ir para o hospital de uma maneira tão súbita só me faz pensar que não foi coisa tão simples assim.

Assim que recebi a ligação no trabalho só tive tempo de avisar ao meu chefe o que tinha acontecido e sair correndo para algum lugar em busca de alguma ajuda. Primeiro, pensei em ligar para a Carla, mas seria muito oportunismo. Depois, a única pessoa que me veio na cabeça foi Henri. Não queria abusar da nossa relação, mas o desespero tomou conta de mim. Ele me atendeu todo bem humorado, mas logo percebeu que eu estava aflito. Contei a ele que minha mãe tinha ido para a emergência por causa de dores horríveis na barriga.

Henri, com toda a sua calma, tentou me tranquilizar, sem sucesso. A única coisa que eu queria naquele momento era pegar um vôo para minha casa, independente do valor da passagem, e ir ver minha mãe. Parte de mim estava se corroendo de remorso por negligenciar minha relação com a única pessoa no mundo que me ama mais que tudo. Às vezes fico tão desligado de tudo que me esqueço de dar as caras e ligar para ela ou mandar uma mensagem de bom dia. Sempre coloco a culpa na rotina da cidade grande, mas a verdade é que eu sou muito desapegado.

No final das contas, Henri se ofereceu para me levar – de alguma forma – e me disse que era para encontrá-lo no endereço onde estou neste momento. Cheguei há mais ou menos uma hora e nenhum sinal dele ainda. Me sinto com um nó na garganta sabendo que ele pode ter brigado com seu tio por minha causa. Henri tem o seu emprego com seu tio e sair assim de uma hora para outra, pode lhe causar problemas. No meu caso foi fácil, já que eu havia terminado todo o trabalho da semana, mas não sei como é a vida profissional dele. Vou me desculpar com ele assim que souber que está tudo certo com a minha mãezinha.

Uma mão toca o meu ombro, me fazendo dar um sobressalto. Olho para trás e ele está com uma expressão séria no rosto. Seus olhos encontram os meus, cheio de preocupação. Sinto vontade de abraçá-lo, mas me contenho. Estamos em público, em um lugar onde eu não conheço ninguém. Se aqui for território do seu tio, então é melhor não fazer nada para comprometê-lo.

– Tudo bem? – Ele pergunta.

– Tudo. – Respondo, automaticamente, mesmo não sendo verdade.

– Recebeu mais alguma notícia?

– Minha prima me ligou e me disse que tinha sido só um susto, mas ela ainda está no hospital. – Deixo os ombros caírem – Não acho que tenha sido só um susto ir parar no hospital de uma hora para outra.

– Vai dar tudo certo, Pedro. – Ele apoia sua mão no meu ombro. – Vamos? – Ele aponta para a porta giratória do prédio todo de vidro atrás dele.

Fico confuso, mas resolvo seguí-lo para dentro do prédio, sem dizer nada. Minha cabeça está uma bagunça. Prefiro confiar nele para que tudo dê certo ao invés de estragar falando besteira. Além do mais, me sinto um pouco menos nervoso com sua presença reconfortante.

Entramos em um elevador todo de metal e vidro e ele aperta o último botão. Quando a porta se fecha eu tento ficar um pouco mais calmo, puxando conversa.

– Você está diferente. – Digo casualmente.

Ele me olha de lado, virando apenas um pouco a cabeça.

– Diferente como? – Seu tom é neutro.

– Até hoje de manhã, você estava de barba e brinco na orelha... E agora está de rosto limpo e impecável de novo. Por que a mudança repentina?

Ele fica um tempo sem falar nada, enquanto o elevador sobe. Acabo ficando calado. Henri não parece estar com vontade de conversar.

– Aquilo era só para irritar meu tio. Não faz muito o meu estilo.

Hummmm... – Não sei o que responder. Ele estava bonito de barba e o brinco dá um toque meio bad boy, mas confesso que prefiro ele assim sem barba e sem brinco.

– Não gostou? – Ele se vira um pouco mais para o meu lado.

– Gostei. Prefiro você assim.

Penso no que acabei de dizer. Pigarreio para disfarçar meu desconserto.

– Não que estivesse feio nem nada disso, mas assim está melhor.

Ele ri. Fico surpreso em como Henri pode mudar o seu humor tão rápido.

– Você é engraçado, Pedro. – Ele dá mais uma risada.

Fico vermelho. O elevador para e a porta se abre. Seguimos por um corredor com o teto e piso brancos e as paredes de vidro. Henri abre uma porta para que eu passe e a fecha atrás de nós. Ele aperta um botão para que outra porta de metal branca se destranque. Eu a abro e um vento forte bate no meu rosto, atrapalhando meu cabelo e me deixando sem fôlego.

Fico boquiaberto com o que vejo à minha frente. Um helicóptero gigante. Eu nunca vi uma coisa dessas de perto em toda a minha vida. Ele é de uma cor escura com um desenho engraçado na porta e um brilho quase cegante. Fico admirado, olhando toda a estrutura metálica da máquina à minha frente. É tão novo e tem uma aparência tão poderosa que parece nunca ter sido usado.

– Gostou? – Ele se aproxima de mim por trás.

Me viro e encontro um Henri todo feliz e empolgado, esperando que eu responda.

– Se... eu gostei... – pigarreio – disso? – Aponto para trás. – Henri isso é insano!

– Vou te levar para casa nessa belezinha. – Ele esfrega as mãos, claramente empolgado. – Está pronto?

– Você sabe dirigir isso? – Arregalo os olhos.

Ele me olha com desdém.

– O que é um simples helicóptero perto dos aviões que eu "dirijo"?!

– Ta bom, não está mais aqui quem falou. – Levanto os braços.

– Só uma coisa. – Ele levanta um dedo. – Você vive me chamando de piloto. Tá ligado que agora você vai ser meu Copiloto, né?

– Eu?! Mas eu não sei fazer nada...

Ele ri. E me dá um soco devagar no ombro.

– Não precisa fazer nada... Ser o meu copiloto já é o suficiente. – Ele pisca para mim.

Fico parado sem reação observando enquanto Henri passa por mim, todo cheio de si. Entra na máquina voadora parada à nossa frente e aperta alguns botões. Em poucos segundos as hélices começam a girar e ele volta para me buscar.

– Vamos? – Ele estende uma mão para mim.

– Vamos... Digo com a máxima segurança que consigo juntar.

Nós entramos no helicóptero. Henri prende um cinto de segurança complicado em volta de mim e me dá um fone de ouvido esquisito. Sinto uma mistura de adrenalina e medo com o que vamos fazer. As lembranças do nosso salto de paraquedas passam em forma de flashes na minha cabeça. Henri termina de me arrumar e fecha a porta do meu lado. Sinto um frio na barriga quando ele entra e olha para mim com uma expressão de alegria. Quase consigo ler a sua mente através do seu olhar. Sua boca não se move, mas seus olhos transmitem com clareza a palavra que ele está pensando: Copiloto.    

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora