Capítulo 30

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30. Capítulo 30

Hermione Malfoy

Abriu os olhos, preguiçosamente, piscando para poder ajustá-los à fina claridade que passava pelas cortinas. Estava começando a amanhecer mais cedo. Ela adorava os sinais da primavera. Debaixo das cobertas, conseguia sentir o calor do corpo de Draco muito próximo ao seu. A respiração pesada de seu sono era constante e quase próxima demais de seu ouvido. Virou-se para encará-lo e, por um minuto, esqueceu-se dos últimos dias. Observou sua bonita expressão relaxada.

Draco pareceria um garoto ali, se não fosse pela barba apontando por toda sua mandíbula. Seu rosto meio enterrado no travesseiro e sua respiração ritmada. Hermione sorriu e quase estendeu a mão para tocar seu rosto como teria feito em qualquer outro dia. Ele tinha o sono extremamente leve, e então, acordaria. Hermione usaria sua voz, quase inaudível e rouca da manhã, para dizer que ele iria se atrasar. Draco iria sorrir rapidamente, como sempre fazia ainda sonolento, moveria tentando se espreguiçar, e então, levantaria para tomar o rumo do lavatório. Ela não se atrasaria tanto, levantaria também, se juntando a ele no chuveiro.

Aquela seria uma manhã qualquer para eles, se mais ou menos, há uma semana, Draco não tivesse simplesmente, mudado sua forma de agir, como se alguém tivesse apertado algum botão em seu cérebro e trocado por inteiro seu comportamento para com ela. Hermione soltou o ar com calma e virou-se novamente para tê-lo longe de sua visão. Acordava todos os dias, desde então, se sentindo uma idiota. Uma idiota porque não sabia como conseguia se sentir, inteiramente despedaçada, quando na verdade, sabia que deveria ser completamente indiferente. Estava decepcionada consigo mesma por ter se deixado enganar por algo que Draco Malfoy não era. Mal podia acreditar que ele a fizera esquecer que não era exclusiva, que ao mesmo tempo que a tinha, também tinha outras. Ela não conseguia entender como sua própria mente bloqueara essa parte, a parte que havia concordado consigo mesma, de que não era única e que devia ser indiferente a isso, que não deveria se importar porque simplesmente não queria, nem precisava ser exclusiva. Quando isso havia mudado?

Lembrava-se perfeitamente do momento, em que Draco havia aberto a boca para lhe contar sobre ter feito sexo com Parkinson, como se estivesse contando sobre algum problema em seu departamento do qual tivera que enfrentar no dia. Havia sido quase um soco em seu estômago e conter qualquer reação fora um trabalho árduo, mas bem sucedido, embora, rapidamente, sua frieza tivesse atraído-os para uma discussão. Hermione se sentia traída. Não deveria, mas se sentia, e o lembrete fora claro o suficiente para que ela recordasse sobre o acordo silencioso que os dois tinham desde que haviam se casado: eram livres. Não se amavam, não se queriam e não tinham direitos um sobre o outro, independente do que haviam passado, independente do que passariam.

Virou para o outro lado, fechou os olhos e tentou se deslocar para algum lugar vazio dentro de sua própria cabeça. Lugar este, em que não se sentisse uma idiota. Não demorou a cair num cochilo, que pareceu uma simples piscada. Quando tornou a abrir os olhos, escutou o barulho distante do chuveiro ligado e o calor do corpo de Draco ao seu lado já não existia mais. Hermione se sentia estranha, dessa vez. Sabia bem que estava enjoada e que isso duraria a manhã inteira. Tinha que levantar para comer algo antes que sua situação piorasse, mas seu corpo estava mole. Sentia que poderia dormir por mais umas doze horas, no mínimo.

Sentou-se, colocou os pés para fora da cama e cobriu o rosto para esfregar os olhos. O som do chuveiro cessou e ela tentou não se concentrar na constante ânsia, que lhe subia repetidas vezes. Quando se levantou, vestiu seu robe e abriu as cortinas para poder observar o dia começar do lado de fora. A neve estava derretida e Hermione mal podia esperar pelo verde vivo da grama novamente, ao menos aquilo, ela poderia usar de consolo. Sentiu-se tentada a abrir as portas da varanda para poder respirar um pouco do ar puro do lado de fora, mas sabia que se sentiria decepcionada, por sentir o ar ainda um tanto gelado, quando em qualquer outro lugar, longe da vista de Dementadores, ele seria fresco e renovador. Desceu direto para a sala de jantar que, estava milimetricamente arrumada, com o café da manhã. Não se sentou, pois sabia que se tivesse que fugir dali, se levantar seria uma barreira a menos a enfrentar. Então, apenas empurrou sua cadeira e lutou um tempo contra a vontade de correr dali, para depois se engajar, na difícil decisão, de algo que fosse menos apelativo para seu paladar. Acabou por pegar algumas torradas e tentou empurrá-las garganta abaixo, enquanto abria o Diário do Imperador sobre a mesa.

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